Ribeirão Preto, Domingo, 21 de Março de 2010

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Órfãos de bingo viajam 158 km para jogar

Jogadores deixam Ribeirão Preto para tentar a sorte em casa que funciona amparada por liminar judicial em Rio Claro

"Bingueiras", que gastam entre R$ 100 e R$ 200 por sábado, dizem conhecer "amigos" que perderam dinheiro em bingos

Edson Silva/Folha Imagem
Grupo que viajou 4 h (ida e volta) até Rio Claro, para frequentar bingo que opera com liminar

VERIDIANA RIBEIRO
ENVIADA ESPECIAL A RIO CLARO

A proibição dos bingos no país, em 2004, não manteve a cuidadora de idosos Zumira Cordeiro da Silva, 68, afastada das cartelas. "Bingueira", como ela diz, há 15 anos, Silva organiza rodadas em casa com as amigas e há dois meses comanda excursões semanais para Rio Claro, a 158 km de Ribeirão Preto, onde um bingo funciona desde dezembro do ano passado com autorização judicial.
O grupo, acompanhado pela Folha no último dia 13, não se importa de passar quatro horas de um sábado na estrada para ficar das 15h à 0h, com intervalos para um lanche no shopping, vendo as bolinhas numeradas aparecerem nas telas das TVs. "Quem vai, é porque gosta", afirma Silva.
Durante a viagem, as "bingueiras" comentam com a reportagem sobre suas experiências com o jogo. Somente uma das mulheres, que pediu anonimato, admite ter perdido "bem mais do que ganhado". O restante conta que joga pouco -entre R$ 100 e R$ 200 por sábado- e por lazer.
Apesar disso, todas têm histórias de "amigos", "conhecidos" ou "parentes" que perderam muito em bingos.
"Eu tenho uma amiga que perdeu três carros e uma casa com o bingo", conta a aposentada Shirley Pinelli, 72.
Fã de BBB e de literatura espírita, ela reclama da falta de opções de lazer para pessoas de sua idade, opinião compartilhada pelo único homem da excursão, Adair da Silva, 70. "Eu não sou de Pinguim [choperia]. Vou fazer o quê? Morrer de tédio em casa?", questionou.
A experiência de "adrenalina" que o grupo busca começa às 14h50, 10 minutos antes de o bingo abrir as portas. Nesse horário, já há uma fila com cerca de 60 pessoas esperando o relógio marcar 15h. Menos de uma hora depois da abertura, 200 apostadores estão na casa.
Sentada em uma das mesas, a equipe da Folha compra cartelas e, apesar de não ter se identificado aos funcionários, é "dedurada" e passa a ser "observada" de perto.
Sem dizer o que pretende, uma funcionária chega a acompanhar a repórter até o banheiro. Depois, três seguranças perguntam sobre a presença da reportagem ao motorista que levou os jogadores e à organizadora da viagem.
Um funcionário que se identifica apenas como Cláudio é apontado por jogadores como gerente. Abordado, ele proíbe fotos, anotações e se recusa a dar entrevista. Questionado, ele afirmou somente que o bingo funciona legalmente, amparado por uma sentença judicial.
Duas horas depois da chegada, a reportagem deixa o local sem ganhar prêmios e com R$ 60 a menos no bolso.


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