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Apreensão de frutas "reforça" a merenda
Cerco aos ambulantes no calçadão rendeu 9,8 toneladas de frutas desde julho, que foram doadas para creches, asilos e outros
Fiscalização Geral de Ribeirão "limpa" calçadão, mas enfrenta acusações de agressão e hostilidade
de camelôs e população
Márcia Ribeiro/Folha Imagem
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Frutas à venda na av. Dom Pedro, uma via alternativa usada pelos ambulantes diante do cerco da fiscalização no centro de Ribeirão
JEAN DE SOUZA
DA FOLHA RIBEIRÃO
O cerco aos ambulantes do
centro de Ribeirão Preto promovido pela Fiscalização Geral
da Prefeitura na última semana, com o apoio da Guarda Civil
e da Polícia Militar, tornou o
calçadão mais livre para os pedestres e alegrou os comerciantes do local, mas pode deixar
mais pobre as refeições de creches, asilos e outras entidades
sociais do município.
Somente entre o meio de de
julho e o final de agosto, quando a fiscalização se intensificou, nove toneladas de frutas
foram apreendidas e destinadas ao Banco de Alimentos da
prefeitura. Nas duas últimas
semanas, foram pelo menos
mais 800 quilos de morangos,
goiabas e jabuticabas, entre outras frutas.
O Banco de Alimentos distribui as frutas para as 139 entidades aptas a receberem doações.
Além das frutas, outros produtos que fazem parte do espólio
recolhido dos ambulantes também podem ter como destino
obras sociais.
Foram os casos, por exemplo,
de 47 camisas de futebol, 72
toucas e bonés de lã, 74 luvas,
97 carteiras e 77 cintos, entre
outros produtos recolhidos no
calçadão. Todos os produtos foram enviados no final de agosto
para o Fundo Social de Solidariedade, que os redistribui em
suas campanhas.
A satisfação dos atendidos
com as doações contrasta com
a indignação dos fiscalizados.
Um vendedor de jabuticabas de
28 anos que se identifica apenas como João disse que a carriola carregada de frutas era a
única forma encontrada por ele
para ganhar dinheiro. Com
mais de dez apreensões de produtos no currículo, o ambulante disse que tem um prejuízo de
R$ 50 cada vez que sua carriola
é levada pelo "rapa" -nome popular dado aos fiscais.
É uma relação tensa: nos arquivos da Fiscalização Geral,
desde 2007, há o registro de pelo menos 60 boletins de ocorrência feitos por fiscais que
teriam sido agredidos pelos
ambulantes.
"Tem fiscal que nunca mais
pisa no calçadão porque tem
trauma, não consegue voltar ao
trabalho", disse o chefe da fiscalização, José Augusto Camargo da Cruz.
As acusações de agressão
também são frequentes do outro lado. Ambulantes ouvidos
pela Folha que não quiseram
se identificar dizem que a abordagem dos fiscais é muito truculenta, principalmente quando estão acompanhados por
policiais militares.
A permanência dos ambulantes no calçadão é ilegal, mas
a retirada deles ainda causa polêmica. Segundo o ex-diretor
da Fiscalização Geral João
Sahd -afastado da função no
início da semana passada-,
parte da população apoia os
ambulantes e se volta contra os
fiscais durante as blitze.
A legislação municipal sobre
o assunto diz que nenhum ambulante pode vender seus produtos no quadrilátero central
da cidade, que inclui o entorno
da praça 15. Nos demais locais,
o comércio ambulante é permitido desde que os vendedores
estejam em movimento, ou seja, não montem pontos fixos de
vendas.
Nenhum desses quesitos, no
entanto, é cumprido, segundo
Sahd. Para ele, a questão dos
ambulantes "é um problema
social, difícil de resolver".
Na última quinta, a prefeita
Dárcy Vera se reuniu com alguns ambulantes e se comprometeu a encontrar um local para eles trabalharem. Ela disse
que pretende buscar exemplos
de centros populares de compras, mas não deu detalhes.
Nas ruas, o jogo de gato e rato
continua. Na última semana,
de acordo com Cruz, a fiscalização cumpriu seu objetivo de
deixar o calçadão livre dos ambulantes. Facilitou a missão a
apreensão, na Vila Tibério, de
um caminhão que abastece os
vendedores ambulantes de
goiabas e jabuticabas. Mesmo
no sábado, o calçadão estava
sem camelôs.
De acordo com Cruz, a operação no calçadão vai continuar nos próximos meses e se
estender para outros pontos.
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