Ribeirão Preto, Segunda-feira, 21 de Setembro de 2009

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Apreensão de frutas "reforça" a merenda

Cerco aos ambulantes no calçadão rendeu 9,8 toneladas de frutas desde julho, que foram doadas para creches, asilos e outros

Fiscalização Geral de Ribeirão "limpa" calçadão, mas enfrenta acusações de agressão e hostilidade de camelôs e população

Márcia Ribeiro/Folha Imagem
Frutas à venda na av. Dom Pedro, uma via alternativa usada pelos ambulantes diante do cerco da fiscalização no centro de Ribeirão

JEAN DE SOUZA
DA FOLHA RIBEIRÃO

O cerco aos ambulantes do centro de Ribeirão Preto promovido pela Fiscalização Geral da Prefeitura na última semana, com o apoio da Guarda Civil e da Polícia Militar, tornou o calçadão mais livre para os pedestres e alegrou os comerciantes do local, mas pode deixar mais pobre as refeições de creches, asilos e outras entidades sociais do município.
Somente entre o meio de de julho e o final de agosto, quando a fiscalização se intensificou, nove toneladas de frutas foram apreendidas e destinadas ao Banco de Alimentos da prefeitura. Nas duas últimas semanas, foram pelo menos mais 800 quilos de morangos, goiabas e jabuticabas, entre outras frutas.
O Banco de Alimentos distribui as frutas para as 139 entidades aptas a receberem doações. Além das frutas, outros produtos que fazem parte do espólio recolhido dos ambulantes também podem ter como destino obras sociais.
Foram os casos, por exemplo, de 47 camisas de futebol, 72 toucas e bonés de lã, 74 luvas, 97 carteiras e 77 cintos, entre outros produtos recolhidos no calçadão. Todos os produtos foram enviados no final de agosto para o Fundo Social de Solidariedade, que os redistribui em suas campanhas.
A satisfação dos atendidos com as doações contrasta com a indignação dos fiscalizados. Um vendedor de jabuticabas de 28 anos que se identifica apenas como João disse que a carriola carregada de frutas era a única forma encontrada por ele para ganhar dinheiro. Com mais de dez apreensões de produtos no currículo, o ambulante disse que tem um prejuízo de R$ 50 cada vez que sua carriola é levada pelo "rapa" -nome popular dado aos fiscais.
É uma relação tensa: nos arquivos da Fiscalização Geral, desde 2007, há o registro de pelo menos 60 boletins de ocorrência feitos por fiscais que teriam sido agredidos pelos ambulantes.
"Tem fiscal que nunca mais pisa no calçadão porque tem trauma, não consegue voltar ao trabalho", disse o chefe da fiscalização, José Augusto Camargo da Cruz.
As acusações de agressão também são frequentes do outro lado. Ambulantes ouvidos pela Folha que não quiseram se identificar dizem que a abordagem dos fiscais é muito truculenta, principalmente quando estão acompanhados por policiais militares.
A permanência dos ambulantes no calçadão é ilegal, mas a retirada deles ainda causa polêmica. Segundo o ex-diretor da Fiscalização Geral João Sahd -afastado da função no início da semana passada-, parte da população apoia os ambulantes e se volta contra os fiscais durante as blitze.
A legislação municipal sobre o assunto diz que nenhum ambulante pode vender seus produtos no quadrilátero central da cidade, que inclui o entorno da praça 15. Nos demais locais, o comércio ambulante é permitido desde que os vendedores estejam em movimento, ou seja, não montem pontos fixos de vendas.
Nenhum desses quesitos, no entanto, é cumprido, segundo Sahd. Para ele, a questão dos ambulantes "é um problema social, difícil de resolver".
Na última quinta, a prefeita Dárcy Vera se reuniu com alguns ambulantes e se comprometeu a encontrar um local para eles trabalharem. Ela disse que pretende buscar exemplos de centros populares de compras, mas não deu detalhes.
Nas ruas, o jogo de gato e rato continua. Na última semana, de acordo com Cruz, a fiscalização cumpriu seu objetivo de deixar o calçadão livre dos ambulantes. Facilitou a missão a apreensão, na Vila Tibério, de um caminhão que abastece os vendedores ambulantes de goiabas e jabuticabas. Mesmo no sábado, o calçadão estava sem camelôs.
De acordo com Cruz, a operação no calçadão vai continuar nos próximos meses e se estender para outros pontos.


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