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Crise muda perfil de exportação de suco
Em janeiro, pela 1ª vez o suco natural ficou à frente das exportações do concentrado em Araraquara
ROBERTO MADUREIRA
DA FOLHA RIBEIRÃO
Levada pela mudança de
comportamento do mercado
europeu, principalmente, mas
incentivada também pelos efeitos da crise econômica mundial, a indústria do suco de laranja em Araraquara, Matão e
Bebedouro mudou seu perfil de
comércio com o exterior.
Aos poucos, a venda do produto natural, com adição de
água e com menos componentes artificiais, começa a substituir o suco concentrado, que é
misturado a outros produtos
nos países de origem. Segundo
especialistas, a troca é gradual,
mas pode ter sido acelerada nos
últimos meses pela crise.
"É a tendência dos últimos
tempos para tentar controlar
uma queda de demanda pelo
produto brasileiro, acentuada
pela crise, mas que já vinha
acontecendo", disse o diretor
regional do Ciesp (Centro das
Indústrias do Estado de São
Paulo) em Araraquara, Airton
Luís Bertochi.
A evolução da exportação do
suco natural é registrada desde
2005, segundo os dados de exportação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Porém, começou a tomar espaço do suco
concentrado em 2008.
De 2007 para 2008, no acumulado do ano, a exportação do
suco não concentrado cresceu
de US$ 220 milhões para US$
286 milhões -em 2005 o faturamento foi US$ 111 milhões-,
somadas as três principais cidades exportadoras.
Apesar de ainda dominar em
números absolutos, a movimentação pela comercialização
com o exterior do produto mais
artificial caiu de US$ 1 bilhão
para US$ 888 milhões.
Em janeiro deste ano, pela
primeira vez o produto natural
ficou à frente das exportações
em Araraquara, sede da Cutrale, maior produtora do mundo.
Foram negociados US$ 21,4
milhões contra US$ 20,5 milhões no mesmo mês em 2008.
Já o concentrado, que rendeu venda de US$ 23,7 milhões
em janeiro de 2008, caiu para
apenas US$ 7,5 milhões no mês
passado, uma baixa de 68%.
"Dois fatores levam à substituição, que ganha força agora.
Primeiro, o consumidor passou
a preferir o produto natural.
Segundo, as margens de lucro
são maiores. A única desvantagem é que o custo logístico é
mais alto", disse Marcos Fava
Neves, professor de estratégia
da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de
Ribeirão Preto, da USP.
De acordo com Flávio Viegas,
presidente da Associtrus (Associação dos Citricultores do Estado de São Paulo), o suco natural é vendido mais caro na Europa e nos EUA, principais importadores do suco brasileiro.
Ele disse acreditar que, se a crise persistir, pode começar a interromper a tendência de alta
do suco natural.
"É um produto mais caro e
podemos começar a ver a volta
da procura pelos mais baratos."
Segundo ele, a tendência pode
ser boa para produtores da região, que nos últimos anos perdeu espaço para as regiões sul e
central do Estado.
A Folha procurou as empresas Cutrale, Citrosuco, Citrovita e Coinbra para comentar a
tendência, mas todas informaram que não comentariam suas
estratégias de mercado.
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