Ribeirão Preto, Domingo, 23 de maio de 1999

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GUERRA DOS MENINOS 2
Delegados, promotores e familiares de vítimas apontam causas diferentes para explosão de mortes
Motivos de crimes geram divergências

da Folha Ribeirão

Representantes da polícia e envolvidos com a questão da infância em Ribeirão Preto consideram que existe uma explosão de homicídios de adolescentes, mas divergem sobre os motivos do alto índice de garotos mortos.
Para o delegado do setor de homicídios da DIG (Delegacia de Investigações Gerais) Samuel Zanferdini, a principal causa do aumento das mortes de adolescentes é o envolvimento dos jovens com o tráfico de drogas.
"As drogas são o motivo da inserção dos adolescentes no crime, primeiro como consumidores, depois como membros do tráfico. A partir daí é que começam as mortes", disse Zanferdini.
Para o delegado da DIG, a questão dos adolescentes deve ser observada não apenas sob o ponto de vista das vítimas, mas também dos homicidas.
De acordo com o levantamento da DIG, das 52 mortes violentas com autoria conhecida em Ribeirão Preto este ano, 23 (44,23%) foram executadas por jovens.
"Muitas vezes, eles acabam assumindo a autoria dos crimes executados por maiores de 18 anos para se beneficiarem da legislação. Mas tudo isso é gerado por problemas sociais, como o desemprego", disse o delegado.
O promotor da Infância e Juventude de Ribeirão Preto, Luiz Henrique Pacini Costa, disse acreditar que a questão da violência é mais ampla do que somente a relação com o tráfico de drogas.
"O tráfico é apenas uma das faces. A grande questão é que os adolescentes, sejam de qualquer classe social, são mais arrogantes e têm menos medo. Com isso, acabam desafiando mais a lei", disse.
Ele também acredita que a criminalidade está diretamente relacionada a uma questão cultural.
"Os adolescentes que partem para a criminalidade na maioria das vezes possuem sonhos de consumo, mas não conseguem ter acesso. Não são os miseráveis, pois esses não têm ambições, mas os pertencentes à classe média baixa", avaliou o promotor.
Para o radialista Roberto Moreira da Silva, 40, cujo filho F.P.M.S., 15, foi morto em uma quermesse, o problema da criminalidade adolescente não é causado apenas pela falta de policiamento.
"Meu filho morreu com um carro da polícia do lado, com quatro PMs tentando achar o culpado. A criminalidade é muito mais ampla, tem a ver com a criação dos garotos e com falta de estrutura do Estado", disse o pai do jovem.
A dona-de-casa Ana Silvia Marques dos Reis, 29, cujo irmão D.A.M., 15, foi morto em frente à porta de entrada de sua casa, disse que é difícil garantir segurança para os adolescentes.
"Meu irmão saia de casa e não sabia com quem ele estava lidando. Foi isso que o matou", disse.



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