Ribeirão Preto, Domingo, 23 de maio de 1999

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RECUPERAÇÃO Falta de estrutura e fuga condenam Febem

da Folha Ribeirão

A falta de estrutura e os problemas gerados por duas grandes fugas e duas rebeliões estão demonstrando que a Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor) de Ribeirão Preto se tornou ineficaz na sua função primordial, a recuperação de adolescentes.
Há uma semana, a Justiça e o Ministério Público, em conjunto com a direção da instituição, tiveram de liberar 70 adolescentes para evitar que a unidade sofresse uma grande depredação ou até mesmo uma fuga em massa.
Dos 40 adolescentes de Ribeirão Preto que tiveram suas saídas antecipadas, dois foram detidos novamente na última quarta-feira.
Apesar de a liberação ter proporcionado uma diminuição no número de garotos atendidos (de 194 para 104), os problemas de atendimento aos jovens continuam.
O Projeto Amanhã, implantado na unidade em 1996 e que buscou apoio da iniciativa privada para a construção de oficinas e a realização de outros atendimentos, foi esvaziado pelo próprio excesso de adolescentes e pela falta de funcionários capacitados.
Ao mesmo tempo, existem no local espaços ociosos, incluindo dez salas de aula totalmente fechadas e uma piscina que não é usada.
Para o juiz da Infância e da Juventude, Paulo César Gentile, é necessário maior investimento do governo do Estado para reformas físicas e a reabertura de oficinas.
"Ao mesmo tempo, precisamos de uma participação maior da comunidade no apoio ao adolescente que sai da Febem, além de um investimento na formação de educadores dentro da unidade."
O promotor da Infância e da Juventude, Luiz Henrique Pacini Costa, acha primordial a construção de uma ala de recepção para adolescentes que entram no local.
"Com isso, haverá menos possibilidade de um garoto que entra ter contato direto com reincidentes ou até mesmo ser agredido."
Na madrugada do dia 15, o adolescente D.R., 17, foi espancado por dois jovens de 18 anos logo após ter entrado na Febem, tendo de ser internado no Hospital das Clínicas.
Já os agressores foram transferidos para a Cadeia Pública de Vila Branca, e o episódio se transformou no estopim da rebelião ocorrida um dia depois, quando uma sala de aula e uma oficina foram totalmente destruídas.
Na opinião da professora de psicologia criminal da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto, Marina Rezende Bazon, existem falhas no atendimento dos adolescentes por parte dos funcionários da Febem.
"Eles acabam apenas controlando os adolescentes, e não educando-os, pois não possuem formação para esse tipo de trabalho. Ao mesmo tempo, ainda persiste a idéia de restrição de liberdade, que é reducionista", disse.
Para o diretor interino da Febem, Pedro Moisés, com a diminuição do número de adolescentes, deverá ocorrer uma melhora no atendimento.
"Também iremos apresentar um projeto de construção de uma ala de recepção, que será a primeira iniciativa para acabar com os problemas. Com o número de adolescentes atendidos em torno de 100 a 120, poderemos trabalhar com mais tranquilidade."



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