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ESCOLA DA VIDA
Escola é esperança de trabalhador rural
Bóias-frias revezam lavoura e faculdade
LUCIANA CAVALINI
enviada especial a Sertãozinho,
Dobrada e Tabatinga
Trabalhadores rurais da região de
Ribeirão Preto conseguem se manter na universidade com o trabalho
na lavoura. Revezando o facão e os
livros, esses bóias-frias sacrificam
noites de sono para tentar mudar o
futuro.
Depois de ficar 12 anos sem estudar, o trabalhador rural Aparecido
do Carmo, 37, começou no semestre passado a cursar ciência da
computação em Ribeirão.
Há 23 anos trabalhando em usinas, ele começa a ter contato pela
primeira vez com noções de inglês
e computação. Casado e com três
filhos, Carmo mora em uma casa
de fundos em Barrinha e recebe
um salário de cerca de R$ 250.
Ele conseguiu uma bolsa de estudos por um convênio feito entre a
usina Santa Elisa, onde trabalha, e
o Centro Universitário Barão de
Mauá, de Ribeirão Preto. A mensalidade do curso é de R$ 458.
"Estar na sala de aula de uma faculdade era um sonho que, mesmo
tarde, estou conseguindo realizar",
afirma o bóia-fria.
O mesmo convênio beneficiou o
trabalhador rural Eurival Silva
Santos, 34, que há três meses cursa
administração de empresas.
Ele mora no alojamento da usina,
em Sertãozinho, e viaja diariamente a Ribeirão. "Acho um pouco sacrificado porque trabalho das 7h às
17h, mas está valendo a pena", diz
(leia textos nesta página).
O trabalhador rural Cícero Quirino da Costa, 29, teve de abandonar o trabalho no corte de cana para conseguir concluir o curso de
história e geografia na Faculdade
São Luiz, de Jaboticabal.
Ele contou com a ajuda de custo
paga pelo Sindicato dos Empregados Rurais de Dobrada, onde trabalha. Já formado, ele começou em
98 a cursar direito na Uniara (Centro Universitário de Araraquara),
mas tem dificuldade para pagar a
mensalidade, de R$ 288.
"Já tive que vender um terreno
no ano passado para conseguir
continuar estudando e vivo uma
ameaça permanente de ter que deixar a faculdade", afirma.
Costa é o quarto filho de uma família de nove irmãos e o único a
concluir um curso superior.
"Meus pais são analfabetos e incentivavam os filhos a estudar.
Mas sempre acharam que o mais
importante era trabalhar."
Laércio Haints também contou
com o salário do Sindicato dos
Empregados Rurais de Tabatinga
para concluir o curso de direito na
Uniara. Desde os 14 anos, ele trabalhou na colheita de laranja.
"Minha sorte é que, todas as vezes que ficou impossível conciliar
trabalho e estudo, meu pai me ajudou a continuar estudando."
Filho único de um descendente
de alemães, ele afirma ter alcançado o grande objetivo da família ao
se formar no início do ano, aos 36.
Antes de cursar direito na Uniara, ele já havia sido aprovado em
três faculdades -entre elas, enfermagem na UFSCar (Universidade
Federal de São Carlos).
Para a socióloga Eliana Dancini,
o número de trabalhadores rurais
que chega a uma faculdade é insignificante. "É uma luta de gigantes.
Mas são casos isolados que não
mostram uma mudança nas relações de trabalho", afirma.
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