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Rádio "estrangeira" avança sobre o dial
Metade das FMs de Ribeirão tem conteúdo produzido fora da cidade; profissionais vêem satelitização como prejudicial
A Melody foi substituída pela Oi FM; a Jovem Pan 2, a Band, a Rede Aleluia, a CBN e a Rádio USP apresentam conteúdo "estrangeiro"
LUCAS REIS
DA FOLHA RIBEIRÃO
"Music in the night... Melody!". A vinheta que ecoou no
rádio ribeirão-pretano durante
décadas está fora do ar há quase
um mês. A Melody FM, do Sistema Clube de Comunicação,
foi substituída pela Oi FM,
mantida pela operadora de celular, que agora ocupada a freqüência 94,1 MHz em uma
agressiva ação de marketing.
A chamada satelitização
-grandes grupos de comunicação que tomam o lugar da programação local- não se restringe ao caso da Melody. Metade das emissoras FM de Ribeirão Preto funciona com conteúdo quase 100% "estrangeiro".
As programações de Oi FM,
Jovem Pan 2, Band, CBN, Rede
Aleluia e Rádio USP vêm, quase
que completamente, de fora,
via satélite. Em algumas delas,
há alguns programas locais esporádicos ao longo da programação, que não são suficientes
para manter uma equipe de
técnicos, locutores e demais
funcionários -principais prejudicados pela satelitização.
"A cidade perdeu com a saída
da Melody, mas ganhou com a
chegada da Oi. São objetivos
mercadológicos que recebem
todas essas inovações. A vida é
assim", disse o empresário José
Ignácio Pizani, diretor-presidente da Clube, que por dois
anos presidiu a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de
Rádio e Televisão).
O fim da Melody motivou
protestos na internet. No Orkut, 78 órfãos formam a comunidade "Quero a Melody FM de
volta", onde lamentam o fim da
emissora. "Ficamos órfãos de
uma programação de bom gosto. Ou você acha que é fácil ficar
ouvindo gritaria, sertanejos,
pagodeiros, funkeiros e afins?",
disse Gustavo Buzolla, 38, criador da comunidade.
A voz doce e romântica de
Vânia Mara, que apresentava o
programa Toque de Amor, ao
meio-dia, ganha tons de tristeza ao lembrar da rádio pela qual
trabalhou nos últimos 20 anos.
"Entrei na Melody com 20
anos, agora vou completar 40.
É um sentimento de profunda
tristeza", disse.
Segundo o Sindicato dos Radialistas de Ribeirão Preto, os
efeitos da satelitização são negativos para a categoria. "É certeza de desempregos e lucro
aos empresários. Uma concessão pública deveria gerar empregos, e não cortar funcionários colocando uma programação pronta", disse Marcos Poska, presidente do sindicato.
Poska trabalha atualmente
no SBT e se diz fruto da invasão
estrangeira: era discotecário na
Rádio Independência, atual Jovem Pan 2. "Essa função foi
praticamente extinta."
A crítica ao processo de satelitização não se limita a ouvintes e radialistas. O Ministério
das Comunicações sinalizou
que não concorda com a prática. Um advogado especializado
em mídia também afirmou à
Folha que repassar a freqüência de uma rádio a terceiros
"soa ilegal". A Oi afirma que não entrou em Ribeirão somente pelo
marketing e que a programação, apesar de "estrangeira", foi
elaborada para se adequar ao
gosto musical da cidade.
"A chegada da Oi FM em Ribeirão não é passageira. Viemos para ficar. A rádio é um
instrumento de marketing,
mas queremos levar uma boa
programação ao ribeirão-pretano", disse José Luis Volpini,
diretor de mídia e conteúdo da
Oi FM. A empresa não revela os
valores do contrato, cujo prazo
inicial é de cinco anos.
Audiência
Coincidência ou não, o fato é
que as emissoras com programação 100% local dominam a
preferência do ouvinte. Segundo a última pesquisa de audiência, divulgada anteontem, Clube, Mega e Conquista, na ordem, são as mais ouvidas de Ribeirão. O resultado mostra reação da Clube, que chegou a figurar na terceira posição no início
do ano. A Oi FM aparece na nona colocação. Na lista anterior,
do primeiro semestre, a Mega e
a Conquista lideravam, e a Clube estava na terceira posição
-a Melody era a sexta.
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