Ribeirão Preto, Domingo, 23 de Novembro de 2008

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Rádio "estrangeira" avança sobre o dial

Metade das FMs de Ribeirão tem conteúdo produzido fora da cidade; profissionais vêem satelitização como prejudicial

A Melody foi substituída pela Oi FM; a Jovem Pan 2, a Band, a Rede Aleluia, a CBN e a Rádio USP apresentam conteúdo "estrangeiro"


LUCAS REIS
DA FOLHA RIBEIRÃO

"Music in the night... Melody!". A vinheta que ecoou no rádio ribeirão-pretano durante décadas está fora do ar há quase um mês. A Melody FM, do Sistema Clube de Comunicação, foi substituída pela Oi FM, mantida pela operadora de celular, que agora ocupada a freqüência 94,1 MHz em uma agressiva ação de marketing.
A chamada satelitização -grandes grupos de comunicação que tomam o lugar da programação local- não se restringe ao caso da Melody. Metade das emissoras FM de Ribeirão Preto funciona com conteúdo quase 100% "estrangeiro".
As programações de Oi FM, Jovem Pan 2, Band, CBN, Rede Aleluia e Rádio USP vêm, quase que completamente, de fora, via satélite. Em algumas delas, há alguns programas locais esporádicos ao longo da programação, que não são suficientes para manter uma equipe de técnicos, locutores e demais funcionários -principais prejudicados pela satelitização.
"A cidade perdeu com a saída da Melody, mas ganhou com a chegada da Oi. São objetivos mercadológicos que recebem todas essas inovações. A vida é assim", disse o empresário José Ignácio Pizani, diretor-presidente da Clube, que por dois anos presidiu a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão).
O fim da Melody motivou protestos na internet. No Orkut, 78 órfãos formam a comunidade "Quero a Melody FM de volta", onde lamentam o fim da emissora. "Ficamos órfãos de uma programação de bom gosto. Ou você acha que é fácil ficar ouvindo gritaria, sertanejos, pagodeiros, funkeiros e afins?", disse Gustavo Buzolla, 38, criador da comunidade.
A voz doce e romântica de Vânia Mara, que apresentava o programa Toque de Amor, ao meio-dia, ganha tons de tristeza ao lembrar da rádio pela qual trabalhou nos últimos 20 anos. "Entrei na Melody com 20 anos, agora vou completar 40. É um sentimento de profunda tristeza", disse.
Segundo o Sindicato dos Radialistas de Ribeirão Preto, os efeitos da satelitização são negativos para a categoria. "É certeza de desempregos e lucro aos empresários. Uma concessão pública deveria gerar empregos, e não cortar funcionários colocando uma programação pronta", disse Marcos Poska, presidente do sindicato.
Poska trabalha atualmente no SBT e se diz fruto da invasão estrangeira: era discotecário na Rádio Independência, atual Jovem Pan 2. "Essa função foi praticamente extinta."
A crítica ao processo de satelitização não se limita a ouvintes e radialistas. O Ministério das Comunicações sinalizou que não concorda com a prática. Um advogado especializado em mídia também afirmou à Folha que repassar a freqüência de uma rádio a terceiros "soa ilegal". A Oi afirma que não entrou em Ribeirão somente pelo marketing e que a programação, apesar de "estrangeira", foi elaborada para se adequar ao gosto musical da cidade.
"A chegada da Oi FM em Ribeirão não é passageira. Viemos para ficar. A rádio é um instrumento de marketing, mas queremos levar uma boa programação ao ribeirão-pretano", disse José Luis Volpini, diretor de mídia e conteúdo da Oi FM. A empresa não revela os valores do contrato, cujo prazo inicial é de cinco anos.

Audiência
Coincidência ou não, o fato é que as emissoras com programação 100% local dominam a preferência do ouvinte. Segundo a última pesquisa de audiência, divulgada anteontem, Clube, Mega e Conquista, na ordem, são as mais ouvidas de Ribeirão. O resultado mostra reação da Clube, que chegou a figurar na terceira posição no início do ano. A Oi FM aparece na nona colocação. Na lista anterior, do primeiro semestre, a Mega e a Conquista lideravam, e a Clube estava na terceira posição -a Melody era a sexta.


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