Ribeirão Preto, Domingo, 24 de Dezembro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NATAL COM FOME
Setores que não participam da economia reclamam da ausência do poder público
Desfavorecidos ficam de fora de festas

FREE-LANCE PARA A FOLHA RIBEIRÃO

Mesmo com a atuação de grupos sociais que auxiliam cerca de 2.000 crianças na região de Ribeirão, muitos adultos e idosos pobres não têm acesso ao assistencialismo promovido por grupos religiosos e governamentais.
Quem anda pelas ruas de Ribeirão Preto encontra com facilidade pessoas que são completamente desassistidas ou que, quando procuram assistência, têm os direitos negados.
A situação é pior para os adultos que não tiveram acesso à educação e aos meios de informação básicos que os poderes públicos podem dispor aos cidadãos.
É o caso de três pessoas entrevistadas nas ruas de Ribeirão pela Folha, que não encontram perspectivas e vêem o Natal apenas como uma data sem sentido, já que não podem "desfrutá-la".
Uma delas, catador de papel, acusa o poder público de ter retirado seu direito de dormir em albergues. Ele e a mulher moram nas ruas. Outro caso é de uma vendedora que tem de vender cerca de cem passes por dia para retirar seu sustento.

Personagens
O catador de papel Joel Tibúrcio está vivendo nas ruas de Ribeirão há três meses e acusa órgãos públicos de discriminação, reclamando das pessoas que lhe negam entrada no albergues da cidade. "As pessoas que administram os albergues permitem que bandidos durmam neles, mas nós não podemos ficar mais que cinco dias seguidos. Sem oportunidade para seguir nos albergues, eu e minha mulher vamos ficar nas ruas", afirmou.
Ele e sua mulher, Sônia Maria Gomes Rodrigues, tentaram a vida fora da cidade nos últimos anos. Eles foram para Minas Gerais e voltaram depois de não encontrar emprego.
Desde que retornaram de Minas, há cerca de três meses, os dois vivem entre os albergues e as ruas da cidade.
"Nós voltamos depois de perder a vida lá também, mas, pelo menos, deixamos os filhos para minha família criar."
Tibúrcio -que acredita que passará o Natal nas ruas- afirmou que a separação dos filhos foi uma aposta no futuro deles. "Nós não conseguimos as coisas na vida, mas não é por isso que vamos carregar os filhos."
Antes de tentar a vida fora da cidade, Tibúrcio tinha um barraco, mas disse que acabou perdendo-o com a mudança.
A vendedora de passes Ana Lopreste Moreno é outra desfavorecida de Ribeirão Preto, que também não vê perspectivas para a sua vida.
Ela vende passes entre o Mercado Municipal e o CPC (Centro Popular de Compras), no centro da cidade, recebendo R$ 0,05 por passe vendido. "Almoço quando o dinheiro permite. A maioria do dinheiro que eu ganho é para pagar os cinco remédios que eu tomo", disse.
Segundo a vendedora, o mais barato dos remédios que precisa tomar custa em torno de R$ 20. Ana absolve os três filhos que tem do dever de sustentá-la.
"Tenho três filhos, mas eles também têm outros filhos e devem cuidar deles e das famílias que criaram."
A vendedora, que não é aposentada, disse que todo os recursos que consegue obter vêm da venda dos passes. Ela trabalha das 8h às 19h nos dias úteis e diz arrecadar, no máximo, R$ 10 por dia.


Texto Anterior: Núcleo atende 170 crianças por dia
Próximo Texto: Fé: Religiões têm comemorações este mês
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.