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NATAL COM FOME
Setores que não participam da economia reclamam da ausência do poder público
Desfavorecidos ficam de fora de festas
FREE-LANCE PARA A FOLHA RIBEIRÃO
Mesmo com a atuação de grupos sociais que auxiliam cerca de
2.000 crianças na região de Ribeirão, muitos adultos e idosos pobres não têm acesso ao assistencialismo promovido por grupos
religiosos e governamentais.
Quem anda pelas ruas de Ribeirão Preto encontra com facilidade
pessoas que são completamente
desassistidas ou que, quando procuram assistência, têm os direitos
negados.
A situação é pior para os adultos
que não tiveram acesso à educação e aos meios de informação básicos que os poderes públicos podem dispor aos cidadãos.
É o caso de três pessoas entrevistadas nas ruas de Ribeirão pela
Folha, que não encontram perspectivas e vêem o Natal apenas
como uma data sem sentido, já
que não podem "desfrutá-la".
Uma delas, catador de papel,
acusa o poder público de ter retirado seu direito de dormir em albergues. Ele e a mulher moram
nas ruas. Outro caso é de uma
vendedora que tem de vender cerca de cem passes por dia para retirar seu sustento.
Personagens
O catador de papel Joel Tibúrcio
está vivendo nas ruas de Ribeirão
há três meses e acusa órgãos públicos de discriminação, reclamando das pessoas que lhe negam entrada no albergues da cidade. "As pessoas que administram os albergues permitem que
bandidos durmam neles, mas nós
não podemos ficar mais que cinco
dias seguidos. Sem oportunidade
para seguir nos albergues, eu e
minha mulher vamos ficar nas
ruas", afirmou.
Ele e sua mulher, Sônia Maria
Gomes Rodrigues, tentaram a vida fora da cidade nos últimos
anos. Eles foram para Minas Gerais e voltaram depois de não encontrar emprego.
Desde que retornaram de Minas, há cerca de três meses, os dois
vivem entre os albergues e as ruas
da cidade.
"Nós voltamos depois de perder
a vida lá também, mas, pelo menos, deixamos os filhos para minha família criar."
Tibúrcio -que acredita que
passará o Natal nas ruas- afirmou que a separação dos filhos
foi uma aposta no futuro deles.
"Nós não conseguimos as coisas
na vida, mas não é por isso que
vamos carregar os filhos."
Antes de tentar a vida fora da cidade, Tibúrcio tinha um barraco,
mas disse que acabou perdendo-o
com a mudança.
A vendedora de passes Ana Lopreste Moreno é outra desfavorecida de Ribeirão Preto, que também não vê perspectivas para a
sua vida.
Ela vende passes entre o Mercado Municipal e o CPC (Centro Popular de Compras), no centro da
cidade, recebendo R$ 0,05 por
passe vendido. "Almoço quando
o dinheiro permite. A maioria do
dinheiro que eu ganho é para pagar os cinco remédios que eu tomo", disse.
Segundo a vendedora, o mais
barato dos remédios que precisa
tomar custa em torno de R$ 20.
Ana absolve os três filhos que tem
do dever de sustentá-la.
"Tenho três filhos, mas eles
também têm outros filhos e devem cuidar deles e das famílias
que criaram."
A vendedora, que não é aposentada, disse que todo os recursos
que consegue obter vêm da venda
dos passes. Ela trabalha das 8h às
19h nos dias úteis e diz arrecadar,
no máximo, R$ 10 por dia.
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