Ribeirão Preto, Domingo, 28 de Junho de 2009

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Laranja vira problema em Taquaritinga

Com preço caindo e sem contrato com indústrias de suco, citricultores levam incerteza sobre a safra para a zona urbana

Colhedores aguardam emprego e motoristas esperam frete; prefeito teme alta do desemprego e ainda queda do comércio

JEAN DE SOUZA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA RIBEIRÃO

O preço em baixa e a falta de contratos de fornecimento para a indústria estão fazendo da laranja, que já foi a maior fonte de riqueza de Taquaritinga, um grande problema para a cidade, que está localizada no centro da maior região citrícola do país.
A incerteza sobre a safra que deve ter início já no próximo mês começa dentro das porteiras das fazendas produtoras e alcança as calçadas da cidade, onde colhedores esperam por trabalho e caminhões, em fila, aguardam um frete.
"No preço que estão pagando, vou deixar minha laranja no pé. Não vendo", afirmou o produtor Vanderlei Nucci, 63. Há mais de 30 anos no setor, ele disse que, pela primeira vez na vida, fica sem contrato com as indústrias de suco.
A alternativa, nesse caso, é vender a laranja no mercado à vista, conhecido como spot. O problema é o preço: na semana passada, a caixa de 40,8 kg era vendida a R$ 3,71, de acordo com levantamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
A situação vivida pela família Nucci é a mesma por que passa, pelo menos, 50% dos plantadores de laranja da cidade, segundo o presidente da Sociedade Rural de Taquaritinga, Marco Antonio Gonçalves.
Produtores e entidades de classe afirmam que o preço que está sendo pago pela caixa torna a atividade inviável, já que somente os gastos com a colheita e frete da laranja giram em torno de R$ 3,50. Há ainda os custos de produção estimados em, no mínimo, R$ 10 por caixa, segundo os citricultores.
A culpa pela situação crítica do setor, dizem, é da indústria. Além do preço baixo, os produtores reclamam que as indústrias não informam quando e se vão comprar a fruta. Nesta época do ano, em 2008, a colheita já havia começado em Taquaritinga, com as variedades mais precoces da fruta. "Agora, estamos esperando com a laranja no pé, disse Francisco Humberto Nucci, 28.
Os trabalhadores que esperam contratos para colher a fruta estão apreensivos. Segundo Rosimara Bernardo Barbosa, responsável pela contratação de colhedores do condomínio Boa Safra Citrus, apenas duas turmas de trabalhadores já fizeram os exames médicos para trabalhar na safra. "Mas não é certeza, ainda, que vão ser contratados."
Cada turma tem, em média, 40 trabalhadores. No ano passado, Rosimara disse ter contratado cerca de 400 colhedores no final de maio. "Nesta época, eles já tinham recebido duas quinzenas de salário."

Prefeito
O prefeito de Taquaritinga, Paulo Delgado Júnior (DEM), afirmou que "a situação é bastante preocupante". "Afeta toda a cadeia. O produtor, que não ganha; o trabalhador que ainda não tem expectativa de emprego e, se tiver, vai ganhar menos; e o comércio, que vai acabar vendendo menos."
O temor, segundo Delgado, é que o aumento do desemprego traga outros problemas sociais, como violência e mais demanda por cestas básicas e outras subvenções da prefeitura.


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