Ribeirão Preto, Domingo, 28 de Novembro de 2010

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Caminhão de cana se transforma em "vilão" das rodovias

Com excesso de peso, veículos usam acessos ilegais, trafegam em baixa velocidade e provocam acidentes

Dados da Autovias apontam que índice de letalidade é de 8,1% nos acidentes envolvendo caminhões de cana

Vinicius Oliveira/Folhapress
Caminhão abarrotado de cana trafega na vicinal entre a rodoviaAnhanguera e Pontal

LEANDRO MARTINS
DE RIBEIRÃO PRETO

Excesso de carga, uso de acessos ilegais às rodovias, baixa velocidade em razão do peso e motoristas ao volante por longos períodos de trabalho. As reclamações referentes aos caminhões canavieiros são proporcionais aos problemas causados.
Na última terça, mais uma vítima engrossou a lista de mortos em acidentes com caminhões canavieiros.
O motorista João Evangelista da Silva Filho, 35, teve seu carro atingido de frente por um veículo desse tipo na rodovia Ângelo Scarelli, em Morro Agudo.
Antes dele, ao menos outros 11 já haviam morrido em acidentes com caminhões canavieiros neste ano, conforme levantamento da Folha.
Os acidentes envolvendo caminhões que transportam cana-de-açúcar, aliás, têm uma taxa de letalidade bem maior do que nos demais casos, afirma a Autovias.
A concessionária, que administra um trecho da rodovia Anhanguera -uma das principais do país- e outras quatro estradas da região, contabilizou sete mortes em 86 acidentes com caminhões canavieiros em sua malha neste ano, um índice de letalidade de 8,1%. Os demais acidentes, embora em volume maior (6.711), tiveram mortes em 2,4% dos casos.
A velocidade baixa dos caminhões canavieiros é um dos motivos que agravam os acidentes com esses veículos, na avaliação do engenheiro Coca Ferraz, da USP de São Carlos.
"Esses caminhões têm uma estrutura reforçada e, como quase sempre transitam em velocidades muito baixas, quando há um choque a velocidade relativa é muito maior", disse. A batida é quase proporcional ao choque contra um muro resistente, segundo Ferraz.
O volume de cana carregado pelos caminhões é o responsável pela velocidade baixa. De acordo com o caminhoneiro José Alcione da Silva, 60, há 37 anos na condução de canavieiros -e sem nenhum acidente no período, segundo diz-, o caminhão chega a 10 km/h em subidas mais íngremes.
Pela legislação de trânsito, a velocidade mínima que um veículo deve trafegar é sempre a metade da máxima do trecho. A dificuldade, no entanto, é avaliar se a regra está sendo cumprida.
"Não temos um aparelho para aferir [a baixa velocidade]", afirmou o tenente Luiz Eduardo Ulian Junqueira, comandante do 1º Pelotão da Polícia Militar Rodoviária de Ribeirão. Segundo ele, as blitze acabam focando no excesso de peso, o que causa a velocidade muito baixa.
Outro ponto considerado por especialistas como agravante da situação é a jornada de trabalho excessiva dos caminhoneiros.
Como a maioria é de terceirizados, que prestam serviços para as usinas e ganham por produtividade, o caminhão precisa circular durante dia e noite.
A Unica (União da Indústria de Cana-de-açúcar) disse entender que o problema é isolado e que não afeta o setor de maneira ampla.


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