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Caminhão de cana se transforma em "vilão" das rodovias
Com excesso de peso, veículos usam acessos ilegais, trafegam em baixa velocidade e provocam acidentes
Dados da Autovias apontam que índice de letalidade é de 8,1% nos acidentes envolvendo caminhões de cana
Vinicius Oliveira/Folhapress
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Caminhão abarrotado de cana trafega na vicinal entre a rodoviaAnhanguera e Pontal
LEANDRO MARTINS
DE RIBEIRÃO PRETO
Excesso de carga, uso de
acessos ilegais às rodovias,
baixa velocidade em razão
do peso e motoristas ao volante por longos períodos de
trabalho. As reclamações referentes aos caminhões canavieiros são proporcionais
aos problemas causados.
Na última terça, mais uma
vítima engrossou a lista de
mortos em acidentes com caminhões canavieiros.
O motorista João Evangelista da Silva Filho, 35, teve
seu carro atingido de frente
por um veículo desse tipo na
rodovia Ângelo Scarelli, em
Morro Agudo.
Antes dele, ao menos outros 11 já haviam morrido em
acidentes com caminhões canavieiros neste ano, conforme levantamento da Folha.
Os acidentes envolvendo
caminhões que transportam
cana-de-açúcar, aliás, têm
uma taxa de letalidade bem
maior do que nos demais casos, afirma a Autovias.
A concessionária, que administra um trecho da rodovia Anhanguera -uma das
principais do país- e outras
quatro estradas da região,
contabilizou sete mortes em
86 acidentes com caminhões
canavieiros em sua malha
neste ano, um índice de letalidade de 8,1%. Os demais
acidentes, embora em volume maior (6.711), tiveram
mortes em 2,4% dos casos.
A velocidade baixa dos caminhões canavieiros é um
dos motivos que agravam os
acidentes com esses veículos, na avaliação do engenheiro Coca Ferraz, da USP
de São Carlos.
"Esses caminhões têm
uma estrutura reforçada e,
como quase sempre transitam em velocidades muito
baixas, quando há um choque a velocidade relativa é
muito maior", disse. A batida
é quase proporcional ao choque contra um muro resistente, segundo Ferraz.
O volume de cana carregado pelos caminhões é o responsável pela velocidade
baixa. De acordo com o caminhoneiro José Alcione da Silva, 60, há 37 anos na condução de canavieiros -e sem
nenhum acidente no período, segundo diz-, o caminhão chega a 10 km/h em subidas mais íngremes.
Pela legislação de trânsito,
a velocidade mínima que um
veículo deve trafegar é sempre a metade da máxima do
trecho. A dificuldade, no entanto, é avaliar se a regra está
sendo cumprida.
"Não temos um aparelho
para aferir [a baixa velocidade]", afirmou o tenente Luiz
Eduardo Ulian Junqueira, comandante do 1º Pelotão da
Polícia Militar Rodoviária de
Ribeirão. Segundo ele, as
blitze acabam focando no excesso de peso, o que causa a
velocidade muito baixa.
Outro ponto considerado
por especialistas como agravante da situação é a jornada
de trabalho excessiva dos caminhoneiros.
Como a maioria é de terceirizados, que prestam serviços para as usinas e ganham
por produtividade, o caminhão precisa circular durante dia e noite.
A Unica (União da Indústria de Cana-de-açúcar) disse
entender que o problema é
isolado e que não afeta o setor de maneira ampla.
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