Ribeirão Preto, Domingo, 30 de Abril de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Próximo Texto | Índice

DESPERDÍCIO
Buraco interdita linha férrea turística que passa por 2 cidades; conserto deve custar R$ 800 mil
Cratera "engole" ferrovia de R$ 3 mi

Lucio Piton/ Folha Imagem
Erosão embaixo dos trilhos de trem abandonados da ferrovia turística na cidade de Pedregulho, desativada por causa da cratera


ANGELO SASTRE
enviado especial a Pedregulho, Igaçaba e Rifaina

ROGÉRIO PAGNAN
free-lance para a Folha Ribeirão


Uma cratera de 20 metros de largura por 15 metros de profundidade está "engolindo" a ferrovia turística que liga Pedregulho a Rifaina, uma obra de R$ 3 milhões paga com dinheiro público.
Inaugurada em maio de 91 durante a gestão do ex-governador Orestes Quércia (PMDB), a ferrovia parou de operar no início da segunda gestão de Mário Covas (PSDB) e o trecho de 38 quilômetros de linhas férreas está completamente abandonado.
O buraco apareceu perto da estação de Pedregulho e foi o responsável pela suspensão da operação do trem.
Hoje, o custo previsto para recuperar a malha férrea e colocar o trem de volta aos trilhos chega a R$ 800 mil.
Segundo o ex-secretário de Estado dos Transportes Antônio Carlos Rios Corral, responsável pela liberação da verba para a construção da ferrovia, a idéia inicial era aproveitar o grande potencial turístico da região.
"Queríamos atrair a atenção turística de outras regiões."
Nas cidades por onde o trem passava -Pedregulho e Rifaina-, há o Parque Estadual do Bom Jesus, inúmeras cachoeiras e uma reserva ecológica.


Composições


De acordo com Paulo Sérgio Becker, membro da ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária), eram três composições de marias-fumaças e vagões datados do início do século.
Por mês, 2.500 pessoas eram transportadas, número que poderia chegar a 4.000, segundo avaliação do Departamento de Turismo de Rifaina. Com a suspensão dos trabalhos, o órgão calcula que, somente a cidade, perde R$ 40 mil ao mês.
"Como não houve recuperação, as máquinas foram levadas para Jaguariúna e São João del Rei, onde existem passeios semelhantes", afirmou Becker.
O ex-prefeito de Pedregulho David Sebastião Ferreira, que governava a cidade durante a construção da linha, disse que lamenta ver o potencial desperdiçado.
"A gente viaja muito e sabe que, no exterior, as pessoas ganham uma fortuna promovendo qualquer coisa, qualquer ruína."
As prefeituras de Pedregulho e Rifaina informaram que já encaminharam vários pedidos e projetos ao governo estadual visando a recuperação da malha.
Durante a campanha à reeleição em Rifaina, Covas prometeu uma verba de R$ 100 mil para reativação do trem. No entanto o dinheiro nunca foi liberado.
"Houve uma promessa, mas até agora não tivemos nenhum retorno sobre isso", disse Fernando Augusto Rodrigues, diretor do Turismo de Rifaina.
Devido ao abandono, duas das quatro estações estão tendo outra função. Em Pedregulho, por exemplo, a estação está abrigando dois bares e, em Rifaina, o prédio abrigava a prefeitura.
Quércia acusa o atual governo de estar fazendo retaliações políticas. A Folha procurou a Secretaria de Estado dos Esportes e Turismo e a assessoria do governador, mas não recebeu resposta.



Próximo Texto: Estação vira boteco e trilhos, pasto
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.