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Cutrale fecha acordo judicial de R$ 500 mil
Documento evita ação civil que pedia R$ 5 milhões; indústria terá de pagar cursos a safristas e nunca mais deixar de colher
Acordo pode representar a 1ª vez que uma empresa passa a se responsabilizar
diretamente pelos trabalhadores rurais
JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO
A gigante do suco Cutrale deverá pagar R$ 500 mil em cursos de capacitação ao trabalhador e nunca mais deixar de receber fruta da lavoura. O compromisso foi firmado em um
acordo inédito com a Procuradoria do Trabalho e a Feraesp,
entidade ligada aos trabalhadores, para compensar a queda e
até a interrupção na colheita
por parte das indústrias, ocorrida no ano passado.
O acordo pode representar a
primeira vez que uma usina
passa diretamente a se responsabilizar pelos trabalhadores,
contra o discurso das indústrias de que o ônus da mão de
obra cabe ao produtor.
A Cutrale fechou o acordo
para deixar de ser citada como
ré em ação civil pública movida
no ano passado pela Procuradoria contra a empresa e as outras três gigantes do setor
-LDC (Louis Dreyfus Commodities), Citrovita e Fischer. A
Procuradoria estipulava na
ação R$ 5 milhões a serem pagos por empresa pelos danos
aos colhedores causados na safra passada.
Como a Folha publicou em
agosto do ano passado, 8.000
safristas estavam sem receber
o salário-base porque as gigantes anunciaram que paralisaram as unidades ou frearam a
produção em plena safra. Sem
a colheita, boa parte da laranja
plantada estragou ainda no pé
(leia texto nesta página).
No acordo, a Cutrale se compromete a nunca mais paralisar a colheita ou reduzir drasticamente a compra da fruta
apenas por questões comerciais de julho a dezembro de
cada ano, a contar desta safra.
A Cutrale terá ainda de pagar
R$ 500 mil em cursos de capacitação ao safrista, a serem ministrados pelo Centro Paula
Souza ou Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural).
Precedente
O texto foi protocolado na
Justiça do Trabalho de Taquaritinga. Segundo o procurador
Cássio Calvilani Dalla-Déa, o
acordo pode servir de modelo e
envolver as demais gigantes.
Anteontem, houve reunião
com advogados das três empresas e foi apresentada uma minuta do acordo com a Cutrale.
"É o primeiro acordo de vulto
fechado com a Cutrale. Existem várias questões pendentes.
Até então, havia apenas discussões de causas de trabalhadores, de forma pontual", disse
Dalla-Déa.
Procurada, a assessoria da
Cutrale informou que não irá
se manifestar enquanto o juiz
não homologar o acordo.
Após os safristas serem beneficiados, os produtores também querem uma compensação à laranja que se perdeu no
pé na safra passada, de acordo
com o presidente da Associtrus
(Associação Brasileira de Citricultores), Flávio Viegas.
"O produtor contratou mão
de obra mas se viu surpreendido com o fechamento das fábricas e teve de arcar com os salários sozinhos, além de perder a
lavoura", afirmou.
Na opinião de Miguel Ferreira dos Santos Filho, da Feraesp,
o acordo mostrou que a indústria saiu dos bastidores e assumiu que cabe a ela, e não ao
produtor, se responsabilizar
pelo trabalhador rural.
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