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Do estradão ao estrelato
Peões boiadeiros tocam gado por até 800 km para ganhar R$ 35 por dia, enquanto montarias em touros dão fama e fortuna a brasileiros nos EUA
Silva Junior/Folhapress
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Elizandro Dias Costa, 33, com boiada em fazenda de Paranaíba
MARCELO TOLEDO
ENVIADO ESPECIAL A PARANAÍBA (MS)
FERNANDA EZABELLA
ENVIADA ESPECIAL A LAS VEGAS (EUA)
O peão Elizandro Dias Costa, 33, já vendeu sua tropa de
mulas, usada nas comitivas
que tocavam gado pelo estradão (estradas de terra que ligam fazendas e cidades) sul-matogrossense, porque as
viagens, em que os peões
chegam a ganhar R$ 35 por
dia, quase desapareceram.
Enquanto isso, nos EUA, o
peão Renato Nunes, 29, sagrou-se campeão mundial de
rodeio e ganhou US$ 1,25 milhão. A origem deles é a mesma, mas os caminhos trilhados são muito diferentes.
Enquanto Costa montou
em rodeios por sete anos,
mas se deixou levar pela bebida e, também, pela falta de
oportunidades, Nunes foi
tentar a sorte nos EUA. Mora
no Texas desde 2005 e é uma
das estrelas da PBR (Professional Bull Riders), que reúne peões de cinco países.
Costa é peão à moda antiga em Paranaíba (MS). Vive
no estradão tocando gado
pelos "corredores" que ligam
uma fazenda a outra, ainda
que a "outra" fique a 800 km.
"VIDA ESTRADEIRA"
Mato Grosso do Sul foi a
origem da maior parte das
boiadas trazidas para SP, especialmente Barretos e Andradina. Foi, porque as rodovias, entre outros fatores, dizimaram a vida estradeira.
Peões, produtores rurais e
sindicatos nas cidades de Paranaíba, Inocência e Aparecida do Taboado, em MS, dizem que hoje não há, na histórica região, nem 20 comitivas que se prestem a deixar
as famílias por até dois meses
para se aventurar pelas estradas, levando até 1.500 cabeças de gado para outras cidades e Estados, para receber
no máximo R$ 50 por dia,
sem direitos trabalhistas.
Não que a pecuária não seja a atividade principal -Paranaíba tem o terceiro maior
rebanho do MS, com 2,1 milhões de cabeças-, mas ela
deixou de gerar empregos no
estradão, segundo Manoel
Bertoldo Neto, presidente do
Sindicato Rural da cidade.
Paranaíba tem 3.000 propriedades rurais e cerca de
4.000 dos 40 mil habitantes
trabalhando com gado.
"Quando vejo os caras em
touros na TV, saio de perto.
Dá uma tristeza e frustração
danadas", disse Costa, que
montou até 2001 e, desde então, vive do estradão e da
venda de animais. "Viver só
do estradão é impossível."
DIFICULDADES
Único capataz de boiada
de Aparecida do Taboado, Jesus Antônio Martins, 49, disse que chegou a viajar oito
meses por ano com tropas,
mas agora, quando muito, fica três meses longe. "A cana
atrapalhou também, porque
ocupou áreas de boiadas."
O endurecimento da legislação é outro fator que afasta
os peões da função que, no
passado, serviu para abastecer regiões como a de Ribeirão Preto de carne bovina.
Para passar pelas barreiras
sanitárias, as comitivas precisam exibir atestados de vacinação das mulas usadas
-R$ 25 por cabeça, com validade de só dois meses.
Dizendo-se hoje sem habilidade para rodeio, Arley
Coutinho, 39, ganha R$ 870
em carteira -o mínimo rural
é de R$ 561- para cuidar de
1.070 cabeças numa fazenda,
onde está há 22 anos. "Dá inveja ao ver o que alguns ganham, é muita grana..."
Para o tricampeão mundial da PBR Adriano Moraes,
o glamour da vida do peão
nos EUA pode enganar.
"Se não conseguirem ganhar muito dinheiro nos
EUA, vão ter que voltar para
o Brasil. E, se não souberem
cuidar do dinheiro, acabam
voltando a trabalhar de empregado da mesma forma
que quando começaram."
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