São Paulo, segunda-feira, 01 de dezembro de 2008

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25% dos pacientes com HIV está com peso acima do ideal

Dentre os 540 pacientes avaliados, só 6% estavam abaixo do peso, segundo dados preliminares de pesquisa da USP

Estudo indica alto consumo de gorduras e carne e baixa ingestão de legumes, frutas, verduras, fibras e laticínios; pacientes querem engordar

Eduardo Anizelli/Folha Imagem
Elias Ribeiro, 39, que perdeu 9 kg e melhorou taxa de colesterol

JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Dados preliminares de uma pesquisa com 540 pacientes com HIV atendidos em nove Centros de Referência e Treinamento DST/Aids da cidade de São Paulo mostram que 25% deles estão com sobrepeso e 7,5% são obesos.
"Quando estão em uma fase crônica da doença, usando o remédio de forma correta, eles tendem a ter prevalências semelhantes às da população em geral. Temos constatado um aumento no número de soropositivos acima do peso em comparação com dados anteriores ao ano 2000", diz a nutricionista Ana Clara Duran, que fez a pesquisa para seu mestrado na Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo). Entre os avaliados, 6% estavam abaixo do peso.
O estudo, que terá alguns dados divulgados nesta semana para pacientes e profissionais dos centros, ainda indica um alto consumo de gorduras e carne e baixa ingestão de fibras, frutas, verduras, legumes e laticínios. "Precisamos considerá-los sob os mesmos riscos cardiovasculares e qualquer outro risco relacionado ao sobrepeso ou má alimentação. Antes, a preocupação dos profissionais era que eles ganhassem peso. Hoje, orientar esses pacientes é um desafio, eles não querem emagrecer", relata Duran.
Para o infectologista Jean Gorinchteyn, coordenador do ambulatório de Aids em idosos do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, o uso dos medicamentos anti-retrovirais gera uma melhora global do paciente e isso leva também a uma maior disposição alimentar. "Mas isso não quer dizer que haja um aumento de massa corporal acima do recomendado", ressalta. No entanto, conta Gorinchteyn, a grande dificuldade está em convencer os pacientes a se alimentarem de maneira mais saudável, pois eles temem emagrecer e ficar com "cara de doente". "Muitos perguntam: "Doutor, o que é preciso fazer para engordar mais?"."
Constatação semelhante tem a nutricionista Luísa Helena Maia Leite, pesquisadora do Serviço de Assistência ao Portador de HIV/Aids do Hospital Escola São Francisco de Assis da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ela avaliou 393 pacientes atendidos no ambulatório de nutrição do hospital de 2000 a 2006. Desses, 35,4% estavam acima do peso e 13,7% eram obesos. "Eles tinham uma demanda específica ao procurar o ambulatório de nutrição, por isso os números são mais altos no meu trabalho. Mas o novo perfil do soropositivo é de sobrepeso, não somente no Brasil mas no mundo inteiro." Ela diz encontrar dificuldades para implantar uma dieta balanceada para esses pacientes. "É uma barreira muito grande, pelo estigma da epidemia".
Ainda não publicado, outro trabalho feito por Leite com cem soropositivos mostrou que eles desejam estar mais gordos do que são -independentemente de estarem com peso ideal ou com sobrepeso. Na pesquisa, as pessoas escolhem o modelo que mais se aproxima do que consideram ser e outro mais parecido com o que desejariam. "Na população em geral, as pessoas querem ser mais magras. Entre os pacientes com HIV, eles escolheram uma figura mais gorda."
Um dos problemas da resistência em perder o peso em excesso ou melhorar a dieta alimentar está no maior risco de esses pacientes sofrerem alterações metabólicas. O uso dos anti-retrovirais pode levar a um aumento dos níveis de colesterol e triglicérides nesses pacientes.


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