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+entrevista
Livro associa "pandemia" a estilo de vida
MALU ECHEVERRIA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O diabetes tipo 1 virou
"pandemia", na avaliação do
jornalista Dan Hurley, 52, do
"New York Times". Portador
da doença, ele resolveu pesquisar as causas da sua evolução nos últimos anos, e
chegou a algumas possbilidades, todas associadas ao ambiente e estilo de vida atual.
Depois de entrevistar mais
de 200 cientistas e revisar
centenas de estudos, lançou
"Diabetes Rising: How a Rare Disease Became a Modern
Pandemic, And What to Do
About it" (a ascensão do diabetes: como uma doença rara
se tornou uma pandemia
moderna e o que fazer a respeito), sem previsão de lançamento no Brasil.
Nos EUA, a incidência da
doença entre as crianças dobrou desde os anos 80. A seguir, Hurley conta como chegou a cinco hipóteses para
explicar o fenômeno.
FOLHA - Como você chegou às
hipóteses que explicariam o aumento do diabetes tipo 1?
DAN HURLEY - De certa forma,
posso dizer que passei 34
anos pesquisando para este
livro, que é o período em que
vivo com a doença. Já havia
escrito muitos artigos sobre
o assunto, mas só comecei a
estudar com mais profundidade em 2008. Foram cerca
de 200 entrevistas com médicos, cientistas, enfermeiras, nutricionistas e muitos
pacientes. Além disso, revisei centenas de estudos. Por
fim, chequei os dados com
autoridades médicas e cheguei às conclusões, um ano
depois. As cinco hipóteses
são as melhores apostas dos
cientistas para explicar esse
crescimento atual.
FOLHA - Quais são elas?
HURLEY - O aumento do peso
e da altura das crianças as
torna mais propícias a desenvolver a doença porque,
quanto mais o pâncreas trabalha para produzir insulina,
mais desgastado ele fica (o
diabetes se caracteriza por
uma resposta exagerada do
sistema imune, que ataca o
pâncreas do paciente).
Outro fator é que, hoje, as
crianças são expostas a menos germes, o que faz com
que seu sistema imunológico
se torne hiperativo. Assim,
ele acaba atacando as próprias células, no caso, também as que produzem insulina no pâncreas.
Outra hipótese é a falta de
vitamina D. As crianças estão
tomando menos sol, e isso
aumenta as chances de desenvolver a doença.
Há também uma suspeita
de que a exposição à poluição
aumenta o risco de diabetes
tipo 1 e 2. Por último, estudos
mostram que crianças alimentadas à base de fórmulas
infantis nos primeiros seis
meses têm mais risco de desenvolver a doença.
FOLHA - Alguma certeza?
HURLEY - A única certeza, até
agora, é que o diabetes do tipo 1 está aumentando e que
algo em nosso ambiente e estilo de vida deve estar contribuindo para tal mudança.
Não há como saber qual é a
hipótese mais importante: é
provável que todas elas tenham o seu papel.
FOLHA - O que podemos fazer
para conter esse avanço?
HURLEY - Não há como prevenir o diabetes tipo 1... ainda. Mas algumas mudanças
que estão sendo pesquisadas
podem fazer diferença. A
amamentação é uma delas.
Investigar se a criança tem
falta de vitamina D é outra
coisa. Se for o caso, o pediatra
pode indicar um suplemento. E é sempre uma boa ideia
incentivar brincadeiras ao ar
livre. Acho que é mais fácil
prevenir o tipo 1 do que o tipo
2 de diabetes.
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