São Paulo, sábado, 03 de abril de 2010

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+entrevista

Livro associa "pandemia" a estilo de vida

MALU ECHEVERRIA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O diabetes tipo 1 virou "pandemia", na avaliação do jornalista Dan Hurley, 52, do "New York Times". Portador da doença, ele resolveu pesquisar as causas da sua evolução nos últimos anos, e chegou a algumas possbilidades, todas associadas ao ambiente e estilo de vida atual. Depois de entrevistar mais de 200 cientistas e revisar centenas de estudos, lançou "Diabetes Rising: How a Rare Disease Became a Modern Pandemic, And What to Do About it" (a ascensão do diabetes: como uma doença rara se tornou uma pandemia moderna e o que fazer a respeito), sem previsão de lançamento no Brasil. Nos EUA, a incidência da doença entre as crianças dobrou desde os anos 80. A seguir, Hurley conta como chegou a cinco hipóteses para explicar o fenômeno.

FOLHA - Como você chegou às hipóteses que explicariam o aumento do diabetes tipo 1?
DAN HURLEY -
De certa forma, posso dizer que passei 34 anos pesquisando para este livro, que é o período em que vivo com a doença. Já havia escrito muitos artigos sobre o assunto, mas só comecei a estudar com mais profundidade em 2008. Foram cerca de 200 entrevistas com médicos, cientistas, enfermeiras, nutricionistas e muitos pacientes. Além disso, revisei centenas de estudos. Por fim, chequei os dados com autoridades médicas e cheguei às conclusões, um ano depois. As cinco hipóteses são as melhores apostas dos cientistas para explicar esse crescimento atual.

FOLHA - Quais são elas?
HURLEY -
O aumento do peso e da altura das crianças as torna mais propícias a desenvolver a doença porque, quanto mais o pâncreas trabalha para produzir insulina, mais desgastado ele fica (o diabetes se caracteriza por uma resposta exagerada do sistema imune, que ataca o pâncreas do paciente). Outro fator é que, hoje, as crianças são expostas a menos germes, o que faz com que seu sistema imunológico se torne hiperativo. Assim, ele acaba atacando as próprias células, no caso, também as que produzem insulina no pâncreas. Outra hipótese é a falta de vitamina D. As crianças estão tomando menos sol, e isso aumenta as chances de desenvolver a doença. Há também uma suspeita de que a exposição à poluição aumenta o risco de diabetes tipo 1 e 2. Por último, estudos mostram que crianças alimentadas à base de fórmulas infantis nos primeiros seis meses têm mais risco de desenvolver a doença.

FOLHA - Alguma certeza?
HURLEY -
A única certeza, até agora, é que o diabetes do tipo 1 está aumentando e que algo em nosso ambiente e estilo de vida deve estar contribuindo para tal mudança. Não há como saber qual é a hipótese mais importante: é provável que todas elas tenham o seu papel.

FOLHA - O que podemos fazer para conter esse avanço?
HURLEY -
Não há como prevenir o diabetes tipo 1... ainda. Mas algumas mudanças que estão sendo pesquisadas podem fazer diferença. A amamentação é uma delas. Investigar se a criança tem falta de vitamina D é outra coisa. Se for o caso, o pediatra pode indicar um suplemento. E é sempre uma boa ideia incentivar brincadeiras ao ar livre. Acho que é mais fácil prevenir o tipo 1 do que o tipo 2 de diabetes.


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