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Medidas simples reduzem infecções em UTI neonatal
Lavar as mãos corretamente tem impacto positivo, mostra pesquisa carioca
O índice de recém-nascidos
infectados caiu de 62% para 34%, e o tempo médio de permanência na unidade passou de 30 para 20 dias
RACHEL BOTELHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Medidas simples e que não
demandam gastos, como higienização adequada das mãos,
implantação correta de cateteres e acurácia no diagnóstico da
sepse (infecção generalizada),
podem reduzir significativamente a ocorrência de infecções em UTIs neonatais, sugere
uma pesquisa feita no hospital
municipal e maternidade Oswaldo Nazareth, no Rio.
A infecção hospitalar é uma
das principais causas de morte
de recém-nascidos. Após um
reforço no treinamento da
equipe de profissionais da unidade estudada, o índice de bebês com infecção caiu de 62%
para 34%, enquanto o de sepse
passou de 47% para 23%.
Além de salvar vidas, a intervenção possibilitou a economia
de recursos financeiros ao diminuir o tempo médio de permanência na UTI neonatal de
30 para 20 dias. O uso de antibióticos também caiu: de 11 para 6 dias, em média, assim como a porcentagem dos bebês
que precisam tomar o medicamento (de 70% para 55%).
A pesquisa de doutorado foi
realizada pelo pediatra Arnaldo
Costa Bueno, que passou um
ano coletando dados dos bebês
internados na unidade e observando a rotina do serviço médico antes de iniciar o treinamento da equipe com base em potenciais boas práticas -ou
PBPs, medidas elaboradas por
uma rede colaborativa de profissionais de unidades neonatais dos EUA dedicada a melhorar a qualidade dos cuidados
com recém-nascidos.
No total, 457 bebês foram divididos em dois grupos: os admitidos no período pré-intervenção e os internados após o
início da ação. "Perguntei para
os funcionários o que eles sabiam, ensinei como deveriam
trabalhar a partir daquele momento, depois cobrei. Eram
coisas que já faziam parte da rotina, mas que não ocorriam",
diz o autor do trabalho.
Antes da intervenção, oito
bebês morreram em consequência de infecção hospitalar
-ou 33% do total de mortes-,
índice que foi reduzido a zero.
Boas práticas
"Eu testei e aprovei essas potenciais boas práticas. Elas não
têm custo e são eficazes na diminuição de óbitos de recém-nascidos. Não há dinheiro para
contratar enfermeiras nem para melhorar o laboratório, então tem que usá-las", diz Bueno, que terá sua pesquisa publicada na revista "Pediatrics".
Para Ruth Guinsburg, professora de neonatologia da Unifesp, medidas simples e de baixo custo, como essas, podem
funcionar antes de apelar para
recursos caros e sofisticados.
"Muitas dessas práticas parecem óbvias, mas há um lapso
enorme entre o que se prega e o
que realmente acontece no dia
a dia das UTIs", afirma.
De acordo com Jucille Meneses, do Departamento de Neonatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, as PBPs podem ser implementadas em
qualquer UTI neonatal. "O problema é que já são feitos programas de educação de equipe
em várias UTIs, mas é difícil
dar seguimento ao processo."
Mesmo assim, ela considera
a pesquisa importante. "Precisamos desses estudos para conhecer nossa realidade e corrigir falhas das nossas UTIs. Não
adianta ter toda a tecnologia se
não existe um bom controle de
infecção hospitalar", afirma.
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