São Paulo, domingo, 05 de abril de 2009

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HISTÓRIA

Uma bala na cabeça

O menino Samuel, 3, de Foz do Iguaçu (PR), ficou cinco dias com um projétil 9 mm alojado no cérebro e sobreviveu sem sequelas

Kiko Sierich/Folha Imagem
Samuel, que teve ferimento causado por bala perdida descoberto depois de exame de raio-X

FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O paranaense Samuel da Silva Souza Junior, 3, nasceu de novo na tarde de quinta-feira, 22 de janeiro. O menino, que brincava de carrinho no quintal de casa, foi vítima de uma bala perdida que atravessou o seu cérebro e ficou cinco dias alojada na sua cabeça sem que sua mãe percebesse. Samuel passou por uma cirurgia para a retirada da bala e está bem, sem nenhuma sequela.
O projétil se alojou no lobo frontal do cérebro -região ligada ao comportamento em que os neurônios conseguem recuperar as atividades. Por isso não existem danos. É o caso do mergulhador Emerson de Oliveira Abreu, 36, que foi atingido na cabeça por um arpão enquanto praticava pesca submarina no Rio de Janeiro.
A bala na cabeça de Samuel só foi descoberta depois que a família pagou por um exame de raio-X, em um hospital particular de Foz do Iguaçu (PR). Até então, Samuel tinha passado por consulta em dois hospitais municipais e nenhum dos médicos havia pedido o exame -a suspeita era que o garoto tinha sido atingido por uma pedra.
"Eu estava dentro de casa e o Samuel, no quintal brincando. De repente, ele começou a chorar e fui ver o que estava acontecendo. Vi que a cabecinha dele estava sangrando", diz Liliane Ramos, 22, mãe do menino.
Segundo Liliane, algumas crianças do bairro brincavam com pedras do outro lado da rua, por isso ela suspeitou que uma das pedras tivesse acertado a cabeça do menino.
"Eu o levei para o hospital mais próximo e a médica que analisou o ferimento disse que não era nada e que o buraquinho [do tamanho de um feijão] da cabeça fecharia sozinho. Ela receitou analgésicos e pediu que eu voltasse todos os dias para trocar o curativo", diz.
O menino ficou bem e foi passar o fim de semana na casa dos avós paternos. Lá Samuel teve febre e dor. A tia o levou para outro hospital municipal e mais uma vez o médico não pediu o exame de raio-X.
"Como o Samuel não melhorava, a tia dele resolveu levá-lo para um hospital particular e pagou pelo exame. Só assim os médicos viram que ele tinha uma bala de uma pistola 9 mm na cabeça. A cirurgia foi feita dois dias depois", afirma a mãe.
O neurocirurgião Aramis Pedro Teixeira, que operou Samuel, diz que o menino sobreviveu sem nenhuma sequela "por muito pouco". A bala entrou pelo lado direito, um pouco acima da orelha, atravessou o cérebro fazendo um trajeto angular, bateu no osso do lado esquerdo e desviou para baixo.
"O que importa é o trajeto percorrido pela bala, e não onde ela se aloja. No caso do Samuel, o projétil atravessou de um lado para o outro do cérebro sem atingir estruturas vitais. É comum operarmos perfurações intracranianas, mas operarmos pessoas que ficam sem sequelas é muito raro", afirma Teixeira.
Samuel teve alta quatro dias depois da cirurgia e voltou a fazer tudo como antes. "Ele está muito bem. Corre, grita, joga bola. Não vou deixá-lo trancado dentro de casa", diz a mãe.


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