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Plantão médico
A ciência de luto
JULIO ABRAMCZYK
COLUNISTA DA FOLHA
Crodowaldo Pavan, morto
na sexta-feira, destacou-se
no panorama científico nacional por suas qualidades
excepcionais de professor,
pesquisador e homem de
ciência preocupado com a
difusão do conhecimento.
Foi um dos apenas 80
cientistas do mundo (a
maioria prêmios Nobel) a ter
assento na Pontifícia Academia de Ciências.
Presidente-honorário da
SBPC (Sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência),
presidiu a entidade durante
o regime militar, quando as
reuniões da SBPC eram uma
das raras manifestações públicas contra o governo.
Publicou mais de 130 trabalhos originais de pesquisa
em genética. Entre eles, o estudo com a mosca Rhyn-
chosciara, quando descobriu
a possibilidade de haver alterações do número de genes dentro do cromossomo,
com o desenvolvimento do
inseto. A pesquisa foi confirmada, tanto para insetos como para o homem.
Em todas as suas atividades, a preocupação era construir pontes para que o conhecimento científico pudesse chegar aos mais diferentes níveis da população.
Criou e presidiu a Abradic
(Associação Brasileira de Divulgação Científica) e participava dos trabalhos do Núcleo José Reis de Divulgação
Científica da ECA-USP e da
cátedra Unesco de Divulgação Científica do mesmo núcleo, por meio de cursos de
divulgação científica para
jornalistas e cientistas.
Em 1987, quando presidente do CNPq (Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), criou em São Paulo a
Estação Ciência, atualmente
sob a direção da USP, para
despertar nas novas gerações o interesse pela ciência
e tecnologia.
Uma especial particularidade sua era entender as dificuldades de repórteres
com a ciência, ter paciência e
prazer em atendê-los. Reconhecia a imprensa como importante meio de difusão de
avanços da ciência, quando
seus colegas recusavam-se a
dar entrevistas a jornalistas.
julio@uol.com.br
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