São Paulo, segunda-feira, 11 de maio de 2009

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Alimento não reduz risco cardíaco

Revisão de estudos questiona o efeito protetor de produtos como salmão, grãos integrais e fibras

Para especialistas, o estilo de vida é o fator que mais determina o risco, não o consumo de um ou outro alimento isoladamente

GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma revisão de quase 200 estudos sobre alimentação e doenças cardiovasculares mostra que há pouca evidência que alimentos como salmão, grãos integrais e fibras consigam, sozinhos, reduzir o risco cardíaco.
Segundo os autores do texto, publicado no "Archives of Internal Medicine", um dos jornais do "Jama" (jornal da Associação Médica Americana), apenas nozes, vegetais e a dieta do Mediterrâneo apresentaram forte relação com a diminuição dessas doenças.
Entre os itens que demonstraram pouca relação com proteção ao coração aparecem peixes, ácidos graxos ômega 3 de fontes marinhas, grãos integrais, fibras, álcool e vitaminas C, E e betacaroteno -justamente os mais presentes em pesquisas sobre o tema.
Como a dieta mediterrânea inclui todos esses alimentos, segundo especialistas ouvidos pela Folha, isso reforça a tese de que, na verdade, é o estilo de vida o fator determinante do risco cardíaco -e não o consumo isolado de alimentos.
"Peixe, fibras, cereais integrais continuam sendo benéficos, mas dentro de um estilo de vida saudável e de uma alimentação equilibrada", enfatiza o cardiologista Carlos Scherr, da Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro. "Isso quer dizer que comer só peixe não resolve", exemplifica.
O "Lyon Diet Heart Study", um grande estudo francês feito na década de 1990, revelou que a dieta mediterrânea traz benefícios ao coração por outros mecanismos além da redução de gorduras. Os autores notaram que a mortalidade diminuiu mesmo sem grandes quedas nas taxas de colesterol.
"Não há alimento mágico", reforça a nutricionista Adriana Ávila, do Instituto do Coração, em São Paulo. E o modo de preparo faz toda a diferença. Nunca é demais lembrar que os alimentos grelhados têm menos gordura que os fritos, por exemplo. Uma salada regada com um fio de azeite é mais leve do que os mesmos vegetais refogados no óleo. Quanto menor a quantidade de gordura ingerida, mesmo que seja daquela considerada boa, menor o número de calorias.
"A dieta mediterrânea é considerada a mais saudável do planeta pois aumenta a longevidade", diz o nutrólogo Edson Credidio, da Academia Latino-Americana de Nutrologia.
Segundo ele, quanto mais a pessoa pratica essa dieta, menor a chance de morrer por qualquer causa. Além de diminuir a incidência de doenças cardíacas em 33%, ela reduz o risco de câncer em 24% e também a chance de desenvolver doenças como Alzheimer.
Para Daniel Magnoni, cardiologista e nutrólogo do Hospital do Coração, em São Paulo, é o estilo de vida mediterrâneo que garante os benefícios. "E isso inclui praticar atividade física além da alimentação."


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