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92% dos hospitais possuem falhas em controle de infecção
Levantamento do Cremesp e do Ministério Público de SP encontrou problemas em 146 de 158 instituições paulistas
Relatório não discrimina as deficiências em cada centro, que vão desde ausência de lavatórios até a inexistência de análises microbiológicas
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um levantamento realizado
em 158 hospitais do Estado de
São Paulo pelo Cremesp (Conselho Regional de Medicina do
Estado de São Paulo) e pelo Ministério Público do Estado
mostra que há falhas no controle da infecção hospitalar em
92% das instituições.
A avaliação ocorreu de outubro de 2007 a janeiro de 2008.
Nesse período, os programas de
controle de infecção não atendiam a pelo menos um dos
itens obrigatórios, como existência de lavatórios com sabão
e toalha de papel em áreas críticas, de laboratórios de microbiologia (para analisar os micro-organismos responsáveis
pelas infecções) e a estrutura
do controle de infecção.
Nesses índices, foram computadas instituições que não
atenderam à maioria dos itens
críticos para controle de infecção e hospitais que tiveram
problemas menores, como falta
de reunião periódica entre
membros da comissão. Sete
hospitais não dispunham de
nenhum dos itens. O Ministério Público não discriminou
quais foram os problemas encontrados em cada instituição.
Foram avaliados 65 hospitais
públicos e 93 hospitais privados da capital, Grande São Paulo e do interior. Segundo Fernando Galvanese, médico-fiscal do Cremesp, a amostra é
qualitativa e reflete a realidade
de todo o Estado. "A infecção
hospitalar não é um fenômeno
que possa ser erradicado. Mas
um serviço bem organizado
conseguiria reduzir as taxas de
infecção em até um terço."
Quase metade dos hospitais
visitados não dispunha de um
programa de controle de infecção hospitalar formal. Para
Lycia Mimica, professora da
Faculdade de Ciências Médicas
da Santa Casa de São Paulo, um
programa de controle deve
contemplar itens básicos, mas
nem sempre é acessível a hospitais com recursos limitados.
"Hospitais com menos recursos não costumam atender às
orientações da vigilância. A exigência é grande, mas é de grau
básico", diz.
O infectologista Artur Timerman, dos hospitais Albert
Einstein, Heliópolis e Edmundo Vasconcellos, concorda. "Há
hospitais que nem têm comissão de controle hospitalar ativa. Não cabe pensar que não haja uma comissão de controle
hospitalar". Dos hospitais avaliados, 7,6% não tinham comissão e 11,4% não apresentavam
comissão formalizada.
Riscos
Para Mimica, os problemas
relacionados à infecção hospitalar têm aumentado em razão
do despreparo dos profissionais. Outro risco é o desenvolvimento de bactérias multirresistentes por causa do uso indiscriminado de antibióticos e
da falta de análise microbiológica das infecções, situações
que devem ser monitoradas pela comissão de controle.
"Sem uma comissão organizada, você não sabe quais são as
bactérias prevalentes, e é muito
importante falar que a infecção
hospitalar pode mudar de uma
rua para outra, com perfil e
sensibilidade totalmente diferente", afirma Timerman.
O problema de um hospital
específico ainda pode refletir
em outras instituições que façam um bom controle, uma vez
que pacientes transferidos de
outros hospitais podem carregar consigo bactérias multirresistentes e favorecer infecção
de outros pacientes.
Hospitais
O Ministério Público divulgou uma lista parcial de hospitais que apresentaram problemas durante a inspeção, sem,
no entanto, discriminar as deficiências. Na cidade de São Paulo, o ministério listou cinco
hospitais municipais, seis privados e seis estaduais.
Entre os privados, há o hospital Oswaldo Cruz, que ontem
manifestou surpresa sobre o levantamento. "A instituição verificará, junto a esses órgãos
[Cremesp e Ministério Público], os critérios utilizados para
essa avaliação e tomará as devidas providências", diz em nota.
Entre os hospitais públicos,
foram citados o Pérola Byington (estadual) e o Jabaquara
(municipal). As secretarias municipal e estadual de Saúde informaram que desconheciam o
relatório.
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