São Paulo, terça-feira, 18 de maio de 2010

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Mortes depois de endoscopia provocam interdição em clínica

Local não tem alvará para fazer exame, diz Vigilância Sanitária de Santa Catarina

JEAN-PHILIP STRUCK
DA AGÊNCIA FOLHA
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A Vigilância Sanitária de Santa Catarina interditou ontem a clínica em Joaçaba (419 km de Florianópolis) onde duas mulheres morreram depois de uma endoscopia digestiva.
O local não tinha alvará para realizar esse tipo de procedimento, informou a vigilância. Segundo o órgão, ainda não é possível determinar a causa da mortes, mas há a hipótese de contaminação do endoscópio (tubo flexível usado no exame) e dos sedativos.
A polícia suspeita que a clínica não tinha equipamentos para lidar com emergências.
Na sexta-feira, seis pessoas também passaram mal após o exame. Uma garota de 15 anos continua internada. As outras cinco tiveram alta.
Segundo a Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva, nos últimos cinco anos foram feitos ao menos 40 milhões de endoscopias digestivas no país.
"É um exame feito com muita frequência e muito seguro. Os índices de complicação são muito baixos, menores do que 0,5%", diz Carlos Cappellanes, presidente da sociedade.
Em geral, é feita só uma sedação consciente do paciente. Ele fica sonolento, depois não se lembra de nada. Não é necessária a presença de anestesista.
Segundo a vigilância, no caso de Joaçaba, o médico aplicou doses de diazepan ou midazolan (Dormonid) para anestesiar as pacientes e usou lidocaína para lubrificar o endoscópio.
"Teoricamente, o procedimento está correto. Mas é preciso investigar a concentração das doses aplicadas e se essas pacientes tinham alguma outra complicação preexistente", avalia Cappellanes.

Não era especialista
Segundo Cappellanes, o médico gastroenterologista responsável pelos exames, Denis Conci Braga, 31, não é membro da sociedade e não possui título de especialista em endoscopia.
Ele foi detido na sexta-feira, em flagrante, por homicídio culposo (sem intenção de matar). Braga prestou depoimento, pagou fiança de R$ 2.550 e deverá responder o processo em liberdade.
O Cremesc (Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina) instaurou uma sindicância para apurar as responsabilidades. A Folha tentou falar com o advogado de Braga, Germano Bess, deixou recado, mas não obteve retorno.
Há cerca de cinco anos, três pessoas morreram e 12 passaram mal, em Itagibá (BA) depois de realizarem exames de endoscopia. À época, a Anvisa apontou que houve erro na concentração do princípio ativo da anestesia e interditou a empresa responsável pela fabricação da droga.


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