|
Texto Anterior | Índice
Mortes depois de endoscopia provocam interdição em clínica
Local não tem alvará para fazer exame, diz Vigilância Sanitária de Santa Catarina
JEAN-PHILIP STRUCK
DA AGÊNCIA FOLHA
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A Vigilância Sanitária de Santa Catarina interditou ontem a
clínica em Joaçaba (419 km de
Florianópolis) onde duas mulheres morreram depois de
uma endoscopia digestiva.
O local não tinha alvará para
realizar esse tipo de procedimento, informou a vigilância.
Segundo o órgão, ainda não é
possível determinar a causa da
mortes, mas há a hipótese de
contaminação do endoscópio
(tubo flexível usado no exame)
e dos sedativos.
A polícia suspeita que a clínica não tinha equipamentos para lidar com emergências.
Na sexta-feira, seis pessoas
também passaram mal após o
exame. Uma garota de 15 anos
continua internada. As outras
cinco tiveram alta.
Segundo a Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva,
nos últimos cinco anos foram
feitos ao menos 40 milhões de
endoscopias digestivas no país.
"É um exame feito com muita frequência e muito seguro.
Os índices de complicação são
muito baixos, menores do que
0,5%", diz Carlos Cappellanes,
presidente da sociedade.
Em geral, é feita só uma sedação consciente do paciente. Ele
fica sonolento, depois não se
lembra de nada. Não é necessária a presença de anestesista.
Segundo a vigilância, no caso
de Joaçaba, o médico aplicou
doses de diazepan ou midazolan (Dormonid) para anestesiar
as pacientes e usou lidocaína
para lubrificar o endoscópio.
"Teoricamente, o procedimento está correto. Mas é preciso investigar a concentração
das doses aplicadas e se essas
pacientes tinham alguma outra
complicação preexistente",
avalia Cappellanes.
Não era especialista
Segundo Cappellanes, o médico gastroenterologista responsável pelos exames, Denis
Conci Braga, 31, não é membro
da sociedade e não possui título
de especialista em endoscopia.
Ele foi detido na sexta-feira,
em flagrante, por homicídio
culposo (sem intenção de matar). Braga prestou depoimento, pagou fiança de R$ 2.550 e
deverá responder o processo
em liberdade.
O Cremesc (Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina) instaurou uma sindicância para apurar as responsabilidades. A Folha tentou falar
com o advogado de Braga, Germano Bess, deixou recado, mas
não obteve retorno.
Há cerca de cinco anos, três
pessoas morreram e 12 passaram mal, em Itagibá (BA) depois de realizarem exames de
endoscopia. À época, a Anvisa
apontou que houve erro na
concentração do princípio ativo da anestesia e interditou a
empresa responsável pela fabricação da droga.
Texto Anterior: Falhas nos diagnósticos são comuns Índice
|