São Paulo, terça-feira, 19 de janeiro de 2010

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OMS se defende de acusações de exagerar no alarme da gripe A

Críticos acusam organização de agir sob pressão de indústrias farmacêuticas

LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

A diretora-geral da Organização Mundial da Saúde, Margaret Chan, usou ontem metade de seu discurso na abertura da sessão anual do conselho executivo da entidade para defender a OMS de acusações de exagerar o alarme em torno da gripe A (H1N1).
Críticos acusam a organização de agir sob pressão de empresas farmacêuticas interessadas em vender vacinas e exagerar a ameaça representada pelo vírus que matou, até agora, cerca de 13,5 mil pessoas.
"Em termos de monitoramento, esta tem sido a pandemia mais observada de perto e analisada cuidadosamente da história", disse Chan em Genebra, após classificar o impacto moderado da gripe como "a melhor notícia da década".
"É natural que cada decisão ou ação que orientou a reação [à pandemia] seja, da mesma forma, examinada minuciosamente. A OMS pode arcar com esse escrutínio."
Passados dez meses após os primeiros casos serem relatados, os danos causados pelo vírus foram mais modestos do que o previsto, quando se vislumbrou as mortes na escala dos centenas de milhares ou mesmo milhões. Reflexo disso são os milhares de doses de vacinas estocadas, provocando críticas de políticos e médicos.
Na França, o governo de Nicolas Sarkozy foi criticado pela oposição socialista por comprar 94 milhões de doses (quase 50% mais do que a população do país) e usar só 5 milhões.
A mídia suíça -o país é sede de algumas das maiores farmacêuticas do mundo- relata casos semelhantes em vários outros países. É o caso, por exemplo, da Alemanha, que tenta renegociar e reduzir pela metade sua encomenda de 50 milhões de doses, ou da Holanda, que tenta revender o que tem.
Na próxima segunda, o Parlamento Europeu examinará uma proposta apresentada pela Comissão de Saúde do Conselho da Europa para iniciar uma investigação sobre a influência da indústria farmacêutica sobre a campanha da OMS, que incluiu recomendações de vacinação aos governos e extensa cobertura de mídia.
Para Chan, no entanto, parte do problema na administração das percepções públicas "vem da diferença entre o que era esperado, após acompanharmos por tanto tempo um vírus tão letal como o H5N1, e o que felizmente aconteceu".
Ela atribui o abismo a uma combinação de "sorte" e de fluxo de informação em tempo real, que a seu ver teve simultaneamente um efeito positivo (acelerou as ações de combate) e negativo (confundiu o público devido ao seu volume).
A diretora-geral também alertou para a medição precoce do impacto: "Estimativas de saldo de mortos e taxa de mortandade não serão possíveis antes de pelo menos dois anos após o fim da atual epidemia."
No Brasil, não há mudanças em relação às vacinas encomendadas: o país terá 83 milhões de doses para vacinar os grupos prioritários.


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