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OMS se defende de acusações de exagerar no alarme da gripe A
Críticos acusam organização de agir sob pressão de indústrias farmacêuticas
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
A diretora-geral da Organização Mundial da Saúde, Margaret Chan, usou ontem metade
de seu discurso na abertura da
sessão anual do conselho executivo da entidade para defender a OMS de acusações de exagerar o alarme em torno da gripe A (H1N1).
Críticos acusam a organização de agir sob pressão de empresas farmacêuticas interessadas em vender vacinas e exagerar a ameaça representada
pelo vírus que matou, até agora,
cerca de 13,5 mil pessoas.
"Em termos de monitoramento, esta tem sido a pandemia mais observada de perto e
analisada cuidadosamente da
história", disse Chan em Genebra, após classificar o impacto
moderado da gripe como "a
melhor notícia da década".
"É natural que cada decisão
ou ação que orientou a reação
[à pandemia] seja, da mesma
forma, examinada minuciosamente. A OMS pode arcar com
esse escrutínio."
Passados dez meses após os
primeiros casos serem relatados, os danos causados pelo vírus foram mais modestos do
que o previsto, quando se vislumbrou as mortes na escala
dos centenas de milhares ou
mesmo milhões. Reflexo disso
são os milhares de doses de vacinas estocadas, provocando
críticas de políticos e médicos.
Na França, o governo de Nicolas Sarkozy foi criticado pela
oposição socialista por comprar 94 milhões de doses (quase 50% mais do que a população do país) e usar só 5 milhões.
A mídia suíça -o país é sede
de algumas das maiores farmacêuticas do mundo- relata casos semelhantes em vários outros países. É o caso, por exemplo, da Alemanha, que tenta renegociar e reduzir pela metade
sua encomenda de 50 milhões
de doses, ou da Holanda, que
tenta revender o que tem.
Na próxima segunda, o Parlamento Europeu examinará
uma proposta apresentada pela
Comissão de Saúde do Conselho da Europa para iniciar uma
investigação sobre a influência
da indústria farmacêutica sobre a campanha da OMS, que
incluiu recomendações de vacinação aos governos e extensa
cobertura de mídia.
Para Chan, no entanto, parte
do problema na administração
das percepções públicas "vem
da diferença entre o que era esperado, após acompanharmos
por tanto tempo um vírus tão
letal como o H5N1, e o que felizmente aconteceu".
Ela atribui o abismo a uma
combinação de "sorte" e de fluxo de informação em tempo
real, que a seu ver teve simultaneamente um efeito positivo
(acelerou as ações de combate)
e negativo (confundiu o público
devido ao seu volume).
A diretora-geral também
alertou para a medição precoce
do impacto: "Estimativas de
saldo de mortos e taxa de mortandade não serão possíveis antes de pelo menos dois anos
após o fim da atual epidemia."
No Brasil, não há mudanças
em relação às vacinas encomendadas: o país terá 83 milhões de doses para vacinar os
grupos prioritários.
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