São Paulo, quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

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Acusação à OMS não muda conduta do Brasil na gripe A

Programa de vacinação de grupos de risco, como gestantes e indígenas, será mantido e deve ocorrer entre março e abril

Para especialistas ouvidos pela Folha, comportamento da organização durante o auge do surto foi prudente, mas com possível exagero

Goldsmith and Balish/Associated Press
Imagem do vírus da gripe A (H1N1) realizada em laboratório

JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
IARA BIDERMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

As acusações de que a OMS (Organização Mundial da Saúde) exagerou no alarme da gripe A, levando alguns países a comprar mais doses de vacina do que o necessário, não muda nada na política de vacinação programada para o Brasil.
De acordo com a assessoria de imprensa do Ministério da Saúde, o país terá 83 milhões de doses para vacinar os grupos prioritários. A definição exata de quais serão esses grupos e as datas de vacinação (previstas para março ou abril) devem ser divulgadas até fevereiro.
Os grupos prioritários previstos são profissionais da saúde envolvidos no atendimento aos pacientes, grávidas, crianças entre seis meses e dois anos, comunidades indígenas e pessoas com doenças crônicas preexistentes (cardíacas, pulmonares etc.). E não haverá vacina na rede privada.
"A Sociedade Brasileira de Infectologia entende que, neste momento, tornar disponível o maior número possível de doses e priorizar a vacinação dos grupos de maior risco é a conduta adequada", diz Juvêncio Furtado, presidente da SBI.

Acusação refutada
A acusação de que a OMS agiu sob pressão da indústria farmacêutica não é compartilhada pelos especialistas ouvidos pela Folha.
"O surto começou e não existiam elementos para saber qual seria a sua dimensão. Com base no que ocorreu em pandemias passadas, fizeram projeções e imaginaram a gravidade possível. Está errado? Talvez por prudência tenham exagerado, mas não acho que a OMS foi movida por interesses comerciais", afirma o infectologista Vicente Amato Neto, professor emérito da USP.
"Acho que, por questão de prudência, começaram a tomar medidas intensas, não sei se isso é um erro: se os danos foram menores [do que os previstos] foi bom, não é?", acrescenta.
Para ele, o que está em discussão agora é a definição de pandemia. Segundo os atuais critérios da OMS, a fase 6, que define a pandemia, é caracterizada por contágio do vírus entre humanos em pelo menos dois países de uma mesma região e em pelo menos mais um país em uma região diferente, causando surtos sustentáveis.
O infectologista David Uip, diretor do hospital Emílio Ribas, em São Paulo, considera a discussão "financeiro-econômica" e não acredita que deva influenciar nas medidas preventivas contra a doença. "Não se sabe o que vai ocorrer. O que se garante é que a vacina muda o curso de uma pandemia. Nós, que víamos os exames anatomopatológicos de quem morreu da doença, sabíamos do que estávamos falando. Sabemos direito o que aconteceu e a gravidade da doença", diz.


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