São Paulo, sábado, 21 de março de 2009

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Exame ajuda a identificar se dor no peito é cardíaca

Método é o primeiro a mostrar se dor é isquêmica até 24 horas após fim do sintoma


Procedimento pode evitar que quadro evolua para infarto; outros exames perdem a eficácia de duas a três horas após a dor acabar

Fotos Filipe Redondo/Folha Imagem
Exame é feito em aparelho de PET-CT no laboratório Fleury, em São Paulo; teste indica se dor está ligada a problema no coração

FLÁVIA MANTOVANI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um novo exame ajudará a identificar as causas de um dos sintomas que mais costumam assustar pacientes e médicos: a dor no peito, que pode ser desencadeada tanto por um infarto quanto por uma simples azia.
O método permite avaliar, até 24 horas após o fim da dor, se sua origem é isquêmica -quando o músculo cardíaco entra em sofrimento devido à falta de irrigação sanguínea. Com isso, pode evitar que o quadro evolua para um infarto.
Os exames atuais perdem a eficácia de duas a três horas depois que a dor acaba, mostrando-se inconclusivos ou normais, o que gera o risco de que a pessoa infarto após ir para casa.
O novo procedimento é feito com um aparelho de PET-CT, que une recursos da medicina nuclear e da radiologia. É rotina recente nos EUA e chegou ao Brasil em dezembro de 2008, no laboratório Fleury.
Segundo a cardiologista Paola Smanio, chefe da medicina nuclear do Instituto Dante Pazzanese e do laboratório Fleury, novos estudos provam que, até 24 horas após a dor, as células que sofreram a isquemia permanecem com alterações metabólicas. Esse conceito é chamado memória isquêmica.
No exame, é injetado um marcador que detecta essas alterações. "Se as células estão em sofrimento devido à isquemia, alimentam-se de glicose. O marcador identifica essa glicose, o que permite avaliar de forma bem fiel se a dor que a pessoa teve é de origem cardiológica", explica Smanio.
"Determinar se uma dor no peito que começou algum tempo antes de o paciente buscar ajuda é consequência de uma isquemia tem sido desafiador", escreveu o pesquisador Vasken Dilsizian, autor de um artigo publicado em dezembro de 2008 no "Journal of Nuclear Medicine" sobre a memória isquêmica. Segundo ele, nesse caso o exame físico costuma resultar normal e o eletrocardiograma, inalterado.
Smanio acrescenta que o eletro costuma dar resultado falso positivo em mulheres, já que as moléculas de estrogênio podem simular uma isquemia. Por isso, o médico pode não dar importância a uma alteração e liberá-la inadvertidamente.
A cintilografia miocárdica, outro exame da medicina nuclear, também diagnostica a isquemia, mas perde a eficácia após três horas do início da dor. Muitas vezes, a solução é internar o paciente para observação.
Smanio diz que é comum haver demora para buscar atendimento. "Ficamos rendidos. Se liberamos o paciente, ele pode ter um infarto em casa. Se o internamos e ele não tem nada, um leito é ocupado sem necessidade. É difícil distinguir a dor de origem cardíaca de outra causada por uma crise de ansiedade, por exemplo", diz. Segundo um estudo recente, até 10% dos pacientes com dor torácica liberados por falta de alteração no eletro evoluem para infarto.
Para José Soares Jr., presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear, o exame tem potencial para se disseminar. "É bem inovador. Com ele, o diagnóstico fica mais concreto. Acho que vai atrair os cardiologistas", diz. Ele ressalta que o uso do PET-CT não é rotina na cardiologia.
O método é indicado para pessoas mais propensas a doenças cardíacas, como fumantes e obesos.


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