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Drogas e mau estilo de vida favorecem infarto precoce
Parada cardíaca em jovens pode ser mais fatal pelo atraso em busca por tratamento
Atriz americana Brittany Murphy, 32, infartou e morreu no domingo; suspeita-se de abuso no uso de remédios analgésicos
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Cardiologistas atribuem o
aumento no número de jovens
infartados, observado nos últimos anos, à má qualidade de vida nessa faixa etária, ao uso
mais frequente de drogas, principalmente de cocaína, e à precisão do diagnóstico.
"A literatura já diz isso e observamos na prática. Está relacionado aos fatores de risco como um todo, que têm a ver com
vida moderna, estresse, sedentarismo, obesidade, diabetes,
tabagismo", afirma o cardiologista César Jardim, supervisor
do Pronto-Socorro do HCor
(Hospital do Coração).
"O abuso de drogas leva a
maiores complicações cardíacas mais precocemente", completa o cardiologista Edson Stefanini, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). A cocaína favorece a formação de
coágulos (que podem bloquear
a passagem de sangue para o
coração), leva à contração das
artérias e acelera o processo de
aterosclerose.
Geralmente o infarto em alguém com menos de 40 anos
vem acompanhado de fatores
de risco, dizem os especialistas.
A atriz americana Brittany
Murphy morreu no domingo
de infarto fulminante aos 32
anos. De acordo com agências
internacionais, a atriz era viciada em analgésicos. Suspeita-se
que o uso abusivo de hidrocodona, um tipo de opioide, com
paracetamol poderia ter causado a parada cardíaca.
Segundo o psiquiatra Marcelo Niel, pesquisador da Unifesp
(Universidade Federal de São
Paulo), a hidrocodona não é comercializada no Brasil, mas há
outros opioides disponíveis no
país, como a codeína, a dolantina e o cloridrato de tramadol,
com efeitos semelhantes. "São
drogas de uso controlado, mas
podem ser encontradas no
"mercado negro". Como têm
efeito depressor do sistema
nervoso, o uso abusivo pode levar a uma parada respiratória
seguida por parada cardíaca. A
pressão sanguínea cai, há redução no número de batimentos,
não chega sangue o suficiente
ao coração e ele para", diz.
O infarto ocorre quando há
redução do fluxo sanguíneo nas
coronárias (artérias que irrigam o coração) por causa de um
bloqueio nesses vasos. Parte do
músculo cardíaco pode sofrer
necrose por falta de oxigênio.
Mais fatal
Para Ari Timerman, presidente da Socesp (Sociedade de
Cardiologia do Estado de São
Paulo), infartos costumam ser
mais fatais em jovens por características do sistema cardiovascular. "Idosos com doenças
nas coronárias vão desenvolvendo uma circulação colateral
[mais vasos periféricos] para
suprir a irrigação sanguínea na
região do coração", explica. Assim, caso haja a obstrução de
uma artéria, os outros vasos
sanguíneos podem manter a
oxigenação do coração.
"Outros dados podem justificar a questão. Há casos de infarto mais agressivo e fulminante em jovens primeiro porque eles não imaginam que estão tendo um infarto, então demoram mais para ter o diagnóstico, porque levam mais
tempo para procurar auxílio",
acrescenta César Jardim.
Pelo mesmo motivo, as mulheres morrem de infarto com
mais frequência, ainda que os
homens infartem três vezes
mais. "Por ela achar que essa situação ocorre mais em homens, acaba postergando o
diagnóstico", diz Jardim.
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