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15 bebês morrem com asfixia por dia
Metade das mortes ocorre em recém-nascidos de baixo risco; número é considerado alto por médicos
Cientistas de sociedade de pediatria colheram dados de certidões de óbitos de bebês na 1ª semana de vida em secretarias da saúde do país
GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL
Todos os dias, morrem 15 recém-nascidos com asfixia no
Brasil na primeira semana de
vida. Seis deles são bebês considerados de baixo risco -não
são prematuros nem têm malformações. O dado é de um estudo inédito, feito por pesquisadores do Programa de Reanimação Neonatal da Sociedade
Brasileira de Pediatria, que será
apresentado no Congresso
Paulista de Pediatria, que começa hoje, em São Paulo.
Isso significa uma morte em
cada mil nascidos vivos. Para se
ter uma ideia, na maior maternidade dos EUA, apenas cinco
bebês em cada dez mil nascimentos sofrem asfixia, e nem
todos morrem.
"Sabíamos que o número era
alto, mas não imaginávamos
que fosse tanto assim", diz Maria Fernanda de Almeida, professora da Unifesp e coordenadora do Programa de Reanimação Neonatal da SBP.
Os pesquisadores realizaram
uma busca em todos os atestados de óbito de crianças com
até seis dias de vida em todos os
Estados do país. Foram considerados os registros que incluíam condições que envolveram a asfixia, como hipóxia intrauterina ou síndrome da aspiração meconial -mesmo que
essa não fosse a principal causa
da morte.
A asfixia ocorre quando há
falta de oxigenação no cérebro
e nos órgãos do bebê. Ela pode
levar à morte ou deixar graves
sequelas. Em grande parte dos
casos, pode ser evitada, com um
bom acompanhamento no pré-natal para avaliar a saúde da
gestante e o desenvolvimento
do feto e com atenção no parto,
monitorando o bebê.
Além disso, quando a asfixia
é constatada, podem ser adotadas medidas de reanimação
neonatal, que podem reverter o
quadro se tomadas a tempo.
Estimativas internacionais
mostram que o atendimento ao
parto por profissionais habilitados pode reduzir em 20% a
30% a mortalidade neonatal.
As técnicas de reanimação podem garantir uma redução adicional de 5% a 20% dessas taxas, levando à queda de 45%
das mortes por asfixia.
"Essas mortes tiveram na asfixia um colaborador", explica
Ruth Guinsburg, uma das autoras, professora da Unifesp e
coordenadora do Programa de
Reanimação Neonatal da SBP.
Segundo o Datasus, a asfixia é
a causa de 9% dos óbitos que
acontecem na primeira semana
de vida. Mas, segundo a pesquisa, o dado não leva em conta a
contribuição da asfixia nas
mortes por outras causas. Nesse caso, o valor sobe para 20%.
"Ponta do iceberg"
A pesquisa encontrou 5.366
óbitos que foram associados à
asfixia ao nascer. A enorme
maioria (94%) eram fetos únicos e 56% morreram antes de
completar 24 horas de vida.
61% dos partos foram vaginais.
"Isso é so a ponta do iceberg",
diz Guinsburg. "Nem dá para
mensurar quantos bebês sofrem asfixia e sobrevivem com
sequelas, sem contar as subnotificações, pois muitos morrem
sem nem ter registro."
Os dados foram colhidos em
2005, mas os pesquisadores já
estão analisando os números
de 2006 e de 2007 e a situação
não é muito diferente.
"É preciso qualificação em
toda a cadeia, desde o pré-natal
adequado até o atendimento no
parto", diz Guinsburg.
"Não temos uma estatística
precisa sobre as mortes por asfixia pois, de fato, uma criança
com asfixia pode ter uma infecção, por exemplo, e isso é o que
será considerado a causa da
morte", exemplifica Elza Giugliani, coordenadora da área
técnica da saúde da criança do
Ministério da Saúde. "O ministério tem consciência do problema e estamos trabalhando
para diminuir a mortalidade
neonatal", diz Giugliani.
Ela cita várias ações, que incluem capacitação de profissionais, principalmente nas regiões Norte e Nordeste -onde
a mortalidade é maior-, além
da qualificação do pré-natal.
Uma das ações visa capacitar
pediatras em reanimação neonatal e vem sendo feita em parceria com a Sociedade Brasileira de Pediatria. O programa já
capacitou mais de 700 profissionais. Ao longo dos últimos 11
anos, o programa da SBP já treinou mais de 40 mil profissionais da saúde.
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