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Cirurgia feita por Faustão é proibida pela Justiça Federal
Técnica já foi realizada em mais de 450 pacientes, mas não está regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina
Procedimento, conhecido como interposição de íleo, foi desenvolvido há seis anos pelo cirurgião goiano Áureo Ludovico de Paula
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A Justiça Federal de Goiás
proibiu ontem, em caráter liminar, a realização da cirurgia de
redução de estômago que promete curar o diabetes até que o
médico Áureo Ludovico de
Paula submeta o procedimento
-considerado experimental-
ao Conselho Federal de Medicina e ao Conep (Comitê Nacional de Ética em Pesquisa).
Em caso de descumprimento, Ludovico será multado em
R$ 100 mil por cada cirurgia
realizada em desacordo com a
decisão. A técnica, conhecida
como interposição de íleo, foi
desenvolvida pelo cirurgião
goiano e realizada no apresentador Fausto Silva. Mais de 450
pacientes já se submeteram ao
procedimento. Cabe recurso.
Enquanto aguarda a aprovação do Conep e do CFM, Ludovico só poderá realizar o procedimento em casos comprovados de urgência (como risco de
morte). Essa decisão caberá a
uma câmara formada por três
médicos no Conselho Regional
de Medicina de Goiás por determinação do juiz Urbano
Leal Berquó Neto.
A decisão atende parcialmente a uma ação do Ministério Público Federal contra o
médico. O procedimento não
tem aprovação do Conep e não
é reconhecido nem pelo CFM
nem pela Sociedade Brasileira
de Cirurgia Bariátrica.
A diferença dessa técnica para a cirurgia convencional está
na recolocação do íleo (fim do
intestino delgado) entre o duodeno e o jejuno. Ao entrar em
contato com o alimento, o íleo
começa a produzir GLP1 (hormônio que estimula a produção
de insulina). Nos diabéticos tipo 2, a insulina está reduzida no
organismo e o íleo produz pouco GLP1 porque a maior parte
do alimento já foi absorvida.
Com o reposicionamento de
parte do intestino, o alimento
entra em contato mais rápido
com o íleo, o que pode aumentar a produção do GLP1.
Thomaz Szegö, presidente da
SBCBM, diz que ainda não há
evidências que comprovem a
eficácia da técnica. "A sociedade segue a lei, e a lei diz que não
se pode inventar uma técnica
no consultório e começar a usar
nos pacientes. Não se autoriza
uma técnica com pacientes
operados em série, por um cirurgião que vai realizando uma
operação atrás do outra."
Procurado pela reportagem,
Ludovico disse que ainda não
tinha sido notificado da decisão. Questionado sobre o pedido de autorização ao Conep, o
médico disse que "essa cirurgia
não é experimental, por isso
não precisa de autorização."
Colaborou JULLIANE SILVEIRA, da Reportagem Local.
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