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A vida secreta das palavras

por JOSÉ EDUARDO AGUALUSA

recolhido em amsterdã para finalizar um de seus livros, O ESCRITOR angolano JOSÉ EDUARDO Agualusa foi observado pelas lentes De JORDI BURCH

Faltavam-me poucos capítulos para concluir meu último romance, "Barroco Tropical" (Cia. das Letras, 2009), quando recebi um convite para permanecer três meses num apartamento para escritores em Amsterdã. Acabei por aceitar.

1. Um dia, bateram à minha porta. Era uma jovem poetisa holandesa. Ela me levou para conhecer as noites de Amsterdã, de bicicleta, que está para a cidade como a prancha de surf está para o Rio.

2. Trabalhei muito nesses dias. Em apartamentos para escritores, persistem as energias inspiradoras, as musas, digamos assim, dos escritores que estiveram ali antes de nós

3. Evito viajar no inverno para países onde não prosperam palmeiras. Amsterdã, porém, tem uma luz muito bonita, mesmo no inverno, por causa dos canais. A água reflete a luz.

4. Inscrevi-me numa academia para não perder a forma. Ia e vinha a correr. Tinha a sensação de que, se parasse um momento, morreria de frio.

5. Sinto falta dessa janela e da melancolia da paisagem. É bom escrever enquanto neva lá fora. Verdade que eu preferia escrever no Leblon, tendo à minha frente o brilho do oceano. Infelizmente, não há residências para escritores no Leblon.

6. Essa pracinha fica atrás do Museu da Cidade. Amsterdã tem muitos museus que merecem a visita, a começar pelo de Van Gogh. Para quem se interessa pelo assunto –aliás, um assunto muito interessante–, há pelo menos dois museus dedicados à marijuana. E um Museu do Sexo. Sexo e marijuana são duas imagens marcantes da cidade.

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