São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FINO

Anuncie aqui!

por FERNANDA EZABELLA, de Los Angeles

Em novo documentário, Morgan Spurlock – aquele que passou 30 dias comendo McDonald’s em "Super Size Me" –mira a publicidade. O prefeito Gilberto Kassab faz ponta no filme, que foi inteiramente financiado por ações de merchandising


Como o protagonista-cobaia de seus próprios filmes, Morgan Spurlock já foi perseguido por judeus raivosos, esteve numa zona de guerra e numa mina de carvão. Ganhou fama e uma indicação ao Oscar com "Super Size Me –A Dieta do Palhaço" (2004), em que passou 30 dias comendo apenas no McDonald’s. Seu novo trabalho, "The Greatest Movie Ever Sold" (o melhor filme já vendido), que estreou semana passada nos Estados Unidos, segue a mesma linha kamikaze. Sua vítima: a publicidade.
"Gosto de me colocar em situações horrorosas para examinar questões sociais, de uma maneira a torná-las mais interessantes, divertidas e acessíveis", diz Spurlock à Serafina, coçando o bigode que é sua marca. Esse gosto por situações desconfortáveis acompanha Spurlock desde a infância, quando quis porque quis tornar-se bailarino. "Cresci em West Virginia [EUA] e por lá não era nada bacana fazer balé", diz. "Eu era perseguido, me surravam e tal. Imagine o que você quiser, aconteceu comigo."
 Com "Super Size Me", Spurlock ganhou 11 quilos. Em "Where in the World Is Osama Bin Laden?" (onde no mundo está Osama Bin Laden?, 2008), seu segundo longa, escapou de um linchamento quando filmava em Israel. "The Greatest Movie Ever Sold" não oferece risco à sua saúde, mas a estratégia é igualmente arriscada: fazer um filme inteiramente financiado por ações de merchandising, registrando as negociações de venda de espaço. "A ideia era criar um blockbuster, um ‘Homem de Ferro’ dos documentários", diz o diretor, que vendeu até o título para uma fabricante de suco de romã concentrado –a marca aparece antes do nome da obra (e reaparece em momentos tão absurdos como no meio de uma entrevista com um acadêmico).
Spurlock provoca o público com uma enxurrada de publicidade, ao mesmo tempo em que trata bem os anunciantes, já que precisa mantê-los no jogo até o final. É possível vê-lo apresentando o projeto para publicitários e empresas. Das 500 companhias que ele procura, apenas 17 topam colocar dinheiro no filme, como uma marca de desodorante, uma rede de lanchonetes e uma fabricante de carros –nenhuma das quais terá controle algum do resultado final da obra.
 Bem ao seu estilo, Spurlock faz até testes de ressonância magnética para entender como funciona o "neuromarketing", ciência e publicidade a serviço das bilheterias de Hollywood. A cidade de São Paulo faz ponta no filme como exemplo de combate ao excesso de propaganda nos centros urbanos, com direito a palhinha do prefeito Gilberto Kassab. "O filme já se pagou e deu lucro antes mesmo de estrear", provoca Spurlock. "É extraordinário."

Texto Anterior: IN LOCO: Kabbalah Centre. Um mergulho do filósofo no curso de cabala de Madonna, por Luiz Felipe Pondé
Próximo Texto: ENSAIO: Iwan Baan. Fotógrofo holandês usa a arquitetura como pano de fundo para registrar a vida, por Iwan Baan
Índice

 


Clique aqui Para deixar comentários e sugestões Para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É Proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou imPresso, sem autorização escrita da Folhapress.