São Paulo, domingo, 27 de junho de 2010

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IN LOCO

Uma visita aos estúdios da Pixar, criaora da animação "Toy Story"

por IARA CREPALDI, de EMERYVILLE (CALIFÓRNIA)

POR DENTRO DA PIXAR

Serafina visita o estúdio de animação criador da trilogia "Toy Story" e mostra como se faz, nos bastidores, um campeão de bilheteria

O paraíso dos animadores fica do outro lado da Bay Bridge (ponte de San Francisco), em Emeryville, na Califórnia. A Pixar é produtora do primeiro longa de animação em computação gráfica, "Toy Story" (1995), e de outros dez filmes, como "Os Incríveis" (2004) e "Procurando Nemo" (2003), que acumulam 17 Oscars e faturamento médio de meio bilhão de dólares cada um.
Para criar essa sequência de blockbusters, a produtora construiu um ambiente que parece um clube. Em um terreno de 60 mil metros quadrados, o edifício (de aço, alvenaria e vidro) é cercado por áreas verdes, piscina, quadra esportiva, mesas de jogos, anfiteatro, horta e bancos ao ar livre.
O dia lá começa com um café da manhã no átrio onde as outras refeições também são servidas e algumas reuniões acontecem. Os funcionários têm escritórios customizados (alguns com bares), frequentam aulas de ioga na academia da empresa ou de animação na Pixar University.
"O trabalho aqui parece um encontro de crianças na caixa de areia do parquinho", descreveu o ator John Ratzenberger (voz do porco-cofrinho Hamm), na primeira exibição de "Toy Story 3" para a mídia, em abril, no cinema da Pixar. "É por isso que as mesmas pessoas do "Toy 1" continuam no "Toy 3". Estão há 15 anos na empresa, desde quando todo mundo cabia num carro."
O Graphics Group, que deu origem à Pixar, formou-se em 1979, como uma divisão especializada em gráficos no departamento de computadores da Lucasfilm, produtora do diretor George Lucas, criador de "Guerra nas Estrelas". Em 1986, a unidade, então deficitária, foi barganhada por Steve Jobs por US$ 10 milhões. Nasceu a Pixar (em espanhol, fazer pixels). Mas a empresa também não engrenou e, após uma década tentando transformá-la numa fábrica de software e hardware de animação, Jobs chegou a oferecê-la para a Microsoft. Foi quando o animador John Lasseter (hoje, chefe de criação da Pixar e da Disney) convenceu a Disney a financiar e distribuir uma animação da Pixar. Surgiu assim "Toy Story", primeiro sucesso da parceria.
Dez anos depois, Jobs já conseguia financiar seus filmes sozinho, e a Disney percebeu que a aquisição da empresa era inevitável. Então, comprou-a por US$ 7,4 bilhões em 2006.

FÁBRICA DE HISTÓRIAS
Hoje, os funcionários de "Toy Story 3" lotariam um metrô inteiro. O filme reuniu quase 400 profissionais por quarto anos trabalhando no estúdio.
O primeiro e mais importante passo no processo criativo da empresa é definir um bom enredo. A equipe de "Toy 3" fez um retiro criativo no Poet's Loft, chalé perto de de San Francisco, para conceber a história.
A ideia veio no segundo dia: como ficariam os brinquedos se o dono deles se mudasse? A partir daí, o roteirista Michael Arndt e o diretor Lee Unkrich rascunharam sequências de cenas (storyboards) para vários desfechos.
No primeiro ano, trabalharam na caracterização dos personagens, visitaram creches, esculpiram brinquedos em argila, definiram cores, personalidades.
Os storyboards deram origem ao "story reel", uma série de imagens projetadas para a plateia da casa no quarto mês de criação.
A dublagem, feita por atores e pela equipe, teve início no segundo ano, quando foi acrescentada textura (pele, cabelo, pelúcia, tecido) e a imagem começou a se mover. A cada manhã, o time revia os segundos de cena do dia anterior para aperfeiçoá-los.
No terceiro ano de trabalho, as dificuldades técnicas aumentaram, e os animadores trabalhavam até tarde em seus escritórios. Uma cena de ação, com fumaça, campos de força, lasers, terrenos íngremes e uma explosão precisou de 27 artistas e quatro meses para ficar pronta. "A estrutura da Pixar torna o processo agradável. Os encontros no café podem ser os momentos mais produtivos do dia", diz a produtora Darla Anderson.
Com boa parte das cenas animadas e sonorizadas, começou a "renderização" (processo digital para gerar um quadro em alta resolução). Um segundo de imagem tem 24 quadros, que levam de sete a 39 horas para renderizar. "Toy Story 3" tem 1.701 cenas, 93 minutos e 129 mil frames, e consumiu 999 mil horas de computadores na finalização.
Em 2001, os cofundadores da Pixar, Loren Carpenter e Edwin Catmull, e o cientista Robert Cook ganharam um prêmio técnico pelo desenvolvimento do programa RenderMan. Hoje, a Pixar tem duas "render farms", com 5.000 computadores de renderização. Uma única máquina levaria 114 anos para fazer o trabalho.
A última etapa do filme, de mixagem do áudio (combinação de diálogos, músicas e efeitos sonoros), foi feita no Skywalker Sound (divisão da Lucasfilm) semanas antes da apresentação à mídia, que assistiu ao longa com cenas inacabadas. "Nunca terminamos um filme. Somos obrigados a lançá-lo antes", brincou Lee Unkrich na entrevista coletiva.
Em sua estreia, em 19 de junho, "Toy Story 3" faturou US$ 110 milhões no primeiro fim de semana nos EUA. A animação bateu todos os recordes de bilheteria da Pixar, e, para os críticos, os brinquedos atingiram o "infinito e além" –bordão do personagem Buzz. Para os funcionários, é apenas resultado de alguns anos brincando no parquinho.

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