São Paulo, domingo, 29 de Maio de 2011

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POP UP

O filho do selvagem

por Ana Paula Sousa

Em sua estreia no cinema, henry hopper mostra o mesmo magnetismo de seu pai, Dennis Hopper, símbolo da juventude transviada dos anos 60

Na primeira sequência de "Inquietos", que abriu a mostra Um Certain Regard, no Festival de Cannes, o espectador é hipnotizado por um rosto. O adolescente de traços quase femininos, de tão delicados, é seguido pela câmera a caminho de um enterro. O casaco preto realça o dourado de seu cabelo. O ambiente fúnebre ressalta sua expressão solitária. O novo garoto de Gus van Sant, o diretor que parece filmar por amor à beleza juvenil, impactou a Côte d'Azur. Ao final da projeção, seu nome foi revelado: Henry Hopper. E então ficava claro que já tínhamos visto aquele olhar na tela. Era o olhar de Dennis Hopper (1936-2010), seu pai. Henry Hopper tem 21 anos e, apesar de ter feito um curso de interpretação aos 14, nunca havia deixado o cinema entrar na sua vida. Filho do ator que se tornou símbolo da juventude transviada dos anos 60, ?Henry admite temer a câmera e suas consequências. "Tenho muito amor pela arte e pelo cinema, mas, durante muito tempo, resisti a ser ator. Mas hoje sei que atuar é também um meio de expressão artística", afirmou, durante a conferência de imprensa do filme. A tumultuada vida de seu pai, que conheceu o inferno com as drogas e teve cinco casamentos -Henry é filho da atriz Katherine LaNasa, seria a razão da resistência? "Eu vi pessoas indo... Vi pessoas lutando...", respondeu, como quem daria tudo para não ter de falar sobre o assunto. "Mas temos que nos dedicar a alguma coisa com intensidade." Nascido em Los Angeles, Henry estudou pintura e escultura e fez a primeira exposição aos 18 anos. Há dois anos, mudou-se para Berlim, atrás de uma atmosfera mais artística, menos contaminada pelos tiques da indústria do entretenimento -que parecem, de fato, perturbá-lo. Um dia após a exibição de "Inquietos", Serafina tinha uma entrevista marcada com ele. Numa praia chamada Moët & Chandon, o ator deveria conversar com jornalistas do mundo todo, divididos em grupos de oito pessoas. Gus Van Sant, a atriz Mia Wasikowska, par de Hopper em cena, o roteirista e a produtora também participariam das "mesas". Eram quatro os grupos. E Henry, ao sentar-se no primeiro deles, mal conseguia falar. Seus olhos pairavam sobre os gravadores enquanto Wasikowska falava. Ao fim do segundo grupo, Henry, com expressão já aflita, desapareceu. Ele afirmara, durante a conferência de imprensa, que quase tudo o que sabe sobre atuação aprendeu com o pai. E que também levou dele um ensinamento: "Seja cool". Mas ao entrar no mundo do tapete vermelho, das entrevistas e fotos, Henry percebeu que seu desejo de ser cool talvez fosse incompatível com a voracidade da mídia. E então, simplesmente, sumiu.

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