São Paulo, domingo, 29 de Maio de 2011

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FINA

MUSA FASHION

por Ana Paula Sousa

Atriz de "Gossip Girl", ícone da moda e herdeira de Sarah Jessica Parker, Blake Lively estreia em seu maior papel no cinema, no filme "Lanterna verde"

Blake Lively tem uma hora para falar com Serafina antes de embarcar para Londres. Sou levado para o canto de um amplo loft do Milk Studios, no bairro do Meatpacking District, na ilha de Manhattan, Nova York, onde ela termina sua penúltima entrevista do dia. Antes de se retirar, a repórter que me cede a vez pede uma foto com Blake, e me dá a tarefa (não opcional) de fazer a imagem. Ela murmura para a atriz: "Seu cabelo vai me ofuscar". "Vai nada", diz Blake. "Eis um truque que toda mulher deve saber", continua, e inclina o corpo para a frente, joga os cabelos da cor "loiro pêssego mel" em direção ao chão e levanta a cabeça rápido -para aumentar o volume. Sobra para mim. "Cheque se o flash do iPhone está desativado, tem muita luz aqui", ordena a atriz. Aos 23 anos, Blake Lively, que dias depois da entrevista mudou o cabelo para "ruivo morango" ("adoro dar nome de frutas a cores de cabelo"), sabe como ninguém os macetes para apresentar seu melhor close-up. Ao entrar na nova ordem de Hollywood -a de que atrizes e estrelas, como um banco de investimentos, devem ramificar sua base de operações associando-se a grifes de luxo-, Blake cumpre seu papel com total controle de qualidade. Entre as jovens em atividade, ela é a única apontada como herdeira natural de Sarah Jessica Parker, que há anos mantém-se na posição de rainha do empreendimento atriz-modelo-empresária. A imprensa gosta da ideia. "Blake-terremoto", alardeia o "New York Post". "A nova golden girl", proclama o "The New York Times". "A mulher mais desejada de 2011", diz pesquisa do site AskMen. E a revista "Time" a elegeu uma das 100 pessoas mais influentes do planeta. Isso sem falar do novo affair da estrela, Leonardo DiCaprio, com quem foi vista no Festival de Cannes. Ela foi catapultada para a fama em 2007, com o seriado "Gossip Girl", que acaba de reestrear no Brasil pelo canal pago Glitz, às 21h de terça. ?A série é uma crônica social do high-society nova-iorquino ?telenovelizada para a geração que ainda usa pomada contra espinhas. Blake entendeu logo sua posição de lançadora de tendências e tomou as rédeas de sua imagem, trabalhando diretamente com a figurinista do programa. Estudava atentamente looks mostrados em sites de moda como Style.com e opinava sobre acessórios e roupas que deveria usar em cena. Sem o auxílio de personal-stylists ("me recuso a ter um"), Blake chamou a atenção do mundo da moda, tanto pelas roupas que vestia no seriado como pelas que usava nas festas e premiações. De um lado, ela tem o poder de transformar um designer iniciante como Christian Cota em sensação depois de se deparar com um vestido dele na internet e usá-lo no seriado. Por outro, também sabe tirar proveito de eventos sociais que freqüenta em Nova York, tornando-se amiga de designers consagrados como Michael Kors ou Georgina Chapman, dona da grife Marquesa e mulher do über produtor Harvey Weinstein. Ambos os designers a vestiram mais tarde em eventos importantes. Outra sabedoria de Blake foi a paciência para só assinar contrato quando uma grife famosa a abordasse, ao contrário de suas colegas de "Gossip Girl". Blake saltou na jugular da moda, tornando-se a nova garota propaganda da Chanel. "Entendo as oportunidades que 'Gossip Girl' me deu e, embora tivessem aparecido outras campanhas antes, optei por dizer não até poder me associar com alguém que admiro". Blake foi apresentada para Karl Lagerfeld, diretor-criativo da Chanel, por Anna Wintour, editora da "Vogue" americana, que a convidou para acompanhá-la aos desfiles de alta costura em Paris no ano passado. "Anna é minha heroína: trabalha duro e recusa a sentar-se num trono para viver de colher suas láureas", diz. A atriz cativou Lagerfeld de imediato. Depois do desfile Chanel, o estilista já estava com a estrela a tiracolo na loja-matriz da grife francesa, na rua Cambon. "Senti-me como a Gata Boralheira, pronta para perder o sapatinho de cristal a qualquer momento", lembra. "Dei de cara com uma bolsa azul-púrpura na loja e Karl, vendo meu encantamento, disse para uma assistente, 'psiu, passe a bolsa para ela'. E eu: 'Karl, você pode filar seus próprios produtos!!?" Meses depois, surgia, via fax (Lagerfeld não gosta de e-mails ou telefonemas) um convite para fazer a campanha da bolsa Mademoiselle, a mesma que tinha ganhado. Pouco depois, a oportunidade que ela esperava: o convite para se tornar "a" garota Chanel. Um feito importante para uma americana, uma vez que a maison francesa prefere as européias como Kate Moss, Vanessa Paradis e Audrey Tautou em suas campanhas. Com as gravações das temporadas de Gossip Girl acontecendo até 2013, quando vence o seu contrato, Blake aproveita os três meses de folga que tem por ano para dedicar-se ao cinema. Seu principal papel até agora é em "Lanterna Verde", adaptação dos quadrinhos que estreia em agosto no Brasil. A loira interpreta a dona de uma companhia aeroespacial que contrata o protagonista, vivido por Ryan Reynolds, antes de ele virar superherói e também se apaixonar por ela. Blake convenceu o diretor do filme, o australiano Martin Campbell, dizendo que via sua personagem como "ágil, genuína e suja, e que somente eu iria dar 100% de mim para o papel". E deu. Chegou a ter aulas com membros do Cirque du Soleil para aprender a "se mover em cenas de ação". Caçula de uma prole de cinco, Blake cresceu na Califórnia e, segundo ela, precisou se tornar uma das cheerleaders da escola para perder a timidez. A mãe da atriz, Elaine, foi modelo antes de se tornar uma caça-talentos. Dois de seus irmãos são atores, e foram eles que insistiram para que ela fizesse testes para filmes e seriados de TV. Durante a entrevista, pergunto se ela tinha um plano B. "Chef de cozinha", me responde prontamente. "Na verdade, acho que esse é meu principal talento". Blake concluiu neste ano um curso na escola francesa de culinária Cordon Bleu, e tem planos de montar não apenas um, mas três restaurantes em Manhattan. "A ideia é começar com um especializado em brunch. Vou criar desde a decoração ao menu", explica a atriz, que se diz "controladora" na cozinha. "Outro dia marquei um jantar com uma amiga em Los Angeles, e ela me perguntou o que deveria comprar. E eu: 'Como assim? Estou indo agora no Eataly (mercearia chique do chef Mario Batalli, em Nova York) e amanhã embarco no avião com stracciatella, prosciutto e aspargos!'." Para dar ordens, pelo jeito, ela tem talento.

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