São Paulo, domingo, 29 de Maio de 2011

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MODA

Eu, Lea T.

Por Marcelo Bernardes, de Nova York

As irmã Kate e Laura Mulleavy venderam uma coleção de discos de vinil para abrir sua grife em 2005; de lá para cá, tornaram-se uma das principais referências da alta costura norte-americana

A nova geração de estilistas americanos mede sua entrada pra valer no mundo da moda de maneiras diversas. Alguns sabem que sua sorte mudou quando Nicole Kidman atravessa o carpete vermelho do Oscar com um de seus vestidos. Outros, quando suas roupas são compradas por lojas como Barneys New York ou Opening Ceremony. Para as irmãs californianas Kate e Laura Mulleavy, o momento de definição da carreira foi quando o Costume Institute, do Museu Metropolitan, em Nova York, adquiriu um vestido de chiffon amarelo e seda branco para fazer parte de seu acervo permanente. "A gente fez esse vestido para a coleção de inverno 2006/2007, quando nem pensávamos num futuro para nossa grife", explica Kate, 32, à Serafina. "Fiquei emocionada quando uma amiga tirou uma foto do vestido no museu e nos mandou", completa Laura, 31. Baseadas num escritório no centro de Los Angeles, cheio de livros sobre Picasso e Degas, as irmãs Mulleavy respiram arte. Foram curadoras de uma exposição na galeria da loja Colette, em Paris, e gostam de ter longas conversas sobre o cineasta George Romero e seu filme "A Noite dos Mortos-Vivos", assim como sobre a obra da escritora inglesa J.K. Rowling. Até as celebridades que elas vestem são diferentes, nada de Angelina Jolie ou Charlize Theron. Na turminha Rodarte estão as atrizes americanas Kirsten Dunst e Chloë Sevigny, a chinesa Maggie Cheung, a inglesa Keira Knightley e a australiana Mia Wasikowska (de "Alice no País das Maravilhas"). Ok, uma celebridade de primeiro time apareceu recentemente de Rodarte: a primeira-dama Michelle Obama. Uma das associações mais frutíferas da dupla é com a atriz Natalie Portman. Foi ela quem as convidou para criar o figurino de "Cisne Negro" (o DVD do filme sai no Brasil em junho). Embora tenham se mantido literais ao formato clássico do tutu das bailarinas, materiais como metal, chifres, organza e cristais Swarovski foram acrescidos às tradicionais camadas de tule da peça."A gente entendeu o personagem de Natalie como um misto de demônio e um pássaro com as asas fraturadas", explica Laura. Criadas na cidade de classe média alta de Pasadena, na Califórnia, as duas são filhas de uma artista plástica com um botânico, estudaram história da arte (Kate) e literatura inglesa (Laura). Sem um plano comercial pré-definido, as irmãs autodidatas criaram a grife Rodarte (sobrenome de solteira da mãe, de origem espanhola) em 2005. Parte do dinheiro investido veio da venda de uma coleção de vinis de Kate (incluindo um raríssimo do Black Sabbath). Desde então, Kate e Laura Mulleavy só expandiram seu empreedimento, aprenderam a flertar com as regras de mercado, mas sem perder o olhar natural para a arte conceitual, o que as colocam numa posição sem concorrente, o da "couture" americana. No encontro com o repórter, no salão do hotel SoHo Grand, Kate revela que não sabe desenhar e que suas "abstrações" são geralmente finalizadas por Laura. "Nossa única diferença é que Kate é mais evasiva e eu sou mais direta ao ponto, mas pensamos do mesmo modo", diz Laura. As irmãs se vestem de modo casual. Kate usa calça cáqui e camiseta listrada, Laura jeans e um cardigan surrado. Anna Wintour, a editora da "Vogue" norte-americana, arriscou uma previsão para o futuro delas: as irmãs Rodarte têm chances de frequentar o mesmo patamar de Alexander McQueen e John Galliano, estilistas que desafiaram o casamento entre arte e comércio. Vender o Black Sabbath, sem sombra de dúvidas, foi uma ótima ideia.

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