São Paulo, domingo, 29 de Maio de 2011

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FINA

Mad Marina

depoimento a Marcus Preto

Lançando um disco movido por são paulo, a cantora e compositora carioca de 54 anos explica como a cidade cinza a faz ver o mar

"São Paulo. Essa cidade me faz ver o mar.
Meu nome é Marina: o mar mora dentro de mim desde sempre. Eu sei do que estou falando. Passei a vida inteira em frente a ele.
Quando se é muito jovem, o mar nos liga diretamente ao sexo. Mas também nos coloca de novo em contato com a placenta, com os primórdios, com o que há de mais sensorial em nós mesmos.
Entre meus seis e meus 21 anos, o mar tinha uma importância fundamental para mim. Importância física. Morei em frente ao mar e adorava. A água salgada, as ondas. E, depois delas, a areia nos pés, o calor, o sol. Esse choque térmico entre o mar e a praia me iluminava, enchia meu corpo de energia.
Quando fiquei mais velha, essa sensação se guardou dentro de mim. Esse calor, esse frenesi, esse desejo e essa inquietação que só o mar me provocava surgem agora em qualquer lugar, eu posso estar em Paris ou em Porto Alegre. Basta que alguém, alguma coisa me toque, me desperte.
São Paulo me desperta.
São Paulo não é regida pelo mar. O Rio é. Lá, você tem que ir à praia, senão não há Rio. Morei em um triplex em frente à Lagoa. Era lindo, mas eu detestava.
Água parada traz melancolia. Se é para ter água, tem que ser salgada, tem que ter ondas. Como hoje eu não gosto muito de sol, acabava ficando isolada no balneário que o Rio se transformou para mim. Passava grande parte do tempo muito sozinha. Aquela cidade é linda, mas cresceu demais. Eu não trabalho na Globo, não sou atriz. Meu talento e meu trabalho não são permeados pela praia. Então, sabia que tinha que viver São Paulo.
As pessoas aqui me atraem e me estimulam. A temperatura, as vozes, os encontros, o frio, o Ibirapuera, a onda que os paulistanos têm, um japa na Liberdade, a Bienal. São milhões de praias. São as pessoas. E é nesse sentido que a cidade me faz ver o mar. Ela mexe comigo e faz com que eu me sinta viva, como nos mares e sóis daquela infância e adolescência.
Compus dois álbuns fundamentais para a minha história a partir de vindas a São Paulo. Um deles foi "Marina Lima", em 1991, o primeiro em que eu assino com meu sobrenome. Desde ali, comecei a pensar o quanto eu tenho a ver com esta cidade.
Outro foi "Pierrot do Brasil", em 1998, que é o álbum que me trouxe de volta ao público, me resgatou de momentos pessoais bem difíceis.
Dois álbuns de virada. De retomada. De recomeço. Este que lanço agora, "Clímax", também foi movido por São Paulo e tem essa mesma pegada.
A música é o mar. Palavras: mera embarcação.
A minha música é tudo. As palavras navegam em cima dela. Eu vejo música assim. Esse disco é assim. Tudo é em cima de um sentimento profundo que está dentro de mim. E que o mar deve trazer. Essa coisa anterior, meio homem e meio bicho, que é ligado a você na placenta. Essa coisa estranha que te bota em contato com alguma coisa do seu instinto que você não sabe o que é. A música é o mar. A música é uma linguagem que tem a força da natureza. As palavras são como vikings, que enfrentam oceanos e descobrem a América.
Meu nome é Marina: o mar mora dentro de mim desde sempre. Estou de frente para ele de novo, pronta para um novo mergulho."

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