FOCO

Sem pátria

por Silvia Crespi

Série de imagens de uma família cigana em Alagoas evidencia o olhar explorador e "caipira" do fotógrafo Gui Mohallem

O fotógrafo Gui Mohallem, nascido em Itajubá, Minas Gerais, ganhou o segundo lugar no disputado prêmio de fotografia Conrad Wessel. E ele é o que menos se espera de um mineiro. Em vez da fala mansa e da suposta desconfiança atribuída aos nascidos naquele Estado, sua conversa é rápida e sua característica mais marcante é a confessa ansiedade. A série premiada, intitulada "Drom", reúne imagens feitas no sertão de Alagoas durante as filmagens do filme "Ao Relento", de Julia Zakia. A diretora o convidou para fazer as fotos de cena do longa de ficção. Ele aproveitou a locação e, principalmente, os atores, uma família de ciganos, para fazer um ensaio lírico com o grupo que se considera um povo sem pátria. "Para não atrapalhar e me comunicar melhor com eles, usei as roupas de ciganos do figurino do filme", conta. Sua carreira começou de forma inesperada. "Minha primeira exposição individual aconteceu, meio por acaso, em 2008, em Nova York", lembra. Mas 2011 parece ser o ano da sorte do fotógrafo. De fevereiro a março, ele expôs a série "Welcome Home", na Galeria Emma Thomas, em São Paulo. E, agora, prepara uma mostra ambiciosa para o segundo semestre. Chamada "Ensaio sobre a Loucura", reúne fotos distorcidas e perturbadoras, junto com depoimentos inusitados de amigos e pessoas que se inscreveram para o trabalho por meio da internet. A cada ensaio, Mohallem mostra um olhar diferente usando uma nova técnica. Mudanças não assustam o artista, que começa a explorar outras áreas como textos, vídeos e gravação de sons. "Estou sempre na posição do caipira", afirma. "Vim de uma cidade minúscula, sem nenhum repertório, tive que começar tudo do zero. Aí me acostumei com isso", explica. "O que dá medo é o que me atrai", sentencia.

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