São Paulo, domingo, 31 de maio de 2009

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MODA

Todo mundo nu

por ALCINO LEITE NETO

De volta ao Brasil para fazer a nova campanha da Forum, o fotógrafo americano Terry Richardson diz que o “sexo é a essência da criação”

O americano Terry Richardson, 44, mudou a cara da fotografia de moda a partir dos anos 90 com suas imagens cruas e diretas, nas quais a atitude, a improvisação e a espontaneidade eram mais importantes do que a técnica, a iluminação e a pose. Ao mesmo tempo, quebrou um dos tabus mais firmes da moda ao atravessar a fronteira que separa a sensualidade velada do erotismo puro e simples.

Diante da câmera de Richardson, os corpos se exibem sem preconceito, com suas imperfeições, sua naturalidade, sua energia e sua volúpia, como no álbum “Rio Cidade Maravilhosa”, lançado em 2008.

O livro é uma declaração de amor ao Brasil, país onde o fotógrafo encontrou aquilo que também faz a substância de suas imagens: a energia carnavalesca que adora misturar sem hierarquias o rico e o pobre, o feio e o bonito, o sensual e o pornográfico.

“Sexo é a essência da criação”, diz o fotógrafo na entrevista a seguir, feita em São Paulo, onde ele esteve para fotografar a campanha de verão das grifes Forum e Forum Tufi Duek.

Quando você começou a despir as pessoas?
Ah, sempre fotografei as pessoas peladas! Mas me lembro bem da primeira vez que fiquei pelado em uma foto. As modelos falavam: “Se quer que a gente fique pelada, então você terá que fazer também”. Eu era tão tímido e resolvi experimentar trabalhar nu durante uma campanha para a Sisley, fotografada em Malibu. Saí pelado correndo atrás de uma namorada minha, também nua, e essa era a imagem da campanha. O anúncio foi banido, mas foi uma ótima experiência.

O que você faz para despir meninas como Yasmin Brunet, fotografada para o livro “Rio”?
Mágica. Tem a ver com energia e confiança. Elas se sentem bem, porque é uma coisa que acontece organicamente e eu também nunca pediria algo que eu mesmo não faria. Eu sempre digo: “Vamos aproveitar a liberdade total e fazer coisas que nos deixam à vontade”. Bem, se não for por isso, talvez seja porque sou muito charmoso!

Na moda, quando você comenta que a roupa de um estilista é sexy, ele logo rebate dizendo que ela é sensual. Existe diferença entre sexy e sensual hoje?
Acho que as pessoas fazem esse troca-troca entre as duas palavras na moda para não soar vulgar, o que é uma besteira. Para mim a palavra sexy é um elogio. Sexo é a essência da criação.

No Brasil há revistas gays que optam por fazer fotos eróticas de rapazes, mas sem mostrar as partes íntimas. As pessoas ainda têm medo ou vergonha do sexo?
As revistas gays estão sempre preocupadas e não querem ouvir comentários como “ah, isso é muito gay”. Ué, mas não é esse o propósito? Eu acho isso engraçado, porque você abre o jornal diariamente e vê violência, tortura e pessoas mortas, mas não há tolerância para mostrar alguém pelado. No fim das contas, as revistas têm a ver com dinheiro e anunciantes. Dependendo do conteúdo, ela pode ter problemas e perder anúncios. Elas são um negócio, não uma arte.

O efeito que sua fotografia provoca é diferente no Brasil?
Diria que ele não é diferente em cada país, mas sim entre pessoas de idades e crenças diferentes. Você pode olhar para uma imagem e não se chocar, mas seus pais podem ver a mesma cena e ficar horrorizados. As pessoas parecem muito liberais no Brasil, mas na praia o topless ainda é uma polêmica.


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