São Paulo, terça-feira, 22 de fevereiro de 2005

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carreira

Cursos generalistas buscam profissionais que não têm experiência ou recursos suficientes para fazer um MBA tradicional

O pré da pós

Flávio Ferreira
colaboração para a Folha

Há dois anos, o arquiteto César Augusto Neves de Oliveira, 39, entrava mudo e saía calado das reuniões da diretoria da divisão de construções metálicas da empresa Eucatex. Quando o assunto era ligado a finanças, ele se encolhia mais ainda na cadeira, pois não entendia o que estava sendo discutido. Na condução de um grupo de 25 pessoas, sentia que faltava algo para melhorar os resultados.
Hoje, a história é outra. Suas intervenções nas reuniões são constantes, mesmo quando o assunto é ligado às ações da companhia na Bolsa. No relacionamento com sua equipe, Oliveira descobriu o valor que um "bom dia" ou um incentivo têm na performance de seus funcionários.
Mudanças como essas costumam ser vividas por profissionais que passaram por cursos situados no meio do caminho entre a graduação e as especializações de MBA (Master in Business Administration). Esses "pré-MBAs" são indicados para quem não tem experiência ou recursos financeiros para fazer um MBA e busca conhecimentos de aplicação imediata no ambiente de trabalho, para incrementar resultados, currículo e salário.
No final dos anos 90, essa demanda era atendida, em geral, por MBAs que não exigiam experiência mínima de cinco anos. Fora dos padrões internacionais, esses cursos reuniam tanto profissionais com currículo extenso como recém-formados, combinação vista como causadora de perda de qualidade nas aulas.
Para não perder esse filão, algumas instituições criaram programas adaptados à demanda dos ávidos por conhecimentos e promoções. Como os cursos têm como meta qualificar profissionais para assumir cargos de gerência, têm um perfil generalista. Os alunos aprendem matérias de finanças, contabilidade, gestão de pessoas e marketing e conhecem casos práticos.
Oliveira fez o curso do Ibmec São Paulo, que tem o nome de CBA (Certificate in Business Administration), existe desde 2001 e tem carga horária de 396 horas e custo de R$ 16,5 mil. As aulas acontecem duas vezes por semana, à noite. Como na maioria dos cursos com esse perfil, o ingresso depende de uma entrevista, além de análise de currículo.
Cássia Royo, supervisora da área de aconselhamento de carreira da KPMG Consultoria, dá uma dica para os candidatos escolherem bem a pós-graduação: falar com ex-alunos dos cursos. "O profissional não deve ter vergonha de pedir o contato de alunos que já passaram pela instituição. Numa pesquisa rápida, pode-se verificar a adequação do curso ao momento vivido na carreira", diz.
A consultora adverte que os cursos com perfil gerencial não devem ser buscados por todo tipo de profissional, logo após a formatura, apenas para ganhar algumas linhas no currículo. Em algumas carreiras, a ascensão inicial depende mais do aprofundamento técnico numa área específica do que do conhecimento de uma pós-graduação generalista.
É o caso de Renata Von Ancken, 30, que depois de formada resolveu investir em cursos na área de tecnologia em ciência da computação. Cinco anos mais tarde, resolveu ampliar os conhecimentos para ocupar cargos de gerência e, após um ano, foi promovida.
Para passar de programadora a gestora, Renata dedicou-se à pós-graduação intitulada Capacitação Gerencial, da Fundação Instituto de Administração (FIA), entidade formada por professores da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP. O programa compreende 460 horas e tem custo de cerca de R$ 20 mil. Com mais 200 horas, conclui-se o MBA Gestão Empresarial, oferecido pela instituição.
Almir Ferreira de Sousa, professor livre-docente da FEA e coordenador do Capacitação Gerencial, diz que dedicação é a chave para o sucesso no curso. Para ter bom aproveitamento, os alunos, em casa, devem se dedicar durante um tempo igual ou superior ao gasto em classe.
Para Renata, que hoje é gerente de fábrica e acionista da empresa DMR, o esforço compensou. "Apesar de ter passado os fins de semana estudando, valeu a pena. A possibilidade de trocar experiências com colegas de sala que passam pelas mesmas dificuldades profissionais permite uma visão diferente dos problemas", diz.
De olho nos profissionais com até dois anos de formatura, a ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) também criou uma pós-graduação -o curso Primeira Gerência, com 360 horas de carga horária, oferecido em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Porto Alegre, em Brasília e em Campinas. O investimento é de R$ 14 mil. Uma das ferramentas utilizadas é um programa que permite aos alunos simular situações do mundo dos negócios. Eles participam de um "business game" (jogo de negócios) no qual interagem entre si e com empresas virtuais.
Embora o custo de um curso desses em uma escola de renome possa ser maior do que o de MBAs em entidades sem tradição, especialistas afirmam que o mercado prefere instituições de ensino renomadas.


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