São Paulo, terça-feira, 22 de fevereiro de 2005

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Experimentar

Paulo Renato e o vinho

Gilberto Dimenstein
colunista da Folha

Quando lhe perguntaram sobre como tinha se sentido durante os oito anos em que dirigiu o Ministério da Educação, Paulo Renato Souza resumiu: "Foram os melhores anos de minha vida". O prazer estava na sensação de desafio cotidiano, quase como se estivesse numa corrida de obstáculos. Temia que, depois de tanta "adrenalina" -mexendo com imensos problemas, altas somas de dinheiro e programas de impacto na vida de milhões de pessoas-, a vida se tornasse um tédio. "Não é fácil." É um drama de muita gente que exerce funções executivas, de forte impacto nas suas empresas, instituições e comunidades, e se vê obrigada a ficar longe da agitação. Hoje, Paulo Renato está experimentando na bebida -mais precisamente no vinho- uma saída contra a mesmice. O primeiro contato de Paulo Renato com o vinho não foi estimulante. No Rio Grande do Sul, onde nasceu, ele tinha de levar vinho para o pai na hora do almoço, diariamente. "Minha lembrança é de um gosto ruim, sempre ácido." O exílio, porém, apurou seu paladar. No Chile, começou a descobrir o prazer do vinho, sem jamais imaginar que, um dia, isso significaria uma atividade profissional. Aproveitou agora uma certa folga de tempo -ele continua prestando consultorias educacionais- e resolveu participar da abertura, em São Paulo, de uma casa de degustação de vinhos italianos, todos exclusivos. "O mundo do vinho é uma fonte inesgotável de conhecimento", diz. Mas Paulo Renato ainda se sente um amador. "Precisaria ir muito mais fundo", admite. Em seu negócio, ele conta com a ajuda de especialistas e de uma conexão com produtores italianos. Paulo Renato não se imagina ganhando seu sustento pelo paladar. Nem, muito menos, pretende deixar o ramo educacional para ficar preso a uma cozinha ou a uma adega. "É um jeito de se reciclar. Parar de aprender e de provar coisas novas é morrer." Essa, segundo ele, deveria ser uma das principais lições dos educadores a seus alunos -talvez seja mesmo, como o vinho, uma receita para envelhecer e ficar melhor.


Gilberto Dimenstein, 47, é jornalista e membro do Conselho Editorial da Folha e faz parte do board do programa de Direitos Humanos da Universidade de Columbia (EUA). Criou a ONG Cidade Escola Aprendiz, em São Paulo.
@ - gdimen@uol.com.br



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