Para as crianças, ele é o Júlio, o protagonista do programa "Cocoricó", exibido pela TV Cultura. Para a família, ele é a pessoa que trabalha 11 horas por dia, seis vezes por semana, mal tem tempo de almoçar e de dormir e, mesmo assim, diz adorar o que faz. Esse é o carioca Fernando Gomes, 44.
Aos quatro anos, o "pai" de Júlio desenhava os personagens que via na televisão. Pouco depois, já fazia os desenhos decorativos e bonequinhos de papelão do bufê infantil de sua mãe.
Fernando diz que só descobriu sua vocação depois de adulto. Aos 25 anos, sentado na platéia de um espetáculo, ouviu uma voz familiar. Era a atriz Memélia de Carvalho, manipuladora de alguns bonecos do programa infantil "Bambalalão". Depois do espetáculo, ele procurou Memélia e disse que tinha feito um boneco de espuma. A atriz levou o boneco à TV Cultura e, no dia seguinte, Boninho estava no ar.
"A TV Cultura começou a pedir para que eu fizesse mais bonecos", conta Fernando, que até então era estudante de artes cênicas. Depois, foi chamado a fazer parte da equipe de bonequeiros da TV, onde passaria, nos anos seguintes, por quase todos os programas infantis -"Castelo Rá-Tim-Bum", "Ilha Rá-Tim-Bum", "X-Tudo", "Cocoricó"-, dirigindo, criando ou manipulando bonecos.
Para ele, a única dificuldade é trabalhar com emissoras que priorizam audiência em vez de qualidade. "Sou contra soluções pobres de enquadramento." Essa convicção deu frutos: há dois anos, com Fernando na direção, o "Cocoricó" venceu o prêmio Juventude de melhor programa infantil no Festival Ibero-Americano de Televisão Infantil, no Chile. (Ana Maria Peres)


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