Índice geral Tec
Tec
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

André Conti

O sucesso do ano

Ao misturar estratégia, zumbis e "Tetris", "The Hunt for Charlie Waterfall" vira destaque na mídia

Difícil definir o gênero de "The Hunt for Charlie Waterfall", jogo que tem circulado na imprensa e nos blogs de uns tempos pra cá.

De início, parecia um título de estratégia, inspirado em "Civilization". No comando do gabinete do senador Demóstenes, o jogador traça planos para uma nação imaginária, negociando com colegas e votando em emendas que podem determinar, a longo prazo, o futuro do país.

Apesar do sucesso inicial, os entusiastas de "The Hunt for Charlie Waterfall" logo se sentiram limitados em Brasília, o único estágio disponível no jogo. Atendendo a pedidos, a primeira expansão incluiu novos personagens e também a fase "Rio de Janeiro", que pode ser liberada negociando o empréstimo de um jatinho particular.

Se tiver tido um desempenho bom, você levará ainda uma viagem a Paris e ao Principado de Mônaco, paga pelo pirata Cavendish. Nessa fase bônus, o jogador pode acumular até dez fraudes de licitação, numa disputa pelo melhor chapeuzinho de guardanapo (um minigame claramente inspirado pela série "WarioWare Inc.").

No Rio, o jogo vai de estratégia a mistério e espionagem. Na trilha do elusivo Charlie Waterfall, cabe a você instalar grampos, negociar dossiês, trocar favores, plantar matérias e ganhar mesada. Quem jogou "Tom Clancy's Splinter Cell" vai se sentir em casa.

Bebendo no sistema de escolhas morais de "Mass Effect", o jogador decide se apoia Waterfall ou denuncia suas atividades criminosas na internet e na imprensa. Numa reviravolta digna dos melhores momentos de "Final Fantasy 7", ambas as decisões levam aos mesmos benefícios, e o jogador passa de fase.

Certamente atentos ao sucesso de franquias como "Left 4 Dead" e "Resident Evil", os produtores incluíram também um estágio de zumbis. O objetivo é fugir de Fernando Collor, enquanto se busca financiamento de campanha numa Casa da Dinda pós-apocalíptica.

O combate final se dá numa sala cheia de bodes e jornalistas de esquerda que apoiaram a ditadura. Se conseguir resgatar o fantasma de PC Farias, você ganhará um extra em espécie.

Voltado à família, "The Hunt for Charlie Waterfall" também se inspira em séries de sucesso como "Dance Dance Move" e "Just Dance". Ao conquistar a capital, por exemplo, pode-se triplicar a pontuação conduzindo Zélia Cardoso num bolero.

A conquista de Brasília abre a última etapa do jogo, um "Tetris" frenético em que as centenas de peças -feitas de denúncias, intimações judiciais e gravações clandestinas- jamais se encaixam. Dependendo do placar, a comissão de ética pode ou não pedir uma CPI. Caso ela ocorra, o jogador será brindado com uma partida de paciência e meia calabresa, meia quatro queijos.

Infelizmente, o jogo "The Hunt for Charlie Waterfall" existe apenas nesta coluna. Mas, ficando de olho nos jornais, logo se percebe que as possibilidades são imensas. Quanto potencial para um RPG épico. Em meio a tantos jogos com criaturas mitológicas, fadas e monstros, faria bem se usássemos um pouco do nosso folclore.

folha.com/jogatina
@andre_conti

LULI RADFAHRER
escreve neste espaço na próxima edição. Leia a coluna desta semana em www.folha.com/luliradfahrer

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.