São Paulo, quarta-feira, 20 de outubro de 2010

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#PRONTOFALEI

LULI RADFAHRER - folha@luli.com.br

Os velhos novos e os novos velhos

MUITO SE DIZ a respeito da emblemática idade dos 40 anos. Se a vida começa ou não na quarta década, é certo que termine cada vez mais longe dela. Ninguém mais pergunta a idade de Steve Jobs, Richard Branson ou Madonna, nem se espanta que os meninos Thomas Friedman e Alan Greenspan sejam destaques editoriais para explicar um mercado de wikinomias e freakonomias.
O mundo vem envelhecendo, e a notícia não é exatamente nova. No ritmo em que a longevidade cresce, jovens de cabelo cinza que gritavam que "não se pode confiar em alguém com mais de 40" logo dirão o contrário.
Mas como fatos mudam mais rápido do que mentalidades, muitas empresas ainda resistem à contratação de profissionais maduros enquanto organizam simpósios e palestras para tentar compreender as crianças mimadas e inseguras que rotulam de geração Z.
Desde a virada do século, milhares de profissionais acima dos 40 já perderam o emprego, e o governo (pra variar) já cogita criar cotas ou distribuir incentivos. Há quem culpe a CLT, a aposentadoria ou a carga tributária. Isso não resolve o problema. Em um mundo de trabalhadores cada vez mais velhos, que se orgulham de estar ativos até além dos 80, a conta simplesmente não fecha.
Do outro lado da portaria, a situação não é exatamente confortável. Mesmo com salários e benefícios, o contingente de executivos cada vez mais novos e inexperientes, pressionados pelo excesso de competitividade, cresce a cada instante. Os médicos de empresas já não se surpreendem ao ver hipertensão, estafa e fadiga crônica em velhos de vinte e poucos.
Com família para sustentar e sem emprego formal, o executivo maduro acaba virando consultor ou empresário, tendo como cliente a mesma empresa que não o aceitaria em seus quadros. À medida que cresce o número de fornecedores intelectuais, a situação se complica. Em poucos anos, o número de profissionais estratégicos do lado de fora de uma empresa será maior do que o de seus funcionários.
Nos anos yuppies, dificilmente "The Office" ou Dilbert fariam sucesso. Hoje é cada vez mais raro encontrar quem goste sinceramente de seu cotidiano profissional. Isso pode ser o sinal de que alguma mudança importante está para vir. A questão que incomoda é como sobreviver até que ela chegue.


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