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OPINIÃO
Mark Zuckerberg: nem vilão, nem gênio?
Articulista discute se Facebook foi obra da genialidade do estudante da Harvard que, como o filme "A Rede Social" sugere, teria roubado a ideia do site
ROBERT WRIGHT
DO "NEW YORK TIMES"
Zuckerberg é vilão? Ele,
como o filme "A Rede Social"
sugere, roubou a ideia do Facebook de dois colegas?
Um ponto de vista recentemente exposto pelo roteirista
do filme, Aaron Sorkin, é o de
que isso, de certa forma, não
interessa. Independentemente do que você acredita,
diz Sorkin, Zuckerberg foi
responsável por transformar
o Facebook em algo brilhante. Logo, não haveria como
negar sua genialidade.
Na verdade, há. Claro, às
vezes transformar uma ideia
em uma realidade brilhante
depende de genialidade.
Mas, neste caso, assumir isso
é não entender a mágica por
trás do Facebook.
Não estou dizendo que
Zuckerberg roubou a ideia do
Facebook e não é um gênio.
Porém, afirmo que, para pensar sobre o papel de Zuckerberg de maneira clara, temos
de descobrir quem é o seu
coadjuvante na vida real.
O nome do coadjuvante
soa exótico porque vem de
um jargão da economia:
"efeitos de rede positivos".
Isso significa que, quanto
mais membros uma rede
tem, mais vantajoso é ser seu
usuário. O motivo de preferir
fazer parte do Facebook a outro rival é o seu grande número de usuários. As pessoas de
quem você gostaria de ser
"amiga" são mais provavelmente encontradas ali do
que em um concorrente.
Efeitos de rede positivos
podem dar uma grande vantagem a quem cedo madruga, pois uma liderança inicial
da participação no mercado
se alimenta em si mesma;
quanto maior a sua fatia do
mercado, mais valioso é o
seu serviço e, portanto,
maior a sua porção no mercado e assim sucessivamente.
De fato, tamanha é a força de
se estabelecer uma clara liderança em participação no
mercado que é possível desenvolver um produto inferior e ainda triunfar.
Sendo assim, teria Zuckerberg roubado a ideia dos gêmeos Tyler e Cameron Winklevoss? A alegação, tanto no
filme quanto no processo é a
de que eles contrataram Zuckerberg, um programador
prodígio, para concretizar
uma ideia deles para eles. Ele
cumpriu o combinado -exceto o "para eles".
Ele é culpado? Em seu sentido mais amplo, a ideia dos
gêmeos era, de fato, igual à
inicial do Facebook. O objetivo era tornar mais fácil para
as pessoas com endereço de
e-mail harvard.edu acessar a
rede social da universidade.
Zuckerberg alega que, na
realidade, o Facebook é bem
diferente do mero "site de relacionamento" que os Winklevoss tinham em mente.
Existe também o fato de que
a ideia de uma rede social on-line para a comunidade do
campus não era exatamente
radical em 2003. Algumas
outras universidades tinham
esse tipo de site.
Além disso, a versão de
Zuckerberg pode ter tido
uma vantagem crucial sobre
a versão dos irmãos Winklevoss. Os gêmeos pretendiam
incrementar o seu site com,
por exemplo, avaliações de
restaurantes, enquanto o Facebook nunca teve esse perfil
de revista. Ele era simplesmente uma plataforma, e todo o conteúdo seria inserido
pelos usuários. Assim, o site
era uma rede em um sentido
mais puro, e, talvez, um canal mais eficiente.
Teria Zuckerberg percebido isso? Algo que, nesse caso, poderia qualificá-lo como
um visionário e um gênio?
Ou teria sido a pureza do Facebook o resultado de um tipo de instinto estético?
A meu ver, Zuckerberg não
tinha, no geral, a visão clara
do percurso para conquistar
o mundo, o que retrospectivamente consistia de, ao menos, três passos: construir
ilhas de controle em universidades de elite, espalhá-las
em universidades menos elitistas e, ao final, abandonar a
geografia completamente como princípio constituinte.
Em retrospecto, acredito
que havia algo singularmente poderoso a respeito dessa
trajetória. A meu ver, esse
percurso ofereceu ao Facebook um momentum que o
ajudou a superar redes sociais preexistentes. E está
bem claro que o caminho não
foi planejado.
Tradução de
FABIANO FLEURY DE SOUZA CAMPOS
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