São Paulo, quarta-feira, 20 de outubro de 2010

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OPINIÃO

Mark Zuckerberg: nem vilão, nem gênio?

Articulista discute se Facebook foi obra da genialidade do estudante da Harvard que, como o filme "A Rede Social" sugere, teria roubado a ideia do site

ROBERT WRIGHT
DO "NEW YORK TIMES"

Zuckerberg é vilão? Ele, como o filme "A Rede Social" sugere, roubou a ideia do Facebook de dois colegas?
Um ponto de vista recentemente exposto pelo roteirista do filme, Aaron Sorkin, é o de que isso, de certa forma, não interessa. Independentemente do que você acredita, diz Sorkin, Zuckerberg foi responsável por transformar o Facebook em algo brilhante. Logo, não haveria como negar sua genialidade.
Na verdade, há. Claro, às vezes transformar uma ideia em uma realidade brilhante depende de genialidade.
Mas, neste caso, assumir isso é não entender a mágica por trás do Facebook.
Não estou dizendo que Zuckerberg roubou a ideia do Facebook e não é um gênio.
Porém, afirmo que, para pensar sobre o papel de Zuckerberg de maneira clara, temos de descobrir quem é o seu coadjuvante na vida real.
O nome do coadjuvante soa exótico porque vem de um jargão da economia: "efeitos de rede positivos".
Isso significa que, quanto mais membros uma rede tem, mais vantajoso é ser seu usuário. O motivo de preferir fazer parte do Facebook a outro rival é o seu grande número de usuários. As pessoas de quem você gostaria de ser "amiga" são mais provavelmente encontradas ali do que em um concorrente.
Efeitos de rede positivos podem dar uma grande vantagem a quem cedo madruga, pois uma liderança inicial da participação no mercado se alimenta em si mesma; quanto maior a sua fatia do mercado, mais valioso é o seu serviço e, portanto, maior a sua porção no mercado e assim sucessivamente.
De fato, tamanha é a força de se estabelecer uma clara liderança em participação no mercado que é possível desenvolver um produto inferior e ainda triunfar.
Sendo assim, teria Zuckerberg roubado a ideia dos gêmeos Tyler e Cameron Winklevoss? A alegação, tanto no filme quanto no processo é a de que eles contrataram Zuckerberg, um programador prodígio, para concretizar uma ideia deles para eles. Ele cumpriu o combinado -exceto o "para eles".
Ele é culpado? Em seu sentido mais amplo, a ideia dos gêmeos era, de fato, igual à inicial do Facebook. O objetivo era tornar mais fácil para as pessoas com endereço de e-mail harvard.edu acessar a rede social da universidade.
Zuckerberg alega que, na realidade, o Facebook é bem diferente do mero "site de relacionamento" que os Winklevoss tinham em mente.
Existe também o fato de que a ideia de uma rede social on-line para a comunidade do campus não era exatamente radical em 2003. Algumas outras universidades tinham esse tipo de site.
Além disso, a versão de Zuckerberg pode ter tido uma vantagem crucial sobre a versão dos irmãos Winklevoss. Os gêmeos pretendiam incrementar o seu site com, por exemplo, avaliações de restaurantes, enquanto o Facebook nunca teve esse perfil de revista. Ele era simplesmente uma plataforma, e todo o conteúdo seria inserido pelos usuários. Assim, o site era uma rede em um sentido mais puro, e, talvez, um canal mais eficiente.
Teria Zuckerberg percebido isso? Algo que, nesse caso, poderia qualificá-lo como um visionário e um gênio?
Ou teria sido a pureza do Facebook o resultado de um tipo de instinto estético?
A meu ver, Zuckerberg não tinha, no geral, a visão clara do percurso para conquistar o mundo, o que retrospectivamente consistia de, ao menos, três passos: construir ilhas de controle em universidades de elite, espalhá-las em universidades menos elitistas e, ao final, abandonar a geografia completamente como princípio constituinte.
Em retrospecto, acredito que havia algo singularmente poderoso a respeito dessa trajetória. A meu ver, esse percurso ofereceu ao Facebook um momentum que o ajudou a superar redes sociais preexistentes. E está bem claro que o caminho não foi planejado.


Tradução de FABIANO FLEURY DE SOUZA CAMPOS


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