São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 2001


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HISTÓRIA PAULISTANA

Para empresários e consultores, sucessão deve ser bem-feita para não descaracterizar o negócio

Estabelecimentos passam de pai para filho

DA REPORTAGEM LOCAL

O cenário remete ao passado glorioso da região central de São Paulo. Ao lado da portaria de um prédio antigo, um senhor de cabelos grisalhos mexe em algumas canetas e atende animadamente a diversificada clientela, que ele calcula em cem pessoas por dia.
O espaço é pequeno (cerca de 6 m2), mas Mamed Aoas, 69, nem pensa em se mudar do prédio onde está instalado desde 1958, ao lado da Bovespa (Bolsa de Valores do Estado de São Paulo).
Isso porque ele afirma que a história de seu negócio está intimamente ligada àquele lugar, onde Aoas atua consertando e vendendo canetas e relógios há 43 anos. "Não há segredo. Para um negócio dar certo, a pessoa tem de se apaixonar pelo que faz", diz.

Com critério
Em um negócio duradouro como o de Mamed, um momento crucial é a sucessão. A passagem, que geralmente ocorre de pai para filho, deve ser feita com critério.
"Os filhos não podem radicalizar para não descaracterizar o negócio", afirma João Abdalla Neto, 46, consultor de marketing do Sebrae-SP (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).
Marie France Henry, 44, conta que a transferência da administração do restaurante La Casserole de seu pai para ela foi feita com cuidado. "Precisei mostrar serviço para que os clientes acreditassem em meu trabalho", afirma.
O pai de Marie, Roger Charles Marcel Henry, 80, montou o negócio há 47 anos, no largo do Arouche (zona central). Queria trazer a cultura gastronômica francesa para o Brasil. O cardápio mantém pratos desde 1954, como cordeiro ou pato com laranjas.
Segundo Marie, sua receita secreta para manter o negócio vivo por tantos anos é "misturar um pouco da tradição do lugar com uma pitada de inovação".

Caligrafia
A sucessão bem-feita também é apontada como o segredo da longevidade da Escola de Caligrafia De Franco. "Talvez, se tivéssemos delegado a responsabilidade pelo ensino para um funcionário, a qualidade não teria se mantido", afirma Antônio De Franco Neto, 52, que administra a unidade de Pinheiros (zona sudoeste).
Em 1915, seu avô, o professor Antônio De Franco, desenvolveu um método de ensino de caligrafia baseado nos ensinamentos de sua mãe, Ida Nóbile De Franco, uma imigrante italiana que havia chegado ao Brasil em 1880.
Surgia a Escola de Caligrafia De Franco, na rua General Osório (região central). De lá para cá, foram abertas mais duas filiais, mas a administração do negócio permaneceu com a família.
"Hoje, as turmas têm cerca de 10 alunos, mas, em 1945, chegaram a ter 65", conta Antônio De Franco Filho, 71, à frente da filial da Água Branca (zona noroeste), que atribui esse recorde ao desemprego causado pela Segunda Guerra Mundial (1938 a 1945).


De Franco: 0/xx/11/3666-2226 e 0/xx/11/3815-0449; La Casserole: 0/xx/11/220-6283; Mamed: 0/ xx/11/3104-9669.


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