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BAÍA DE TODOS OS SANTOS
Carnaval com 20 mil turistas dificulta acesso à praia do Rio Vermelho, local do ritual de Iemanjá
Religião se perdeu entre a folia dos trios
MÔNICA RODRIGUES DA COSTA
Editora da Folhinha
Há 20 anos, no Dia de Iemanjá, o
baiano certamente estaria no bairro do Rio Vermelho olhando as
pessoas mergulharem nas ondas
os presentes à deusa; as baianas
darem passes na areia; os homens
levarem os barcos até o fundo para
entregar as oferendas e as ondas
trazendo-as de volta. O mar sujo
de flores, milho branco, esmaltes
de unhas, pentes de plástico. Há 20
anos, havia mesas e cadeiras para
os visitantes e espaço para as pessoas caminharem.
Hoje, cerca de 20 mil pessoas
participam dessa festa centenária.
Atualmente, a festa reúne turistas
que querem se divertir atrás do trio
elétrico num carnaval alucinado.
A homenagem à santa negra perdeu o sentido religioso. O trio elétrico que passava no largo do Rio
Vermelho este ano impedia as pessoas de chegarem à praia para
acompanhar de perto o ritual.
A polícia cercou a praia, e mesmo
assim houve assaltos. Os visitantes
presenciaram os meninos entrarem no mar, pegarem frascos da
lavanda "Alfazema" e venderem a
novos turistas desejosos de participar da homenagem.
Mas a festa sempre foi um evento
turístico. Uma espécie de atestado
de que essa religião já é aceita na
Bahia, depois de o candomblé ter
deixado de ser caso policial. Os terreiros, para funcionarem, precisavam de registro na polícia.
Na manifestação popular, os religiosos não faziam alarde ao rezar
na praia, levando os trabalhos preparados nos terreiros para entregar ao mar -originado dos seios
lacrimosos da deusa, que se esvaíram e deram origem aos oceanos.
Mas isso foi há muito tempo.
No sincretismo, Iemanjá é relacionada a Nossa Senhora da Conceição. Inúmeros baianos católicos, que jogaram os búzios de Ifá
(jogo de adivinhação) e descobriram ser ela seu orixá protetor fazem trabalhos para Iemanjá com o
argumento de que "se bem não faz,
mal também não".
Inúmeros baianos católicos
usam roupas das cores dos seus
santos em dias especiais, mesmo
que não acreditem em sorte. Assim, Salvador atravessa gerações
que continuam a misturar Cristo,
Carnaval e candomblé.
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