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PERFIL
Escritor escapou dos canibais, mas não dos credores
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Apesar de conhecermos as
aventuras de Hans Staden no
Brasil, narradas em livro por
ele mesmo, pouco sabemos
de sua vida. Os dados sobre
sua família e seu cotidiano na
Alemanha são escassos -e
há desencontro em certas
datas, como a de nascimento
e a de morte (registradas como por volta de 1525 e de
1579, respectivamente).
Nascido em Homberg, em
Hessen, na Alemanha, Staden foi soldado numa guerra
no norte do país e ficou desempregado com o fim do
combate, de acordo com Eckhard Kupfer, diretor do instituto Martius-Staden. Depois, teria resolvido se aventurar pelo Novo Mundo.
Quando voltou à Alemanha, depois da experiência
entre os tupinambás, foi para
Marburgo e publicou o relato. O livro fez sucesso, mas o
autor não colheu os dividendos da publicação, já que na
época não existiam direitos
autorais. "O livro foi pirateado logo depois de lançado.
Com certeza Staden não ficou rico", diz Kupfer. "Ele
continuou trabalhando, era
fabricante de pólvora."
No Brasil, o relato de Staden só foi traduzido pela primeira vez em 1892. A publicação da primeira adaptação,
feita por Monteiro Lobato,
data de 1925. E é possível que
tenha influenciado Oswald
de Andrade, que em 1928 publicou seu "Manifesto Antropófago". Segundo relato do
poeta Raul Bopp, em "Movimentos Modernistas no Brasil: 1922/1928" (Ed. São José,
1966), o "velho Staden" e a
frase "Lá vem nossa comida
pulando", dita ao arcabuzeiro -ele punha pólvora em
arcabuzes- por tupinambás,
foram citados num jantar seminal para o modernismo,
onde estavam Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral.
Tarsila, porém, em depoimento, não cita o episódio.
"A versão de Bopp não foi
confirmada por Tarsila, se
bem que também não foi
desmentida. Fica difícil pesar o verdadeiro alcance da
influência que o livro possa
ter tido no movimento, até
porque, então, os modernistas tomam as coisas de modo
muito superficial, bastando
uma referência breve para
fundar uma posição polêmica", pondera Alcmeno Bastos, professor de literatura
brasileira na UFRJ, que publicou texto em seu site pessoal (www.alcmeno.com).
Não há dados exatos sobre
a morte de Staden. Não se sabe nem se ele morreu em
Marburgo. "Só há registro de
que a família do fabricante
de pólvora morreu devido à
peste negra", diz Kupfer.
"Nos arquivos de Marburgo há quatro documentos sobre Staden", conta Kupfer.
"São quatro cartas: duas delas pedem ajuda ao duque, a
terceira era uma fatura e a
quarta o acusava de ser mau
pagador", completa. Parece
que, embora tenha sobrevivido aos tupinambás, Staden
não escapou de ver seu nome
sujo na praça.
(MDV)
Só a Antropofagia nos une. Socialmente.
Economicamente. Filosoficamente. Única lei do
mundo
Trecho do "Manifesto Antropófago" (1928), de Oswald de Andrade
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