São Paulo, quinta-feira, 01 de maio de 2008

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PERFIL

Escritor escapou dos canibais, mas não dos credores

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Apesar de conhecermos as aventuras de Hans Staden no Brasil, narradas em livro por ele mesmo, pouco sabemos de sua vida. Os dados sobre sua família e seu cotidiano na Alemanha são escassos -e há desencontro em certas datas, como a de nascimento e a de morte (registradas como por volta de 1525 e de 1579, respectivamente).
Nascido em Homberg, em Hessen, na Alemanha, Staden foi soldado numa guerra no norte do país e ficou desempregado com o fim do combate, de acordo com Eckhard Kupfer, diretor do instituto Martius-Staden. Depois, teria resolvido se aventurar pelo Novo Mundo.
Quando voltou à Alemanha, depois da experiência entre os tupinambás, foi para Marburgo e publicou o relato. O livro fez sucesso, mas o autor não colheu os dividendos da publicação, já que na época não existiam direitos autorais. "O livro foi pirateado logo depois de lançado. Com certeza Staden não ficou rico", diz Kupfer. "Ele continuou trabalhando, era fabricante de pólvora."
No Brasil, o relato de Staden só foi traduzido pela primeira vez em 1892. A publicação da primeira adaptação, feita por Monteiro Lobato, data de 1925. E é possível que tenha influenciado Oswald de Andrade, que em 1928 publicou seu "Manifesto Antropófago". Segundo relato do poeta Raul Bopp, em "Movimentos Modernistas no Brasil: 1922/1928" (Ed. São José, 1966), o "velho Staden" e a frase "Lá vem nossa comida pulando", dita ao arcabuzeiro -ele punha pólvora em arcabuzes- por tupinambás, foram citados num jantar seminal para o modernismo, onde estavam Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral. Tarsila, porém, em depoimento, não cita o episódio.
"A versão de Bopp não foi confirmada por Tarsila, se bem que também não foi desmentida. Fica difícil pesar o verdadeiro alcance da influência que o livro possa ter tido no movimento, até porque, então, os modernistas tomam as coisas de modo muito superficial, bastando uma referência breve para fundar uma posição polêmica", pondera Alcmeno Bastos, professor de literatura brasileira na UFRJ, que publicou texto em seu site pessoal (www.alcmeno.com).
Não há dados exatos sobre a morte de Staden. Não se sabe nem se ele morreu em Marburgo. "Só há registro de que a família do fabricante de pólvora morreu devido à peste negra", diz Kupfer.
"Nos arquivos de Marburgo há quatro documentos sobre Staden", conta Kupfer. "São quatro cartas: duas delas pedem ajuda ao duque, a terceira era uma fatura e a quarta o acusava de ser mau pagador", completa. Parece que, embora tenha sobrevivido aos tupinambás, Staden não escapou de ver seu nome sujo na praça. (MDV)

Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. Única lei do mundo


Trecho do "Manifesto Antropófago" (1928), de Oswald de Andrade


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