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"TUPI OR NOT TUPI?"
Aves iguais às vistas por Staden ainda habitam o litoral
Em Itamambuca, 181 espécies de pássaros da mata atlântica foram fotografadas por Dimitri Matoszko
PRISCILA PASTRE-ROSSI
DA REDAÇÃO
Flagrados pelo fotógrafo brasileiro Dimitri Matoszko, 42, os
passarinhos nativos da mata
atlântica que posaram para esta
edição têm parentesco próximo com os que acompanharam
as idas e vindas do escritor, dublê de náufrago, aventureiro e
arcabuzeiro alemão Hans Staden, que por duas vezes esteve
em Terra Brasilis no século 16.
Nativos da mata atlântica,
eles foram fotografados nas
proximidades da praia de Itamambuca, na região de Ubatuba, início da região ocupada no
século 16 pelos índios tupinambás, que capturaram Staden
(leia mais na pág. 6).
São 181 as espécies pacientemente fotografadas ao longo de
dois anos por Matoszko, dono
do Itamambuca Eco Resort,
que fica no quilômetro 36 da
rodovia Rio-Santos, na praia
que dá nome ao hotel.
Esse fotógrafo não se define
exatamente como um observador de aves, mas como um curioso sobre a vida na natureza.
"Moro há quase 20 anos na região. Ter toda essa vida em volta, ficar rodeado dela, despertou em mim a vontade de conhecer como essa engrenagem
funciona", contou à reportagem. No mesmo dia, um tangará-dançarino, que sempre fugia
das suas lentes, pousou na janela do escritório, como quem
concede, naquele momento, o
"sim" para ser fotografado.
Conversar com Matoszko é
certeza de ouvir histórias, como a da vez em que ele viu um
pica-pau se deitar de bruços para cochilar. "Aconteceu num
feriado no ano passado, quando
eu caminhava para casa. Parei
para ver um pica-pau cavando
num tronco seco. Apurando o
olhar identifiquei o bichinho,
uma fêmea do benedito-de-testa-amarela. Ela estava construindo seu ninho. Minutos depois, o macho, com sua nuca vermelha, surgiu todo supimpa. Deu uma sapeada aqui, outra ali. Trabalhar que é bom,
nada. Num determinado momento, o bonitão ficou cansado. Como se tivesse batido uma
preguiça "pós-almoço", ele se
deitou de verdade, com o peito
apoiado, a cabeça virada de lado, a asa abraçando o galho. E
tudo com o maior estilo. Fiquei
pasmo! O pica-pau descansando e a fêmea trabalhando. Tive
a impressão de que escutei ele
reclamando: "Cadê a cerveja?'"
"Birdwatchers"
Em Ubatuba, o litoral recortado e repleto de enseadas, vegetação e ilhas permite a existência de uma vasta variedade
de espécies. Se hoje esse ecossistema atrai os "birdwatchers"
(observadores de pássaros, em
inglês), dá para imaginar o encantamento dos primeiros europeus que chegaram por ali.
O que devem ter pensado
quando se depararam, por
exemplo, com o falante papagaio? E com o tucano-de-bico-preto? Bem, o que pensaram
não se sabe, mas, conta Matoszko, o certo é que logo eles trataram de colocar o bicho no navio
-e mandá-lo para a Europa.
Para ele, Hans Staden viu as
mesmas aves que, um dia, o fotógrafo e hoteleiro pretende
reunir num livro. "Em 1511 foi
registrada a primeira exportação de tuins e papagaios para
Europa. Em seu livro, Staden
registrou a beleza de alguns
desses pássaros. Quem repararia nas aves quando se está
prestes a virar comida de índio?
Certamente, a exuberância delas marcou-o profundamente."
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