São Paulo, quinta-feira, 01 de maio de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"TUPI OR NOT TUPI?"

Aves iguais às vistas por Staden ainda habitam o litoral

Em Itamambuca, 181 espécies de pássaros da mata atlântica foram fotografadas por Dimitri Matoszko

PRISCILA PASTRE-ROSSI
DA REDAÇÃO

Flagrados pelo fotógrafo brasileiro Dimitri Matoszko, 42, os passarinhos nativos da mata atlântica que posaram para esta edição têm parentesco próximo com os que acompanharam as idas e vindas do escritor, dublê de náufrago, aventureiro e arcabuzeiro alemão Hans Staden, que por duas vezes esteve em Terra Brasilis no século 16.
Nativos da mata atlântica, eles foram fotografados nas proximidades da praia de Itamambuca, na região de Ubatuba, início da região ocupada no século 16 pelos índios tupinambás, que capturaram Staden (leia mais na pág. 6).
São 181 as espécies pacientemente fotografadas ao longo de dois anos por Matoszko, dono do Itamambuca Eco Resort, que fica no quilômetro 36 da rodovia Rio-Santos, na praia que dá nome ao hotel.
Esse fotógrafo não se define exatamente como um observador de aves, mas como um curioso sobre a vida na natureza. "Moro há quase 20 anos na região. Ter toda essa vida em volta, ficar rodeado dela, despertou em mim a vontade de conhecer como essa engrenagem funciona", contou à reportagem. No mesmo dia, um tangará-dançarino, que sempre fugia das suas lentes, pousou na janela do escritório, como quem concede, naquele momento, o "sim" para ser fotografado.
Conversar com Matoszko é certeza de ouvir histórias, como a da vez em que ele viu um pica-pau se deitar de bruços para cochilar. "Aconteceu num feriado no ano passado, quando eu caminhava para casa. Parei para ver um pica-pau cavando num tronco seco. Apurando o olhar identifiquei o bichinho, uma fêmea do benedito-de-testa-amarela. Ela estava construindo seu ninho. Minutos depois, o macho, com sua nuca vermelha, surgiu todo supimpa. Deu uma sapeada aqui, outra ali. Trabalhar que é bom, nada. Num determinado momento, o bonitão ficou cansado. Como se tivesse batido uma preguiça "pós-almoço", ele se deitou de verdade, com o peito apoiado, a cabeça virada de lado, a asa abraçando o galho. E tudo com o maior estilo. Fiquei pasmo! O pica-pau descansando e a fêmea trabalhando. Tive a impressão de que escutei ele reclamando: "Cadê a cerveja?'"

"Birdwatchers"
Em Ubatuba, o litoral recortado e repleto de enseadas, vegetação e ilhas permite a existência de uma vasta variedade de espécies. Se hoje esse ecossistema atrai os "birdwatchers" (observadores de pássaros, em inglês), dá para imaginar o encantamento dos primeiros europeus que chegaram por ali.
O que devem ter pensado quando se depararam, por exemplo, com o falante papagaio? E com o tucano-de-bico-preto? Bem, o que pensaram não se sabe, mas, conta Matoszko, o certo é que logo eles trataram de colocar o bicho no navio -e mandá-lo para a Europa.
Para ele, Hans Staden viu as mesmas aves que, um dia, o fotógrafo e hoteleiro pretende reunir num livro. "Em 1511 foi registrada a primeira exportação de tuins e papagaios para Europa. Em seu livro, Staden registrou a beleza de alguns desses pássaros. Quem repararia nas aves quando se está prestes a virar comida de índio? Certamente, a exuberância delas marcou-o profundamente."


Texto Anterior: Atores aprenderam tupi em seis meses para longa-metragem
Próximo Texto: Coleção: Folha lança dez Guias 10+ na próxima quinta-feira, dia 8
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.