DO ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

Buenos Aires cresceu inicialmente entre a praça de Maio, onde fica a Casa Rosada, sede do governo federal, e o bairro imigrante de La Boca, que por sua vez herdou o nome da localização, na boca Riachuelo -braço do rio da Prata que serviu de porto.
Depois da febre amarela, que em 1871 matou 400 pessoas por dia em seis meses, o presidente Sarmiento abriu as portas -e o porto- da capital aos imigrantes, muitos italianos e espanhóis.
Expressão desse tempo, o Caminito, calçadão de La Boca que foi ramal ferroviário, exibe casas operárias multicoloridas feitas de metal pelos primeiros imigrantes. Foi ali que a boemia deitou raízes e que o "lunfardo" (dialeto portenho) vicejou. Também o tango -que o escritor Jorge Luis Borges (1899-1986) julgava melancólico demais- nasceu em La Boca, antes de despontar para o estrelato no coro dos gêneros musicais.
Cantado principalmente por Carlos Gardel (1890-1935), o Caminito de hoje é um recanto turístico. Lembra pouco o tempo em que esse intérprete tirou o tango do bafon para levá-lo aos teatros elegantes do mundo.
O rei do tango tem a origem envolta em mistério. Enterrado no cemitério de Chacarita, Gardel morreu num acidente aéreo na Colômbia em 1935. Sabe-se que teve infância humilde: começou a cantar menino no mercado em que vendia jornais e cigarros.
Alguns biógrafos dizem que ele nasceu em 1890, outros, que veio à luz em 1897. Há ainda quem afirme que foi batizado Charles Romuald Gardés, em Toulouse (França). Mas é quase certo que Carlos Gardel, que beijou a sarjeta com voz de sublime, seja de Tacuarembó (Uruguai).
Voltando a La Boca, reserve um par de horas para passear por entre os pitorescos murais de cimento e de cerâmica que emolduram a feirinha de artesanato. (SC)


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