São Paulo, segunda-feira, 01 de julho de 2002

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Protestos políticos são apenas temas das obras expostas no museu de arte latino-americana

No Malba, "Manifestação" fica na parede

DO ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

Há poucos metros, muros amanhecem pichados: "Basta de realidad, queremos promesas". Mas dentro do Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, o Malba, aberto na virada do ano para abrigar obras como o clássico "Manifestação", óleo mais do que atual em que Antonio Berni retratou uma passeata, ainda na década de 30, a crise argentina não é mais do que tema de manifestação artística.
Em termos de acervo, o Malba (site www.malba.org.ar; e-mail info@malba.org.ar), cuja entrada custa 4 pesos (aproximadamente US$ 1), nasceu rico, muito rico, e abriga a coleção que o financista argentino Eduardo Costantini, 54, amealhou nas últimas décadas.
E que coleção: considerado um dos melhores museus de arte moderna latino-americana no mundo, exibe -num local em que arrojado rima com despojado-, o "Abaporu" (1928), uma das obras-símbolo da fase modernista brasileira, pintado pela artista Tarsila do Amaral (1886-1973) quando a antropofagia era, no Brasil, um sinônimo de manifestação cultural de vanguarda.
Localizado na avenida Figueroa Alcorta, 3.415, esquina com San Martín de Tours, o prédio é revestido de mármore claro, ocupa vários planos e tem uma arquitetura que gera desníveis -e salas de pé-direito generoso.
O Malba é ainda interligado por rampas e escadas rolantes e tem boa iluminação. Em algumas salas, notadamente na de esculturas, frestas verticais permitem a incidência de luz natural.
Existem igualmente obras de expoentes da arte moderna de países como o Uruguai, o México e a Colômbia.

O Prata
Controlador do grupo Consultatio, Eduardo Costantini iniciou-se no mundo das artes plásticas adquirindo obras de artistas argentinos e uruguaios.
Amealhou obras significativas de tudo aquilo que se fez nos anos 20 e 30, com destaque para as produzidas por artistas como Antonio Berni, Joaquín Torres-García, Alejandro Xul-Solar, Pedro Figari, Juan Battle Planas e Emilio Pettoruti.
Depois, resolveu ampliar as fronteiras de sua coleção, voltando seu olhar para as obras de artistas brasileiros, como Di Cavalcanti (1897-1976), mexicanos, cubanos e chilenos, especialmente das décadas de 20, 30 e 40.
Para ter na coleção o "Abaporu", já citado, Costantini desembolsou US$ 1,4 milhão há cerca de cinco anos. Já "Mulheres com Frutas" (1932), de Cândido Portinari (1903-1962), lhe custou a quantia de US$ 650 mil.
Com 130 obras de mais de 30 diferentes países, o Malba teve o mérito de finalmente reunir em Buenos Aires uma coleção que vagava pelo mundo -e que já esteve inclusive em exposição no Museu de Arte Moderna (MAM), de São Paulo, em 1998.

Relíquias
Museu arejado no sentido conceitual e arquitetônico do termo, o Malba tem preciosidades como um auto-retrato de Frida Kahlo (1907-1954), pintado em 1942, que custou nada menos que US$ 3,2 milhões. Nele a renomada artista mexicana aparece, com suas sobrancelhas espessas, ao lado de um papagaio e de um macaco.
Exibe ainda um painel, que não tem preço, do pintor colombiano Fernando Botero: em cores vibrantes, personagens rechonchudas de uma família fazem a festa, em meio à algazarra das crianças -e ao buço da mãe que, comicamente, é muito parecido com o bigodão do pai.
(SILVIO CIOFFI)


Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (Malba) - Tel. local: 54/ 11/4898-6598. Entrada: 4 pesos; não cobra entrada aos sábados, domingos e feriados, quando funciona das 12h às 20h. Também funciona às segundas, quintas e sextas das 12h às 20h; já às quartas, funciona até as 21h; o museu não é aberto às terças. Informe-se sobre os ciclos de cinema no site www.malbacine.com. Encontros literários têm programação divulgada por meio do e-mail literatura@malba.org.ar.


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