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Protestos políticos são apenas temas das obras expostas no museu de arte latino-americana
No Malba, "Manifestação" fica na parede
DO ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES
Há poucos metros, muros amanhecem pichados: "Basta de realidad, queremos promesas". Mas
dentro do Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, o
Malba, aberto na virada do ano
para abrigar obras como o clássico "Manifestação", óleo mais do
que atual em que Antonio Berni
retratou uma passeata, ainda na
década de 30, a crise argentina
não é mais do que tema de manifestação artística.
Em termos de acervo, o Malba
(site www.malba.org.ar; e-mail
info@malba.org.ar), cuja entrada
custa 4 pesos (aproximadamente
US$ 1), nasceu rico, muito rico, e
abriga a coleção que o financista
argentino Eduardo Costantini, 54,
amealhou nas últimas décadas.
E que coleção: considerado um
dos melhores museus de arte moderna latino-americana no mundo, exibe -num local em que arrojado rima com despojado-, o
"Abaporu" (1928), uma das
obras-símbolo da fase modernista brasileira, pintado pela artista
Tarsila do Amaral (1886-1973)
quando a antropofagia era, no
Brasil, um sinônimo de manifestação cultural de vanguarda.
Localizado na avenida Figueroa
Alcorta, 3.415, esquina com San
Martín de Tours, o prédio é revestido de mármore claro, ocupa vários planos e tem uma arquitetura
que gera desníveis -e salas de
pé-direito generoso.
O Malba é ainda interligado por
rampas e escadas rolantes e tem
boa iluminação. Em algumas salas, notadamente na de esculturas, frestas verticais permitem a
incidência de luz natural.
Existem igualmente obras de
expoentes da arte moderna de
países como o Uruguai, o México
e a Colômbia.
O Prata
Controlador do grupo Consultatio, Eduardo Costantini iniciou-se no mundo das artes plásticas
adquirindo obras de artistas argentinos e uruguaios.
Amealhou obras significativas
de tudo aquilo que se fez nos anos
20 e 30, com destaque para as produzidas por artistas como Antonio Berni, Joaquín Torres-García,
Alejandro Xul-Solar, Pedro Figari, Juan Battle Planas e Emilio Pettoruti.
Depois, resolveu ampliar as
fronteiras de sua coleção, voltando seu olhar para as obras de artistas brasileiros, como Di Cavalcanti (1897-1976), mexicanos, cubanos e chilenos, especialmente
das décadas de 20, 30 e 40.
Para ter na coleção o "Abaporu", já citado, Costantini desembolsou US$ 1,4 milhão há cerca de
cinco anos. Já "Mulheres com
Frutas" (1932), de Cândido Portinari (1903-1962), lhe custou a
quantia de US$ 650 mil.
Com 130 obras de mais de 30 diferentes países, o Malba teve o
mérito de finalmente reunir em
Buenos Aires uma coleção que vagava pelo mundo -e que já esteve inclusive em exposição no Museu de Arte Moderna (MAM), de
São Paulo, em 1998.
Relíquias
Museu arejado no sentido conceitual e arquitetônico do termo,
o Malba tem preciosidades como
um auto-retrato de Frida Kahlo
(1907-1954), pintado em 1942, que
custou nada menos que US$ 3,2
milhões. Nele a renomada artista
mexicana aparece, com suas sobrancelhas espessas, ao lado de
um papagaio e de um macaco.
Exibe ainda um painel, que não
tem preço, do pintor colombiano
Fernando Botero: em cores vibrantes, personagens rechonchudas de uma família fazem a festa,
em meio à algazarra das crianças
-e ao buço da mãe que, comicamente, é muito parecido com o
bigodão do pai.
(SILVIO CIOFFI)
Museu de Arte Latino-Americana de
Buenos Aires (Malba) - Tel. local: 54/
11/4898-6598. Entrada: 4 pesos; não cobra entrada aos sábados, domingos e feriados, quando funciona das 12h às 20h.
Também funciona às segundas, quintas
e sextas das 12h às 20h; já às quartas,
funciona até as 21h; o museu não é aberto às terças. Informe-se sobre os ciclos de
cinema no site www.malbacine.com.
Encontros literários têm programação
divulgada por meio do e-mail
literatura@malba.org.ar.
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