São Paulo, quinta-feira, 02 de abril de 2009

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ÁFRICA DO ALTO

Região de diamantes preserva natureza

Área diamantífera, Sperrgebiet tem espécies endógenas, adaptadas às condições inóspitas do deserto foi tomada pela areia

MARINA DELLA VALLE
DA REPORTAGEM LOCAL

A Namíbia está no 129º lugar na lista do IDH (índice do desenvolvimento humano), num total de 179 países, e a expectativa de vida da população é de apenas 51 anos. Mas foram as riquezas do país que deixaram sua marca no imaginário popular, sejam elas minerais, biológicas ou mesmo a mais acessível aos turistas, a fartura de cenários únicos.
As paisagens atraem produções de cinema mesmo quando o filme não se passa na Namíbia, como "O Voo da Fênix" ("Flight of the Phoenix", 2004), com Dennis Quaid, situado na Mongólia. Angelina Jolie, que conheceu o país nas filmagens de "Amor sem Fronteiras" ("Beyond Borders", 2003) -que se passa, entre outros locais, na Etiópia- , escolheu Swakopmund, na costa namibiana, para dar à luz sua primeira filha biológica, Shiloh.
A natureza peculiar, rica e extrema, tornou o país um velho conhecido de fãs de documentários sobre a vida selvagem. A Namíbia tem várias espécies endêmicas que se adaptaram ao território inóspito.
Mas foi uma riqueza no sentido mais material da palavra que atraiu a atenção do mundo para a região há mais de um século: as jazidas de diamante no sul do deserto da Namíbia.
Durante a febre dos diamantes na África, na virada do século 20, o país ficou conhecido como o local onde era possível encontrar diamantes sobre a areia. Em 1908, 26.000 km 2 foram declarados território proibido -em alemão, Sperrgebiet-, e a exploração de diamantes teve início.
A história da faixa costeira de deserto onde os diamantes eram coletados na areia inspirou desde nativos, que arriscavam a vida atrás das pedras, até o autor de best-sellers Sidney Sheldon, que a utilizou em "O Reverso da Medalha" ("Master of the Game", 1982), um de seus livros mais conhecidos.
Atualmente, a Namíbia é responsável por 6% da produção mundial de diamantes; o setor corresponde a 8% do PIB e a 40% da receita cambial do país. A exploração de diamantes no Sperrgebiet é controlada pela Namdeb, sociedade entre o governo da Namíbia e a De Beers, gigante do ramo que teve o domínio total da área dos anos 1920 até 1994.
As jazidas em terra, no entanto, começaram a se esgotar. "Os diamantes foram trazidos pelos rios. Com a região hoje já erodida, eles se esgotam", diz Vicente Costa, geólogo da Gerência de Recursos Minerais da superintendência de São Paulo do Serviço Geológico do Brasil (www.cprm.gov.br).
O Sperrgebiet foi declarado parque nacional em 2004 e abriga diversas espécies únicas, como liquens que estocam a umidade da névoa. A entrada na região continua restrita, e turistas precisam de uma permissão que pode levar até duas semanas para ser expedida. As permissões podem ser obtidas com agências de turismo que operam tours na região, como a Coastway Tours (www.coastways.com.na). O acesso é feito exclusivamente por Lüderitz, de onde partem os tours. A 10 km dali fica Kolmankop, o primeiro município de mineração do país, hoje uma cidade-fantasma de prédios imponentes tomados pela areia.
Mais de cem anos de circulação restrita tornaram o Sperrgebiet uma das áreas mais intocadas pelo homem, um verdadeiro tesouro para estudiosos e turistas. A diversidade é tanta que existem espécies exclusivas de uma só montanha.



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