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ÁFRICA DO ALTO
Região de diamantes preserva natureza
Área diamantífera, Sperrgebiet tem espécies endógenas, adaptadas às condições inóspitas do deserto foi tomada pela areia
MARINA DELLA VALLE
DA REPORTAGEM LOCAL
A Namíbia está no 129º lugar
na lista do IDH (índice do desenvolvimento humano), num
total de 179 países, e a expectativa de vida da população é de
apenas 51 anos. Mas foram as
riquezas do país que deixaram
sua marca no imaginário popular, sejam elas minerais, biológicas ou mesmo a mais acessível aos turistas, a fartura de cenários únicos.
As paisagens atraem produções de cinema mesmo quando
o filme não se passa na Namíbia, como "O Voo da Fênix"
("Flight of the Phoenix",
2004), com Dennis Quaid, situado na Mongólia. Angelina
Jolie, que conheceu o país nas
filmagens de "Amor sem Fronteiras" ("Beyond Borders",
2003) -que se passa, entre outros locais, na Etiópia- , escolheu Swakopmund, na costa
namibiana, para dar à luz sua
primeira filha biológica, Shiloh.
A natureza peculiar, rica e
extrema, tornou o país um velho conhecido de fãs de documentários sobre a vida selvagem. A Namíbia tem várias espécies endêmicas que se adaptaram ao território inóspito.
Mas foi uma riqueza no sentido mais material da palavra
que atraiu a atenção do mundo
para a região há mais de um século: as jazidas de diamante no
sul do deserto da Namíbia.
Durante a febre dos diamantes na África, na virada do século 20, o país ficou conhecido
como o local onde era possível
encontrar diamantes sobre a
areia. Em 1908, 26.000 km 2 foram declarados território proibido -em alemão, Sperrgebiet-, e a exploração de diamantes teve início.
A história da faixa costeira
de deserto onde os diamantes
eram coletados na areia inspirou desde nativos, que arriscavam a vida atrás das pedras, até
o autor de best-sellers Sidney
Sheldon, que a utilizou em "O
Reverso da Medalha" ("Master
of the Game", 1982), um de
seus livros mais conhecidos.
Atualmente, a Namíbia é
responsável por 6% da produção mundial de diamantes; o
setor corresponde a 8% do PIB
e a 40% da receita cambial do
país. A exploração de diamantes no Sperrgebiet é controlada
pela Namdeb, sociedade entre
o governo da Namíbia e a De
Beers, gigante do ramo que teve o domínio total da área dos
anos 1920 até 1994.
As jazidas em terra, no entanto, começaram a se esgotar.
"Os diamantes foram trazidos
pelos rios. Com a região hoje já
erodida, eles se esgotam", diz
Vicente Costa, geólogo da Gerência de Recursos Minerais
da superintendência de São
Paulo do Serviço Geológico do
Brasil (www.cprm.gov.br).
O Sperrgebiet foi declarado
parque nacional em 2004 e
abriga diversas espécies únicas, como liquens que estocam
a umidade da névoa. A entrada
na região continua restrita, e
turistas precisam de uma permissão que pode levar até duas
semanas para ser expedida. As
permissões podem ser obtidas
com agências de turismo que
operam tours na região, como
a Coastway Tours (www.coastways.com.na). O acesso é feito exclusivamente por Lüderitz, de onde partem os tours. A
10 km dali fica Kolmankop, o
primeiro município de mineração do país, hoje uma cidade-fantasma de prédios imponentes tomados pela areia.
Mais de cem anos de circulação restrita tornaram o Sperrgebiet uma das áreas mais intocadas pelo homem, um verdadeiro tesouro para estudiosos e turistas. A diversidade é
tanta que existem espécies exclusivas de uma só montanha.
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