São Paulo, segunda-feira, 02 de agosto de 2004

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59 KM DE SP

Feita de serragem, peça reveste chão para receber santo padroeiro

Tapete orna ruas de São Roque no dia 16 deste mês

MARGARETE MAGALHÃES
ENVIADA ESPECIAL A SÃO ROQUE (SP)

Em duas semanas, tapetes coloridos com desenhos multiformes ornarão as ruas de São Roque, à espera da passagem da procissão em homenagem ao santo padroeiro da cidade. Tradição originária de países católicos da Europa, é comum ver esse tipo de trabalho feito de serragem tingida na comemoração do Corpus Christi. Mas nesta cidade paulista a 59 km da capital, a peça de 2.000 metros vem à cena "fora de época", sempre no dia 16 de agosto, que neste ano cai numa segunda-feira.
Tomam-se dez dias de labuta de dez voluntários para dar cor a 800 sacos de serragem, totalizando 16 mil quilos do material. Em 16 de agosto, são necessárias cinco horas de trabalho e a ajuda de 500 pessoas para fazer das vias de São Roque um tapete colorido. E apenas uma hora para que os cerca de 200 devotos que carregam o andor -tablado de madeira com o santo- cumpram o circuito, cujo ponto de saída e de chegada é a igreja matriz, no centro da cidade, pisando sobre o ornamento.
"Você se sente realizado quando vê o tapete destruído", conta José Carlos Dias Bastos, 71, conhecido por Zé do Nino, um dos criadores do tapete, que é uma tradição são-roquense há 29 anos.
Fiéis ou simples apreciadores de festas tradicionais, o evento reúne cerca de 80 mil pessoas no município de 70 mil habitantes.
Vale chegar cedo. Às 7h da manhã, é hora de acompanhar a confecção dos tapetes. Quinze moldes em madeira prontos para receber a serragem dão o contorno da criação previamente concebida sob a forma de flores, figuras geométricas ou bandeirinhas de Volpi. Uma surpresa a cada ano.
De joelhos, as crianças, aprendizes, são o grupo que mais se diverte na expectativa de deixar o tapete pronto. Mesmo durante a montagem, moradores e visitantes vão ladeando as peças, que até o meio-dia devem estar tinindo, e tecendo comentários sobre a mais bela. Neste ano, haverá músicos nas principais esquinas por onde se esticam os tapetes.
Às 17h, silêncio para a saída da procissão da igreja. A imagem de são Roque é carregada sobre o andor enfeitado de flores amarelas.
"Parece que o santo flutua", comenta Bastos. Uma hora depois, com todos os sinos tocando, devotos louvam o santo padroeiro, que volta à igreja, e recebem a bênção do bispo na presença dos festeiros e párocos da região.
A Festa de Agosto, como é conhecida na cidade, não se restringe ao dia 16 de agosto. Desde o sábado passado, está montada uma quermesse ao redor da praça principal, com barracas de pastel, churrasco, pizza e quentão.
Neste domingo, Dia dos Pais, para resgatar as "coisas boas do passado", como diz o festeiro Roberto Godinho, 52, uma das quatro pessoas que a cada ano têm a missão de dar os rumos às festividades, quem visitar a cidade poderá ver são-roquenses proseando na rua com as cadeiras postas para fora da casa, bem ao estilo interiorano de antanho.


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